Um crime camuflado de grandes oportunidades e que, muitas vezes, tem a vulnerabilidade social como aliada. Assim se constitui o tráfico humano, prática que desafia autoridades e rede de assistência em todo o País. No Ceará, no primeiro semestre de 2017, apenas quatro casos chegaram ao Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP), órgão vinculado à Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado (Sejus/CE). A subnotificação das ocorrências está entre as dificuldades nesse combate.
Dos casos monitorados pelo NETP no ano passado, três pessoas foram atendidas por exploração sexual e uma por casamento servil (quando a mulher é traficada para servir a um homem). Em 2016, 19 pessoas no Estado foram atendidas pelo Núcleo, sendo dez casos de tráfico humano monitorados pelo órgão.
De acordo com a psicóloga do NETP/CE, Ingrid Borges, as principais modalidades do tráfico de pessoas no Ceará são para fins de trabalho escravo, seja em deslocamento intermunicipal ou interestadual; e em maior quantidade os casos para exploração sexual, tendo como principal rota Portugal, Espanha, Holanda e Itália.
"Para cada modalidade temos um perfil. Para o tráfico, a fim de exploração sexual, são mulheres e travestis entre 20 e 35 anos, geralmente em situação de vulnerabilidade, no sentido de não terem perspectivas de emprego e trabalho. Já no tráfico, para fim de trabalho escravo, são mais homens, geralmente com nível de escolaridade muito baixo, entre 18 e 60 anos", compara.
Entre as dificuldades enfrentadas na detecção dos casos, esclarece a psicóloga, está no fato de as próprias vítimas não se reconhecerem como tal. "Quando elas viajam ou saem para trabalhar, acreditam que será uma grande oportunidade, e quando a exploração de fato acontece, elas retornam com sonhos interrompidos e não querem falar e nem se expor. Essa dificuldade da vítima muitas vezes torna o crime invisível", diz a psicóloga
A fim de ajudar no esclarecimento da população sobre a prática, o NETP/CE tem, entre seus eixos de atuação, um trabalho preventivo, promovendo palestras e oficinas sobre o tema para públicos diversos, especialmente os adolescentes, além de capacitações para profissionais da saúde, educação e Poder Judiciário.
O Núcleo atua, ainda, na responsabilização pelo crime, fazendo o encaminhamento necessário para cada órgão competente - a depender da modalidade do tráfico - e no que compete a assistência, acolhe vítimas e familiares.
"Quando temos a notícia de que houve um tráfico de pessoa, a gente se coloca à disposição. Se ela deseja voltar a estudar, fazer um curso de capacitação, ter assistência à saúde ou atendimento psicológico, a gente faz o encaminhamento", diz Ingrid Borges.