Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) alertaram para a possibilidade de uma nova cepa do coronavírus estar circulando em Belo Horizonte. O alerta foi feito após o grupo analisar amostras clínicas coletadas na região metropolitana da cidade e perceber dois novos genomas do vírus com 18 mutações desconhecidas. Com novas cepas do coronavírus surgindo, dúvidas surgem sobre as diferenças entre elas e o que significa para o cenário da pandemia a circulação das variantes.
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), quanto mais um vírus circula entre uma população, mais é provável que ele sofra mutações. Por se replicar incontáveis vezes, as mudanças acontecem naturalmente. Devido a ter ácido ribonucleico (RNA em inglês) como seu material genético, o coronavírus é ainda mais suscetível a mutações.
Conforme a Fundação, as cepas são classificadas em linhagens quando compartilham um ancestral comum e apresentam mutações semelhantes. A prevalência de certas linhagens do vírus em um território, como no Brasil, é constantemente estudada por cientistas por meio do sequenciamento genético de amostras.
Pesquisadores já encontraram milhares de variantes do Sars-Cov-2 ao estudar suas linhagens e mutações. No entanto, algumas variações genéticas do coronavírus são consideradas mais preocupantes, como as que surgiram na África do Sul, no Reino Unido e no Amazonas, no Brasil.
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Elas recebem mais atenção porque algumas mutações do vírus permitiram que linhagens mais transmissíveis aumentassem a incidência da doença, agravando a segunda onda de contágio e fazendo mais pressão nas redes hospitalares devido ao alto número de doentes.
Segundo a epidemiologista e virologista cearense Caroline Gurgel, é o que ocorre no Brasil, com a variante P1 sendo responsável pela alta transmissibilidade e, consequentemente, pela segunda onda no país. “As pessoas infectadas têm uma carga viral muito elevada. O processo inflamatório é muito mais intenso do que o gerado pela cepa original e é bem mais mortal, pois foge do sistema imunológico”.
Mesmo assim, conforme a virologista, “não tem como definir” as manifestações clínicas causadas pelas variantes. “Os sintomas são muito parecidos e qualquer uma delas pode causar um quadro assintomático ou culminar no número de óbitos”, cita.
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“Celeiro de variantes”
A especialista define que o Brasil se tornou um “celeiro de variantes”. “Isso acontece porque não estamos conseguindo manter o isolamento social adequado. A gente tem todos os ingredientes possibilitando o surgimento de mais variantes no território, fazendo com que a gente tenha probabilidade de terceira, quarta onda, pois as variantes disputam hospedeiros, enquanto não chegar vacina para todos”, explica.
Três variantes do coronavírus geram alerta no mundo, atualmente
Variante do Reino Unido
A variante VOC 202012/01 foi notificada pelo Reino Unido à Organização Mundial da Saúde em dezembro de 2020. De acordo com a OMS, essa variante foi responsável por uma maior transmissibilidade do vírus no local de origem. Apesar de causar pressão no sistema de saúde e aumento da incidência do vírus, ainda não há evidências que a variante cause mais óbitos do que as outras.
Variante da África do Sul
A variante 501Y.V2 foi notificada pela África do Sul também em dezembro. A disseminação dessa variante já foi notificada em mais de 30 países. Ela também apresenta maior transmissibilidade, mas ainda não há estudos suficientes para entender se a severidade sofre alteração.
Variante do Brasil
Em janeiro, a variante VOC P.1 foi identificada e notificada pelo Brasil à OMS. As mutações na proteína spike geraram alterações importantes no vírus. De acordo com o Ministério da Saúde, o aumento rápido e expressivo de casos e óbitos em Manaus, no Amazonas, onde a variante foi encontrada, gera a hipótese de que ela tenha maior infectividade.