O comportamento imprudente dos condutores nas rodovias federais do Ceará tem refletido no aumento do número de acidentes. Em 2021, só de janeiro a julho, foram 859 ocorrências, superando as 792 do mesmo período do ano passado.
O total até julho deste ano gerou a quebra de uma série histórica: o número de acidentes nessas vias estava em queda desde 2013, quando 2.321 casos foram registrados em 7 meses. No ano seguinte, 2014, foram 2.286, reduzindo até os 792 ocorridos em 2020.
Os dados são da Polícia Rodoviária Federal (PRF), tabulados pelo Diário do Nordeste. Do total de sinistros neste ano, 181 foram em trechos das rodovias federais situados em Fortaleza, e os demais, no interior do Ceará.
dos acidentes nas rodovias do Ceará em 2021 deixaram vítimas feridas ou mortas. Em 7 meses, 106 pessoas morreram.
A principal causa de acidentes está diretamente ligada ao comportamento: 98 deles aconteceram após o condutor acessar a via sem observar a presença dos outros veículos. Em segundo lugar, está o desrespeito ao distanciamento do veículo à frente (96 casos).
A imprudência tem preço caro à saúde e à vida: oito a cada dez acidentes deixam vítimas feridas ou fatais. Dos 859 registros no Ceará neste ano, 597 deixaram feridos; 95, mortos; e 167, apenas danos materiais.
Maior fator de risco é a imprudência
De acordo com Márcio Moura, inspetor do Núcleo de Comunicação Social da PRF/CE, o aumento do fluxo de veículos em relação a 2020 é, de fato, o segundo principal fator para o crescimento dos acidentes – o primeiro é a imprudência dos condutores.
A maioria dos acidentes acontecem em retas, pistas sem buracos e durante o dia. Chuva e falhas mecânicas são o mínimo. O comportamento do condutor é que precisa mudar.
Em 2020, de janeiro a julho, 4.783 condutores foram autuados por ultrapassagens indevidas. Nos sete primeiros meses de 2021, foram 5.900 autuações, 23% a mais. “Esses foram os flagrantes. Imagine quantas fizeram e não foram identificadas?”, frisa o inspetor da PRF.
Segundo ele, as ações de segurança viária promovidas pelo órgão se dividem entre educativas e ostensivas, e também por isso o número de autuações varia a depender do período.
Ano passado, até julho, por exemplo, 300 ações educativas da PRF atingiram mais de 6 mil pessoas; no mesmo período de 2021, foram feitas 250 blitze, abordando mais de 5 mil pessoas.
“A estrada é um local que requer muito da disciplina do motorista. Ele precisa entender que as regras impostas são para o bem dele, e quando descumpre, coloca em risco a vida dele e a de terceiros. A regra deve ser cumprida todo tempo, não só quando tem alguém vendo”, sentencia Márcio.
“Foco deve ser na educação”
Se o trânsito é um tripé composto por veículos, vias e pessoas, é nesta última base que está a chave para uma maior segurança viária, segundo avalia Ademar Gondim, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC).
O especialista aponta que “fiscalização deve ser uma consequência, e não a principal medida”. “O que temos que trabalhar é na educação das pessoas, no sentido de que elas tenham a sensibilidade sobre a responsabilidade que é dirigir numa via federal ou outra qualquer”, frisa.
Ademar ilustra que grande parte dos acidentes de trânsito ocorre na madrugada de sexta-feira para sábado, na volta das “happy hours” – e não necessariamente causados por ingestão de bebidas alcóolicas.
Uma das coisas que precisam ser analisadas é o nível de fadiga dos condutores: se alguém passa 20h sem dormir, é como se tivesse bebido.
Nesse sentido, o especialista alerta que “o bafômetro não é suficiente”, que os órgãos de trânsito precisam “verificar o estado do condutor, e conscientizá-lo de que é preciso preparo para pegar uma estrada”.
Apesar de estimar que apenas 5% dos acidentes ocorram por falhas veiculares, Ademar reforça que os cuidados com manutenção não devem ser esquecidos. “Viajar descansado, com pneus e veículo em bom estado é indispensável. Porque isso envolve a vida não só do condutor, mas de outras pessoas”, conclui.