Com 100% dos adultos cadastrados vacinados, qual o cenário de Fortaleza entre as capitais do Brasil

Capital é a 8ª do Brasil em população imunizada com duas doses, mas enfrenta desafio de eliminar “bolsões” de suscetíveis

Fortaleza é a 4ª capital do Nordeste com maior porcentagem da população geral vacinada com duas doses contra a Covid-19: entre adolescentes e adultos cadastrados, 85,5% já completaram o esquema de imunização com a segunda dose (D2) na cidade.

À frente da capital cearense, aparecem São Luís, João Pessoa e Salvador, que já alcançaram com a D2, respectivamente, 90,4%, 90,3% e 89,6% das populações, conforme dados de canais oficiais das prefeituras, coletados pelo Diário do Nordeste na manhã dessa terça (7).

Os governos municipais têm diferentes metodologias, cronogramas de atualização e divulgação das coberturas vacinais, tornando o rankeamento apresentado aqui dinâmico e aproximado.

Conforme o levantamento, a cearense está entre as 7 capitais que já ultrapassam 90% da população geral com pelo menos uma aplicação da vacina. Na segunda-feira (6), aliás, Fortaleza alcançou com a D1 100% dos adultos cadastrados.

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O avanço da imunização se mostra ainda mais importante diante da ameaça de chegada da variante Ômicron, que já teve casos confirmados no Brasil. Por outro lado, os bons índices de cobertura não incluem quem sequer chegou a entrar na lista de vacináveis, como alertam especialistas em saúde coletiva.

Painel da própria Secretaria Municipal de Saúde (SMS) estima que Fortaleza tinha, em 2020, mais de 2,6 milhões de habitantes. Do total, 2.172.041 têm idade acima de 12 anos e, portanto, estariam aptos à vacinação. 

Até ontem (6), porém, 2.126.697 fortalezenses tiveram acesso à primeira dose ou à dose única na Capital, uma diferença de 45.344 em relação à estimativa de população divulgada pela SMS.

2,9 milhões
de pessoas se cadastraram no Saúde Digital para tomar a vacina anticovid em Fortaleza. Do total, só 2,1 milhões confirmaram o cadastro por e-mail.

A reportagem questionou a SMS sobre o que a Pasta tem feito no sentido de garantir a imunização completa de toda a população, e aguarda resposta da secretaria.

Maior desafio é dose de reforço

A epidemiologista Daniele Queiroz, doutora em Saúde Coletiva, pontua que a prioridade de Fortaleza, hoje, deve ser “avançar na dose 2 enquanto se busca a dose de reforço”. Ela aponta que completar a imunidade com as 3 aplicações “é o maior desafio” dos gestores.

Se não avançamos na D2, acaba essa imunidade que hoje está protegendo a nossa população, conferida tanto pelo adoecimento, que ainda protege parte das pessoas; como pelas duas doses.
Daniele Queiroz
Epidemiologista

Daniele frisa que os imunizantes têm “segurado a transmissão” da Covid em Fortaleza, mas alerta para a queda gradual de proteção, já comprovada por estudos científicos nacionais e internacionais. “Depois de 4 a 5 meses de proteção, é preciso tomar a terceira dose”, pontua.

Sem o esquema vacinal completo, com D2 e dose de reforço (para quem já está habilitado), a epidemiologista projeta que “haverá um aumento do número de pessoas suscetíveis, e isso pode representar uma nova onda de casos”.

“Se a gente não avançar na cobertura, isso pode acontecer, principalmente com casos atrelados à chegada de novas variantes, que causem a doença em população vacinada sem esquema completo nem dose de reforço”, avalia.

Obstáculos

Apesar de 100% da população adulta cadastrada já ter recebido pelo menos uma dose do imunizante anticovid na capital, há bolsões de não-vacinados que permanecem suscetíveis à virose, como cita Paulo Magalhães, médico de família e comunidade e mestre em Saúde Coletiva.

“Muitas pessoas não realizaram o cadastro para vacinação: por falta de acesso ou habilidade com meio eletrônico, por não terem documentação, por estarem em situação de rua e outros grupos que não têm os direitos como cidadão garantidos”, destaca.

Já está mais do que comprovado que enquanto não houver uma uniformidade, uma equidade na vacinação, a gente ainda corre muito risco.
Paulo Magalhães
Médico e mestre em Saúde Coletiva

Para o médico, buscar esses cidadãos e, além deles, grupos de pessoas que ainda recusam a vacina são “cuidados que os gestores de saúde devem ter”, a fim de proteger os resultados positivos já obtidos após quase dois anos de pandemia no Ceará.

“Essa parcela desprotegida tanto tem maior chance de pegar o vírus como de receber carga viral mais intensa, ter a doença numa forma mais grave; além de perpetuar a cadeia de transmissão, o que pode gerar o surgimento de novas variantes”, salienta.

Assim como Daniele, o especialista em saúde coletiva também chama atenção e explica, de forma objetiva, por que é necessário comparecer aos postos de vacinação em busca da dose de reforço.

A não adesão à D3 acaba nos expondo tanto de forma individual quanto à população de Fortaleza e do Ceará, principalmente por sermos destino turístico. Essa proteção e manter todas as medidas sanitárias é fundamental.

Máscara, álcool e distanciamento

Como todos os especialistas e autoridades de saúde têm reforçado, ao longo dos meses, nenhum avanço na vacinação contra a Covid permite que a população relaxe quanto às medidas de prevenção já conhecidas: uso de máscaras, higienização das mãos e distanciamento físico.

O protocolo é reforçado por Izabel Florindo, imunologista e professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) que coordena o grupo de pesquisadores responsáveis por desenvolver o imunizante anticovid cearense, o HH-120-Defenser.

Não existe nenhuma vacina que dê cobertura total e proteção a todos. Por isso, é preciso continuar com os cuidados e procurar assistência médica e fazer teste se sentir qualquer sintoma gripal.
Izabel Florindo
Imunologista

A professora frisa que a indução de imunidade pelas vacinas aplicadas no Brasil – Coronavac, Astrazeneca, Pfizer e Janssen – está sendo estudada em todo o mundo, e que só com o tempo será possível chegar a imunizantes cada vez mais eficazes.

Em relação à vacina cearense, Izabel garante que os trabalhos “estão avançados e dentro do esperado”, e que o grupo está na etapa final da documentação a ser enviada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).