As desapropriações de moradores do entorno da Avenida Sargento Hermínio, conexão de bairros como Vila Velha e Álvaro Weyne ao Centro, começaram ainda em 2003 para abrir espaço aos deslocamentos com maior fluidez e segurança. De lá, 80% dos imóveis foram negociados e 40% da obra está feita, conforme a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf). Quem vive no local há mais tempo, ou recente, percebe os prejuízos da demora na rotina.
Na requalificação, as casas são recuadas, com a quebra da parte frontal, ou removidas para a ampliação de 1,5km da via, da Rua Padre Anchieta até a Rua Olavo Bilac, além de adequação das calçadas e do canteiro central. Também é feita drenagem, iluminação e pavimentação com previsão de entrega para o segundo semestre de 2022.
Contudo, quem acompanha o processo na porta de casa indica a necessidade de acelerar as intervenções iniciadas antes da chegada de moradores antigos. “Minha filha adoeceu e foi duas vezes para o hospital pela questão da poeira, ela é alérgica, e quando quebrar isso aqui?”, questiona Ana Santana, 40, microempreendedora.
A família considera o bairro como agradável de morar e acompanha o crescimento das filhas há 16 anos, na mesma casa, enquanto o antigo obstáculo se mantém presente. “A mais velha trabalha e chega tarde da noite, às vezes ela liga para a gente ficar esperando, porque alguém pode ficar escondido aí”, comenta sobre a frente da casa com duas fachadas.
Ana observa acidentes recorrentes na via com movimento nas duas mãos e circulação de pessoas nas residências, comércios e escolas. “Essa esquina daqui todo fim de semana tem dois ou três acidentes entre carros e motociclistas”.
Rotina compartilhada pelo autônomo Inácio Martins, 58, há 17 anos atuando em oficina mecânica na Sargento Hermínio. “Quando eu cheguei aqui, o processo já vinha acontecendo desde a época do Juraci Magalhães e até hoje está assim", lembra.
Em maio de 2008, o Diário do Nordeste citou a situação da Avenida na expectativa pela assinatura da ordem de serviço para início da obra. Acompanhe na íntegra clicando aqui. Um exemplo de paralisação da obra aconteceu em 2020 pela rescisão de um contrato.
O titular da Seinf, Samuel Dias, atribui o longo período para o fim da obra pela dificuldade em negociar a alteração nos terrenos.
“Exatamente por essa complexidade: para se ter uma ideia, o custo das indenizações e demolições é superior ao custo da obra em si. Fazer uma estrada com o terreno liberado é muito mais simples do que fazer obra dentro da cidade”.
Outro ponto para o avanço da obra está na realocação de cerca de 4 km de rede elétrica, em fase de execução. "A distribuidora esclarece que cerca de 26% dos postes já foram realocados e que equipes da companhia seguem trabalhando no local", informou a A Enel Distribuição Ceará por nota.
A Enel disse que aguarda o processo de desapropriação para avançar com o restante da obra, mas não informou a previsão para a conclusão do serviço.
O que já foi feito?
Inácio Martins recebeu equipe da Prefeitura e já teve o espaço demarcado para o recuo da oficina, que deve ser reformada com o valor da indenização pelo espaço cedido. “Vou colocar portas e instalações novas, como renovar uma casa, vou renovar a oficina. A tendência é melhorar, porque passam muitas pessoas por aqui”, destaca.
Mesmo sem uma data definida, Inácio projeta que a mudança deve acontecer em até um mês. “Eu tenho uma clientela boa, o pessoal sempre me procura e agora nós vamos recuar e ter uma melhoria em termos de espaço físico”, frisa.
Mais à frente Jonas Rocha, 49, já teve seu espaço de trabalho modificado pela reforma na Sargento Hermínio há cerca de um mês, quando foi feito o recuo da frente da oficina de bicicletas. “Aqui era uma casa e, na frente, uma lojinha de bicicletas. Deram um prazo de cinco dias úteis, mas a gente já vinha se preparando”, pondera.
Jonas percebe um número menor de acidentes e transtornos causados no período da chuva. “Eu gosto de trabalhar aqui, conheço muita gente, moro no Presidente Kennedy e venho de moto para cá”, conta sobre o dia a dia no trabalho.
O projeto prevê a indenização de 76 imóveis, com 60 já negociados - o restante depende da finalização do processo de desapropriação, de acordo com a Seinf. O recurso utilizado é de R$ 25 milhões como apoio do Governo do Estado.
Além da desapropriação, acontece processo de drenagem para água da chuva, como indica o secretário Samuel Dias.Trafegam diariamente na Sargento Hermínio
“Evitou-se até agora o trabalho na Avenida porque a gente quer trabalhar quando toda a faixa, ou grande parte da frente de trabalho, estiver liberada. (Isso, ao) retirar as edificações, redes de água e de esgoto, e principalmente de energia, que vão precisar ser realocadas por conta da ampliação da Sargento Hermínio”, detalha.
Incertezas ampliadas
As incertezas sobre a obra também preocupa quem mora no local de forma provisória por aluguel. “Quando cheguei tinha uma metragem aqui, mas não falei nada. Depois veio uma pessoa que mediu e não soube dizer o que era” lembra a idosa Neila Lima sobre as marcas na parede para intervenção na Avenida.
Ela aguarda informações dos proprietários do imóvel alugado há quase dois anos para saber sobre a futura morada. “Eu tô preocupada porque eu tenho 63 anos e um filho deficiente. Não tenho certeza de nada, só pedi o favor de não me deixarem na rua”.
Lucilene Rodrigues, 36, foi informada no último pagamento que a dona do imóvel aguarda o depósito da indenização. “Eu moro há quase três e desde então só promessas de que vão demolir”. A proprietária negocia uma ajuda de custo para a mudança.
“Eu até gostaria que isso fosse mais rápido para gente procurar um canto certo. Eu queria que acabasse essa poeira, barulho e os acidentes que ocorrem", compartilha.