Ceará tem quase 120 novas solicitações de leitos de UTI Covid por dia desde março

Alta ocupação de leitos e maior tempo de internação de pacientes dificulta a liberação de mais unidades para outros infectados graves.

A Covid-19 continua desafiando a capacidade de atendimento da rede de saúde do Ceará. Só o sistema público recebe diariamente, desde 1º de março, uma média de 118 novas solicitações de vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

Os dados são da plataforma IntegraSUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Na tarde da última quarta-feira (21), feriado de Tiradentes, havia 798 pessoas esperando por algum leito para continuarem a luta contra a Covid-19. Desse total, 480 precisavam de UTIs.

De acordo com o sistema, as solicitações de UTIs começaram a crescer a partir da segunda quinzena de fevereiro. Até aquele período, a média era de 30 a 50 pedidos diários. Em 8 de março, pela primeira vez em 2021, o indicador passou de 100, chegando a 104 requisições.

Conforme os dados, os picos de solicitações ocorreram em 15 de março, logo após o anúncio do segundo lockdown em todo o Estado, com 158; e no último dia 16 de abril, logo após a flexibilização de parte das atividades econômicas, com 154.

Desde 8 de março, apenas os dias 9 e 25 do mesmo mês registraram menos que uma centena de pedidos; ainda assim, foram 94 e 98 requisições, respectivamente.

O problema é que as redes pública e privada estão operando praticamente no limite. Nos últimos sete dias, a taxa geral de ocupação de UTIs para adultos no Ceará oscila em torno de 95%. Na tarde de quarta, estava em 93,65%.

Epidemias simultâneas

Segundo a Sesa, os critérios adotados para regulação de pacientes inclui a disponibilidade de leitos, a indicação de leito, o quadro clínico e a criticidade deles.

Em entrevista recente ao Sistema Verdes Mares, a secretária-executiva de Vigilância e Regulação, Magda Almeida, destacou que 2021 trouxe “epidemias simultâneas” nas regiões de saúde do Estado, o que levou a uma “pressão assistencial muito grande por leitos”.

Segundo ela, em muitos casos, as unidades de saúde que fizeram o primeiro acolhimento não têm o nível de complexidade adequado para tratar o quadro, por isso a necessidade das transferências.

Quando se analisa a capacidade de resposta, desde 1º de março deste ano, a média de leitos de UTI liberados atendendo às solicitações é de 50 por dia - cerca de 42% da demanda.

Dificuldade de atendimento

A região de saúde de Fortaleza, com 44 municípios, concentra o maior número de pacientes aguardando UTIs no Estado: até a tarde de ontem, eram 273. Desse total, 94 estavam internados na Capital.

O trabalhador da construção civil Ricardo Augusto Severiano Dutra, 44 anos, ainda espera por um leito de UTI na UPA do bairro Vila Velha mesmo com a expedição de uma liminar em favor dele, na última segunda (20). Ele está internado na unidade desde o dia 10.

No relatório médico que embasou a decisão judicial, consta que Ricardo é “nível de prioridade 1”, tratando-se de “paciente criticamente enfermo e instável que necessita de cuidados de terapia intensiva e monitoração que não pode ser provida fora de ambiente de UTI”.

No entanto, segundo a esposa de Ricardo, Ivaneide dos Santos, ainda não há previsão de quando ele poderá ser transferido. “Dizem que ele está na fila de espera, que não tem vaga, que UTI é mais complicado”, lembra as informações que recebeu.

Ela tenta não se conformar com a dificuldade, mas lamenta: a falta de informações e a longa espera por respostas trazem muita angústia para a família.

Eu vou todo dia saber como ele está. Tem dia que o médico  liga, tem dia que demora, tem dia que nem isso. Hoje fazem 12 dias que ele está lá e será que não apareceu uma vaga? Isso é desumano”
Ivaneide dos Santos

Circulação viral

Para o médico infectologista Ivo Castelo Branco, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), os atendimentos atuais são resultado de contaminações ocorridas na Semana Santa. “O que a gente fizer hoje vai ter uma repercussão daqui a duas ou três semanas”, ilustra.

Se nós conseguirmos fazer com que as pessoas diminuam o trânsito de circulação viral, tomem as medidas preventivas higiênicas e sociais da Covid e tenham acesso à vacinação, a gente vai diminuir daqui a uns dois meses”
Ivo Castelo Branco
Médico infectologista

Para o especialista, a sociedade ainda precisará “conviver por muito tempo” com a Covid, por isso a necessidade de adotar os devidos cuidados já conhecidos: distanciamento social, uso de máscaras e álcool em gel e lavagem das mãos.