Mortes por Covid e síndrome respiratória fora de UTIs crescem 8 vezes entre janeiro e março no Ceará

Número saltou de 198, no primeiro mês do ano, para 1.660 vítimas, ao fim de março

Óbitos de pacientes fora de leitos de UTI, por Covid ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) sem causa especificada, atingiram, em 2021, a maior soma da segunda onda pandêmica no Ceará. Em janeiro, foram 198 registros, saltando para 1.660 em março, oito vezes mais.

Os dados são do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep Gripe), do Ministério da Saúde, e foram tabulados pelo Lagom Data, um estúdio de inteligência de dados.

Para o levantamento, aponta o Lagom, foram considerados pacientes diagnosticados com Covid ou SRAG de causa não definida e que apresentaram febre associada a tosse, dor de garganta, desconforto respiratório, falta de ar, saturação baixa de oxigênio ou perda de olfato/paladar, quadro típico de infecções por coronavírus.

Neste ano, 4.529 pacientes morreram em hospitais do Ceará por Covid ou SRAG sem agente causador identificado. Do total, 2.655 (59%) estavam em internados em UTIs e 1.834 (41%) estavam fora dessas unidades. As 40 mortes restantes não tiveram leito informado.

Em janeiro, 598 pacientes perderam a vida por coronavírus ou síndrome respiratória aguda, 400 deles em leitos de UTI e 198 fora desses leitos. Em fevereiro, foram 1.049 mortes nas unidades de saúde, das quais 636 dentro e 413 fora das vagas de tratamento intensivo.

Já o mês de março teve salto considerável nos registros: dos 2.413 cearenses que morreram por essas causas em hospitais do Estado, 1.364 estavam internados em UTIs, e os 1.049 restantes não estavam.

Em todo o levantamento, aliás, março de 2021 foi o pior mês em quantidade de óbitos por essas causas em unidades de saúde cearenses, ficando atrás apenas de maio de 2020, que registrou 3.346 mortes entre os dias 3 e 31 – 1.860 delas de pacientes fora de UTIs.

No gráfico abaixo, selecione "CE" no filtro para visualizar os dados locais.

Rede de assistência sufocada

Para Luciano Pamplona, epidemiologista e doutor em Ciências Médicas, o principal fator possível para o aumento desses óbitos é a falta de acesso do paciente a leitos de UTI “no momento oportuno”.

Mesmo com a taxa de ocupação de leitos de UTI em torno de 95%, há uma fila muito grande de pessoas aguardando por uma vaga. Elas morrem aguardando atendimento ou leito de UTI.
Luciano Pamplona
epidemiologista

O especialista descarta que a evolução rápida da doença, com agravamento súbito do quadro de saúde dos pacientes, seja um fator determinante no crescimento das estatísticas. “O manejo da doença está mais claro no sistema de saúde como um todo, os profissionais aprenderam a lidar e prever o agravamento”, avalia.

Por outro lado, Pamplona alerta sobre a importância de manter atenção quanto a sintomas importantes e não ter medo de procurar atendimento médico quando necessário.

“É necessário lembrar que temos não só Covid circulando, mas outras doenças respiratórias, como influenza. É fundamental que qualquer pessoa de qualquer idade que apresentar sintoma respiratório e febre não tenha medo, busque atendimento médico”, recomenda o epidemiologista.