Mortes por doenças cardiovasculares no Ceará voltam a superar as de Covid-19 após 5 meses

O Dia Mundial do Coração é celebrado nesta quarta-feira (29), no intuito de conscientizar a população sobre a importância de prevenir os problemas cardiovasculares

Após cinco meses, as mortes por doenças cardiovasculares voltam a superar aquelas causadas pela Covid-19, no Ceará. De 1º de julho a 28 de setembro deste ano, período de diminuição das infecções virais após a segunda onda da pandemia, o Estado já acumula 1,7 mil óbitos cardiovasculares a mais do que pelo coronavírus. O cenário serve de alerta neste Dia Mundial do Coração, lembrado nesta quarta-feira (29).

Os dados, tabulados pelo Diário do Nordeste, são do portal da transparência do Registro Civil, mantido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), a partir das declarações de óbitos enviadas aos cartórios. A contagem considera apenas uma causa de morte para cada documento.

Entre os acometimentos cardiovasculares no período analisado, a maior causa de óbitos foi o acidente vascular cerebral (AVC), com 1.008 ocorrências. Em seguida, estão as causas cardiovasculares inespecíficas (748) e o infarto (657), somando 2.411 mortes. No mesmo período, o Sars-Cov-2 ocasionou 690 óbitos.

Médicos lembram que, durante os meses mais graves de pandemia, muitas pessoas deixaram de fazer o acompanhamento de doenças cardíacas por medo de ir às unidades de saúde. Sem cuidados mais atentos, ficaram mais propensas a complicações.

Prova disso é que, no acumulado de janeiro a setembro de 2021, houve 8.121 óbitos por doenças cardiovasculares, conforme a Arpen. O número é cerca de 20% maior que os 6.754 registrados em 2020 e os 6.789 de 2019.

PRINCIPAL CAUSA DE MORTE NO MUNDO

De acordo com o cardiologista, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro titular da Academia Cearense de Medicina, Ricardo Pereira Silva, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte ao redor do mundo. 

Na conjuntura, “a gente não está se referindo somente às doenças do coração, a gente inclui também o acidente vascular cerebral (AVC), que é uma doença neurológica”.

“A gente poderia agrupar as doenças cardiovasculares em grupos. Temos as doenças coronárias, as doenças valvares, as miocardites e as cardiopatias congênitas. Além dessas, há outros dois grupos, que afetam o coração com tamanha frequência, que poderiam também ser colocados como doenças cardíacas: a pressão alta e a hipertensão arterial pulmonar”, detalha o especialista.

300 mil 
pessoas sofrem infarto agudo do miocárdio (IAM) a cada ano, segundo o Ministério da Saúde. Cerca de 30% dos casos são fatais. Até 2040, a estimativa é de que haverá aumento de até 250% desses eventos no país.

O Dia Mundial do Coração foi criado para conscientizar a população sobre a importância de prevenir os problemas cardiovasculares através da modificação do estilo de vida, a fim de promover hábitos mais saudáveis de alimentação, exercícios e lazer.

MOTIVOS E CUIDADOS

Os motivos que podem ocasionar as enfermidades são diversos, conforme Ricardo Pereira. No caso da cardiopatia congênita, por exemplo, “há maior probabilidade de uma criança nascer com defeito cardíaco se alguém na família já nasceu com esse problema; se a gestante teve alguma infecção na gestação - principalmente rubéola -; ou se a gestante sofreu algum tipo de radiação a probabilidade é maior”.

Para evitar as doenças cardiovasculares, especialmente as doenças coronarianas, o médico explica que é importante manter o cuidado e a atenção aos fatores de risco, como hipertensão, diabetes, colesterol alto, obesidade, estresse, sedentarismo e tabagismo.

Ter uma boa dieta, com pouca gordura saturada e evitando o consumo excessivo de álcool, também pode ajudar a diminuir os riscos.

“A alimentação saudável tem que ser ensinada às crianças, porque é difícil depois você querer mudar o padrão alimentar da pessoa. Então desde cedo tem que educar as crianças com uma alimentação saudável”, continua.

VIGILÂNCIA CONSTANTE

Além disso, durante a infância é necessário manter uma periodicidade das consultas pediátricas, a fim de sempre medir a pressão arterial. No caso dos adultos saudáveis, ela também deve ser medida pelo menos uma vez ao ano, finaliza o cardiologista.

A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) orienta que principalmente pessoas com diabetes e hipertensão devem manter sob controle as taxas da pressão arterial, glicemia, circunferência abdominal e peso, para evitar os agravos de saúde mencionados.