E meio ao período de quarentena, o ex-participante cearense do The Voice Kids 2018, Kayro Oliveira, 12 anos, escreveu uma música sobre a pandemia do novo coronavírus juntamente com o poeta e radialista Pedro Sampaio, 59 anos. O jovem indígena, morador da reserva dos Anacé, em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), afirmou o desejo de que a música alcançasse o coração das pessoas em isolamento. “Eu queria que essa música chegasse no ouvido de cada um que esá em suas casas. É muito importante a gente ficar em casa para dar um susto grande nesse bicho”, pontua.
No Ceará, a quarentena teve início após decreto do governador Camilo Santana, no dia 19 de março, em que determinou o fechamento de estabelecimentos, como bares, restaurantes, igrejas e templos; e recomendou o isolamento social para os trabalhadores que pudessem permanecer em casa. Nesse cenário, o instrumentista autodidata começou a se sentir entediado.
“Já tinha feito muitas coisas e estava sem conseguir fazer nada. E, quando eu estou sem fazer nada, gosto de fazer um verso, um começo de uma música”, explica Kayro.
A canção, tocada com sanfona, compara o período de isolamento com a prisão dos pássaros nas gaiolas sem poderem voar, e aponta que bons momentos devem chegar após a pandemia. Para além da sanfona, Kayro também toca violão, teclado, cavaquinho, bateria, baixo, triângulo, assim como instrumentos indígenas, dentre eles tambor, maraca, caaró, pandeiro.
Para o jovem, a influência da origem indígena é muito grande em sua música. “Nós que somos indígenas, prezamos muito pela nossa cultura”, compartilha. Embora tenha um estilo musical que relembra figuras do sertão cearense, como Luiz Gonzaga, Kayro também vive a realidade de sua origem em seu cotidiano, com os rituais, por exemplo.
Talento
Kayro começou a tocar sanfona aos 6 anos de idade, aos 7, já sabia fazer composições. Em 2018, participou dos programas The Voice Kids. “A gente não teve nenhuma influência porque ninguém da família toca nada. Ele, com 4 anos, desenhou uma sanfona de papelão e vivia dentro de casa cantando ‘Eu só quero um xodó’ de Dominguinhos”, aponta o pai, Erandi de Lima Oliveira, 48.
Os pais, por muito tempo, viram a animação como brincadeira de criança. Porém, ao perceberem a paixão genuína do filho, decidiram comprar uma sanfona. “Na hora que ele via uma sanfona na televisão já ficava muito encantado e agoniado. Então, com cinco anos de idade, eu e o avô dele compramos uma sanfoninha de oito baixos”, finaliza Erandi.
Música “A Quarentena”
Hoje eu sei o que sente um passarinho
Preso na sua gaiola
Triste a cantar
É como eu que estou preso em casa
Feito um pássaro que tem asa
Sem poder voar
A tesoura do inimigo invisível
Numa ação tão cruel e tão terrível
Cortou a asa da gente
Espalhando em cada continente
Entre os povos o pavor
Destruindo e partindo laço
E o fascínio de um abraço
O vírus destruidor.
A quarentena e o medo nessa vida
Para o mundo virou preocupação
Ranger de dentes e o clamor do povo
É tempo novo pra toda nação
A Bonanza vem após a tempestade
A tempestade logo vai passar
Contra o corona
Eu louvo a Deus
E nos acordes da sanfona
Que na aflição
Deixo forró, xote e o baião
E com meu fole começo a exaltar Deus pai amado
Autor da Criação
E com meu fole começo a exaltar Deus Pai Amado, Autor da Criação.