14% das crianças de 0 a 5 anos no CE estão fora do peso ideal

Das 247 mil crianças atendidas neste ano na Atenção Básica, 6.670 (2,7%) estão com peso abaixo da idade

É inegável que uma alimentação saudável e equilibrada traz diversos benefícios para a saúde. Por outro lado, uma alimentação deficiente pode levar tanto à subnutrição quanto ao excesso de peso, que passam a acometer pessoas cada vez mais jovens. Conforme dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), do Ministério da Saúde, no Ceará, 14% das crianças de 0 a 5 anos e 29,1% dos adolescentes de 10 a 19 anos que passaram por consulta em postos de saúde, neste ano, estavam fora do peso ideal. No ano de 2016, os mesmos índices eram de 14,5% e 29,7%, respectivamente.

Ao monitorar a situação alimentar e nutricional da população atendida nos serviços de Atenção Básica, o levantamento do Sisvan detalha que, das quase 247 mil crianças atendidas neste ano, em todas as regiões do Estado, 1.913 (0,77%) estavam com "peso muito baixo para a idade", 6.670 (2,7%) com "peso abaixo da idade" e 25.938 (10,5%) com "peso elevado". Na faixa "peso adequado", foram registradas 212.419 pessoas de 0 a 5 anos.

Entre os adolescentes, o índice de peso acima do ideal também é maior. Dos 272 mil atendidos neste ano, 49.035 (18%) estavam com sobrepeso, 16.303 (6%) com obesidade e 2.829 (1,04%) com obesidade grave.

No outro extremo, 8.310 (3,05%) tinham estado de magreza e 2.912 (1,07%) de magreza acentuada. No nível eutrófico (equilíbrio entre o consumo e as necessidades nutricionais), foram enquadrados 192.910 adolescentes, correspondentes a 70,8% do total.

O próprio Ministério reconhece limitações na aferição dessas medidas. No caso da relação entre peso e idade de crianças, "não é possível diferenciar se o comprometimento nutricional é atual/agudo ou pregresso/crônico". Já o índice de Massa Corporal (IMC) para adolescentes não permite a avaliação da composição corporal do indivíduo, tendo em vista que o valor pode ser atribuído ao excesso de massa muscular, no caso de atletas e halterofilistas.

Preocupação

Ainda assim, para a nutricionista Francisca Vilma de Oliveira, técnica em Alimentação e Nutrição da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), os problemas nutricionais nessas faixas etárias têm se tornado preocupação de saúde pública, principalmente no tocante à obesidade - ao contrário da subnutrição, que era uma ameaça há 20 anos, segundo a especialista. "Os principais fatores dessa mudança são os hábitos alimentares e o estilo de vida. A criança está pertencendo a um ambiente obesogênico, pois os pais já influem com alimentação inadequada", explica.

No rol de alimentos industrializados consumidos diariamente estão refrigerantes, sorvetes e guloseimas, que capturam o paladar dos pequenos pelo sabor mais acentuado. Contudo, por serem mais calóricos, também podem levar ao aumento do peso, fator importante na antecipação de doenças "de adultos", como a hipertensão arterial e cardiopatias. "Nessa idade, não é a criança quem decide que alimento vai utilizar", aponta Vilma.

Amamentação

Por isso, a empresária Raquel Amora tenta fornecer alimentos saudáveis para Artur Fontes, de dois anos e 9 meses. Após o período exclusivo de amamentação, ela começou a introduzir maçã e banana amassadas na dieta do filho. A mãe também evita a oferta de alimentos com açúcar, tanto que Artur nem gosta de sorvete e algodão doce, garante. "A gente procura oferecer o máximo de comida de verdade. Alimentação saudável reflete na saúde. Inclusive, ele tem mais disposição", afirma.

Energia que herdou dos pais, também atletas. A nutricionista Francisca Vilma reforça que, além da necessidade de exercícios físicos, é preciso reincorporar à dieta de crianças e adolescentes a tal "comida de verdade", como a típica e regional dupla arroz e feijão, que tem sido deixada de lado "por sanduíches e outros alimentos que não faziam parte da nossa rotina", acrescenta.