Com a recente aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso da vacina Pfizer/BioNTech em crianças a partir de 12 anos no Brasil, além dos estudos de outros imunizantes contra a Covid-19 em tramitação pelo mundo, o debate em torno da imunização do grupo pediátrico tem ocasionado diversas dúvidas na população.
De acordo com a pediatra Vanuza Chagas, a futura extensão das vacinas para os mais jovens gerará um saldo positivo no controle da pandemia. “Nós temos uma faixa etária grande de adolescentes no mundo todo e, por ser uma doença nova, a cada hora se vê a necessidade do maior número de pessoas imunizadas para se adquirir a imunidade de rebanho”.
Etapas
O Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) esclarece que essa vacinação depende da divulgação de testes realizados nesse grupo específico. “Os testes nesses grupos são necessários para definir a dosagem correta, além da segurança e eficácia”.
“A vacina só poderá ser administrada após comprovação e eficácia dos estudos [em crianças e adolescentes]. Neste sentido, prevalecem as medidas de distanciamento social, higienização correta das mãos e uso de máscaras” - IFF/Fiocruz
Segundo o infectologista pediátrico Robério Leite, no caso da vacinação contra a Covid-19, na maioria dos estudos, as crianças são inseridas depois dos adultos, para atender quesitos de segurança, principalmente, e de eficácia, que pode variar conforme a faixa etária.
A princípio, os estudos apontam que as crianças estão mostrando uma resposta imunológica mais robusta do que nos adultos. É uma boa notícia”
O especialista projeta que os estudos de vacinação na faixa pediátrica finalizem no ano que vem. Com os resultados, “provavelmente, para o controle da pandemia, seja necessário vacinação dessas crianças, embora elas tenham a doença mais leve, é preciso devido à transmissão”.
Com a vacinação pediátrica aprovada, o médico pontua que as crianças com comorbidade devem ter prioridade em relação à vacinação, quando for permitido para a respectiva faixa etária.
Liberação das vacinas
Pfizer/BioNTech
A vacina contra a Covid-19 da farmacêutica americana Pfizer, em parceria com o laboratório alemão BioNTech, foi autorizada pela Anvisa, nesta sexta-feira (10), para crianças a partir de 12 anos de idade por meio da Resolução Nº 2.324, publicada no Diário Oficial da União.
Oxford/AstraZeneca
Segundo informações da bula da vacina AstraZeneca, “não há dados atualmente disponíveis sobre o uso da vacina Covid-19 (recombinante) em crianças e adolescentes menores que 18 anos de idade”.
CoronaVac
A vacina CoronaVac, fabricada nacionalmente pelo Instituto Butantan, é direcionada a pessoas com 18 anos ou mais no Brasil. No entanto, em recente estudo do imunizante, a China já aprovou o uso dele para crianças a partir de três anos de idade.
Janssen
A vacina da Janssen, fabricada pelo grupo Johnson & Johnson, ainda não chegou ao Brasil, mas, de acordo com a bula do imunizante, “atualmente não existe informação suficiente disponível sobre a utilização em crianças e adolescentes com menos de 18 anos de idade”.
Sputnik V
De acordo com estudo da vacina Sputnik V, publicado na revista científica The Lancet, é necessário investigar mais a fundo a vacina em adolescentes e crianças.
Covid-19 em crianças
Segundo a especialista Vanuza Chagas, o vírus da Sars-Cov-2, na maioria das vezes, não gera muitas complicações ao atingir crianças. No entanto, algumas delas - com fatores de risco - podem evoluir para formas críticas da doença, necessitando de internamento em unidades de terapia intensiva (UTI) e podendo vir a óbito.
Além disso, há o alerta na faixa etária pediátrica à Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIMP), desenvolvida após a infecção da criança com o coronavírus, mesmo que de forma assintomática, e, apesar de a SIMP acometer um número pequeno de pessoas, esse tipo de complicação é perigosa.
De duas a seis semanas [depois da Covid-19], [o paciente] desenvolve uma inflamação generalizada, causando uma vasculite - inflamação nos vasos sanguíneos -, [além do] comprometimento cardíaco, de fígado, de rim... então, assim, um comprometimento realmente de todos os órgãos”
No cenário atual, Chagas detalha que o uso de máscaras em crianças menores de três anos não é recomendado pelo desconforto, pelo risco de sufocamento e pelo próprio risco de contaminação, “porque é um paciente que não compreende a importância de não tocar na máscara”.
“Aqui no nosso Estado, o decreto governamental exige o uso da máscara a partir dos três anos de idade, que é quando, na prática, a gente vê que os pais conseguem, de forma lúdica, expressar a importância delas se protegerem contra o coronavírus… é uma faixa etária que já pode ter alguma consciência dos riscos da doença”, continua.