- O que você vai dizer para ele?, perguntou a mãe, Ianna.
- Eu vou pedir biscoito porque o biscoito acabou. Saulo Mineiro, eu quero biscoito!, respondeu José Tomás, de 2 anos, com a voz capaz de derreter qualquer coração.
E foi assim, com uma reivindicação cheia de fofura, que o menino ganhou as redes sociais esta semana. Ao receber uma mensagem em vídeo de Saulo Mineiro, o mini-torcedor do Ceará respondeu com um pedido inusitado. A família gravou o momento, e o atacante, a convite do Diário do Nordeste, topou conhecer o pequeno e a família dele no CT de Porangabuçu, nesta sexta-feira (4). Além da admiração pelo clube e pelo jogador, a família se despediu com a paixão renovada e uma promessa.
Mas como essa história começou? Ana Luize Santiago, tia do menino, pediu uma mensagem para o sobrinho enquanto o jogador deixava o gramado da Arena Castelão no duelo contra o Brusque, pela Série B.
"Pedi a outros jogadores para gravarem para o meu pai. E o Saulo foi o último a vir, pedi a ele um vídeo para o José. Depois mostraram em casa, e ele teve essa reação espontânea. Foi muito engraçado na hora. A gente pensou que esse vídeo tinha que chegar no Saulo”, ressaltou.
No vídeo, o atleta mandou um abraço para a criança. A resposta de José Tomás surpreendeu até a própria família. A mãe, Ianna Lemos, revelou o contexto da situação.
“Ele quer comer biscoito na hora do almoço. Aí falei: ‘Você vai almoçar. Não tem biscoito.’ Ele estava chateado porque não tinha. A gente nem esperava, quando a minha irmã perguntou ‘O que você quer dizer para ele?’ Eu quero pedir biscoito porque acabou o biscoito. Eu disse: Meu Deus do céu. Nunca imaginei que ele (Saulo) fosse ver, porque no final eu disse: pois ele vai ter que trazer biscoito para você. Ai que vergonha!”, relembrou a mãe.
O jogador respondeu o vídeo na publicação do Diário do Nordeste, que propôs o encontro.
Enquanto esperava a chegada do atacante alvinegro, José gastava energia na tarde quente numa brincadeira de bola com o avô Ney Lemos nas arquibancadas de Porangabuçu. Vestido com o manto do Vovô, o menino construiu mais uma memória no coraçãozinho de torcedor.
“É especial porque tenho muitas memórias com meu pai no estádio desde pequena. Fui a primeira filha. Até os oito anos, éramos eu e ele no estádio. Lembro do tempo que iam os primos, os tios, era aquela farra. E ver nosso filho ir pelo mesmo caminho é muito gratificante”, relembrou Ianna.
“Como a Ianna falou, foram as melhores memórias da nossa infância. Do José também não tinha como não ser, dos filhos do José vão ser..”, completou Gustavo Santiago, pai da criança.
“TÁ AQUI SEU BICOITO!”
Os pais, a tia e o avô visitaram o clube ao lado do menino. A família, como um time, é toda alvinegra. Enquanto aguardavam, ansiosos, pela chegada do atleta, a graça era ver José brincar com a bola como quem entende a alegria dos que vão à campo vestir a camisa do Vovô. Não demorou e o camisa 73 subiu as escadas de acesso às arquibancadas do CT. José logo virou o rosto e reconheceu:
- Saulo Mineiro!, gritou o menino.
- Tá aqui seu biscoito! Vem dar um abraço. É desse que você gosta?, disse o atacante.
- É esse! Obrigado, Saulo Mineiro!, respondeu o menino, já no colo do atacante.
José logo convidou o camisa 73 para comer "bicoito” ao lado do avô Ney, de 64 anos. Os três, ali, dividiram o sentimento de pertencer ao Ceará numa interseção de amor que semeia gerações. De famílias e de jogadores. Saulo agradece e entende a importância dessa aproximação.
“Muito bacana. Graças a Deus tem esse carinho dos mini alvinegros, é bom demais. Eu tento retribuir o máximo que posso. É de geração para geração", afirmou o atleta.
Peça importante no trio de ataque do time comandado por Léo Condé, Saulo Mineiro tem seis gols e quatro assistências em 23 partidas disputadas pela Série B este ano. O jogador de 27 anos, pai da pequena Maria Flor, logo fez um convite: chamou o menino para acompanhá-lo na entrada ao campo no duelo contra a Ponte Preta, no Castelão. E foi prontamente aceito por José: “Quero!”
O avô do menino conta que a torcida pelo Alvinegro começou ainda na infância, pelas ondas do rádio. Ao lado dos irmãos, passou a frequentar o Estádio Presidente Vargas para acompanhar o Vozão.
“Com os meus três filhos, desde pequenos, qualquer jogo que passasse na televisão, quando saía um gol, eu gritava ‘goool do Ceará’. Um dia desses eu estava assistindo com o José Tomás, e ele fez a mesma coisa. Saiu gol de outro time que não era nem daqui, e ele: ‘gol do Ceará’. É muito difícil não ser torcedor do Ceará. A gente revive o que passou com os filhos. O neto é outro filho que a gente tem”, contou Ney Lemos.
O Ceará segue se reinventando no tempo. Seja em 90 minutos ou em gerações. Dentro de campo e nas arquibancadas, o Alvinegro atravessa a história como protagonista em si e na memória de quem veste as cores do time. José Tomás é mais um passo do futuro que olha, com paciência, o brotar do amor ao clube de futebol.
O Alvinegro volta a campo na segunda-feira (7), quando enfrenta o Sport em duelo da 30ª rodada da Série B do Brasileiro. O duelo será na Ilha do Retiro, a partir das 21h (de Brasília)