Desde 2005, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é usado no Brasil como um indicador de qualidade. Em 2007, entraram em vigor metas a serem alcançadas, a cada dois anos até 2021, por estudantes de cada escola, por municípios e por estados, em três níveis: anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º), anos finais (6º ao 9º) e ensino médio. Desde então, alunos do 1º ao 9º ano das redes pública e privada, juntas, do Ceará têm superado todas as metas do Ideb - uma somatória do nível de aprendizagem em português e matemática às taxas de aprovação. Com isso, o desempenho dos alunos do Ceará do 1° ao 9° ano está acima da média nacional.
Em 2019, conforme divulgado, ontem, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Estado manteve o bom desempenho nesta etapa. Prova disso é que nove das 10 escolas com índices mais altos do Brasil nos anos iniciais do EF são do Ceará. Contudo, os efeitos da pandemia a serem sentidos no Ideb 2021 preocupam os profissionais da educação.
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O Ideb é calculado equilibrando a taxa de aprovação dos estudantes com o desempenho deles em português e matemática, mensurado pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Como resultado do cálculo, é obtido um valor que vai de 0 a 10. Cada estado, município e escola têm metas diferentes estabelecidas. Essas taxas foram fixadas em 2007 a partir da referência da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), conforme os resultados Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).
Os anos iniciais do ensino fundamental no Brasil são a etapa na qual os estados mais conseguem cumprir as metas do Ideb. Assim como Ceará, no decorrer destes últimos 12 anos, outras 21 unidades da federação vêm alcançando e superando continuamente as taxas esperadas para os alunos do 1º ao 5º ano. Mas, na etapa seguinte, entre os estudantes de 6º ao 9º ano, a preservação do bom desempenho se torna mais restrita. Nesta etapa, diferentemente da maioria dos estados, o Ceará tem, a cada 2 anos, aumentado progressivamente os índices alcançados.
Para se ter dimensão, as metas do Ideb do 1º ao 5º ano, não foram atingidas totalmente desde 2007 somente pelo Amapá, o Distrito Federal, Minas Gerais, o Rio de Janeiro e Rondônia. O Ceará nesse tempo, passou de uma nota Ideb de 3,8 para 6,4, em 2019. No ano passado a meta era de 5,1. Já na outra etapa do ensino fundamental, apenas Amazonas, Goiás e Pernambuco conseguiram assegurar, junto com o Ceará, a continuidade do bom desempenho dos estudantes de 6º ao 9º ano. Com nota de 5,4, em 2019, o Ceará superou a meta e teve o segundo melhor Ideb do Brasil, nesta etapa ensino. Apenas São Paulo registrou nota maior que o Ceará.
Anos iniciais
Ainda no 1º ao 5º ano, o Ceará obteve destaque nacional no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) ao ter nove das 10 escolas com índices mais altos do Brasil nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em 2019. Com 350 alunos, a Escola de Ensino Fundamental Maria do Carmo Cardoso, no município de Independência, distante cerca de 300 km de Fortaleza, anotou o maior resultado do país: 9,8.
A diretora da unidade, Socorro de Almeida Pimentel, atribui a média ao esforço conjunto de professores, estudantes, núcleo gestor e demais colaboradores. Entre as estratégias para o alcance positivo, a educadora ressalta o acompanhamento da assiduidade dos discentes. "Nós procuramos de todas as formas fazer com que o nosso aluno não falte. Dois dias sem ele dentro da escola já é motivo de preocupação. Buscamos saber o que esse aluno está fazendo. Quando não conseguimos falar com o aluno ou com a família, vamos na casa dele".
Na sequência com nota de 9,7, aparecem as Escolas José Carlos da Silva, de Quixeramobim, e a José Augusto Ferreira, de Barroquinha. A lista também conta com a Escola João Evangelista da Cruz (9,6) e João Ladislau de Paulo Magalhães (9,5), ambas do município de Cruz; Escola Municipal Francisco Rufino (9,5), em Novo Oriente; Escola Municipal Duque de Caxias (9,5), em Pires Ferreira; Escola Manoel Farias de Almeida (9,5) e Escola Heloísa Maria Maia Pinto Dinelly (9,5), ambas em Quixeramobim. A Escola Municipal de Educação Básica Manoel Cotias de Jesus (9,7), no Estado de Alagoas, é a única instituição de ensino fora do Ceará entre as 10 com melhor avaliação.
Ao mesmo tempo, na etapa final do EF, o Ceará tem sete das 10 escolas com maior índice, sendo a Nossa Senhora Aparecida, de Granja, a unidade com a nota mais elevada do país, 8,7. No ensino médio, a Escola Estadual de Educação Profissionalizante (EEEP) Adriano Nobre, em Itapajé, que alcançou 7,1 no Ideb de 2019 figura entre as 10 com resultados mais altos.
Para o governador Camilo Santana, os resultados são motivo de "orgulho". "Hoje, o Ceará é um exemplo, uma referência. Isso é resultado do esforço de cada um que se dedica à educação", declarou durante live realizada nesta ontem (15). Na ocasião, o gestor parabenizou professores, alunos e familiares de alunos da rede pública do Estado.
A coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e coordenadora do Fórum Estadual de Educação no Ceará, Ciza Viana Moreira, explica que o Ideb é um indicador que permite à gestão pública ter dimensão dos índices de aprendizado e pode orientar também o cumprimento de objetivos previstos nos planos nacional, estadual e municipais de educação. O papel colaborativo entre as gestões (municipal e estadual), argumenta ela, são fundamentais para os resultados do Ideb, bem como reconhecer o mérito das redes municipais nesse processo. Ela ressalta ainda que o indicador não pode ser "olhado numa perspectiva de punição para quem não o atinja" e acrescenta "o mais importante é que haja de fato aprendizagem. Isso não se dá numa avaliação pontual". Outra questão é que como cada escola também tem uma meta a ser cumprida no Ideb, o indicador, opina ela, alcança um perceção mais localizada, "um olhar da escola sobre si".
O professor de Política Educacional na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ruy de Deus e Mello Neto, acrescenta que a adoção do Ideb como indicador de qualidade tem críticas e defesas. O argumento mais contundente, diz ele, por parte de quem aprova o uso desta avaliação externa, é que "é a única forma que temos de mensurar nosso sistema educacional, que antes era gerido sem qualquer modelo". Ele reitera que o Ideb "tem funcionado como um guia na educação no Brasil".
Queda
Além disso, os dois profissionais ponderam que os resultados de agora refletem uma situação alcançada até 2019, contudo a pandemia tende a interferir nesses índices. “É uma grande incógnita. Um grande desafio e não dá nem para fazer uma avaliação nesse sentido. Mas podemos inferir que teremos prejuízos de aprendizagem. Como esses estudantes estão sendo avaliados. Com certeza vai impactar em 2021. O retorno tem que ser muito cuidadoso”, reforça Ciza. Ruy também reitera a preocupação e ressalta “a tendência é que a gente tenha mudança nesses resultados. Para resultados piores”.
O professor também explica que talvez uma saída fosse adiar a aplicação de exames do tipo, a exemplo do que a OCDE fez com a prova do Pisa - programa internacional de avaliação de alunos - que deveria ocorrer em 2022. “Imagino que (em relação ao Ideb) o Brasil deva fazer o mesmo. Se não fizer vamos ter uma queda de resultados para depois voltar a seguir”. Ruy ressalta que os bons resultados devem ser destacados, mas é importante, reforça ele, “destacar que é um panorama pré-pandemia. Ele não dá mais conta do que temos”.