Dez estrelas que brilharam nas Paralimpíadas de Tóquio-2020

Alguns atletas chamaram a atenção logo na cerimônia de abertura, como o iraniano Morteza Mehrzadselakjani, de 2,46 m

Nas Paralimpíadas de Tóquio-2020, alguns atletas chamaram a atenção logo na cerimônia de abertura, como o iraniano Morteza Mehrzadselakjani, de 2,46 m, esportista do vôlei sentado.

Outros não se contentaram em vencer suas provas, mas também pulverizaram recordes mundiais, como o nadador ucraniano Maksym Krypak ou o velocista americano Nick Mayhugh, dois destaques do evento.

Veja abaixo dez atletas que brilharam nos Jogos do Japão:

JESSICA LONG (ESTADOS UNIDOS)

Queridinha da delegação dos Estados Unidos, a nadadora Jessica Long, 29, adicionou, em Tóquio-2020, mais três ouros, duas pratas e um bronze a sua coleção impressionante de conquistas nos Jogos Paralímpicos. No total, ela soma 16 ouros, oito pratas e cinco bronzes. Em Mundiais de piscina longa (50 m), ela já conquistou 31 ouros, 11 pratas e dois bronzes.

Long nasceu na Rússia, com o nome de Tatiana Olegovna Kirillova, e foi deixada em um orfanato pelos pais, que eram adolescentes. Aos 13 meses, acabou adotada por um casal de americanos.

Ela teve as duas pernas amputadas aos 18 meses por causa de uma hemimelia fibular (ausência parcial ou completa da fíbula).

Começou na ginástica artística, mas a modalidade causava muitos problemas ao seu joelho. Acabou incentivada pelos pais a seguir na natação.

"Sempre adorei nadar. Minha avó encontrou uma notícia sobre uma equipe local de natação e decidi experimentar. O que me convenceu foi que não precisava usar próteses", conta.

LEE PEARSON (GRÃ-BRETANHA)

Lee Pearson, 47, conquistou três ouros no hipismo adestramento em Tóquio. A façanha não é algo inédito para o cavaleiro britânico, que tem os movimentos prejudicados por uma artrogripose múltipla congênita: ele já havia subido ao alto do pódio paralímpico três vezes nas edições de Atenas-2004 e Pequim-2008. No total, soma 14 ouros em Jogos Paralímpicos -também conta com duas pratas e um bronze.

"Quando cresci, consegui emprego em um escritório. Na verdade, sou alérgico a cavalos, mas sou ainda mais alérgico à papelada. Trabalhar em algo que odiava me fez perceber que realmente queria fazer adestramento", brinca Pearson.

"Não se trata de um esporte de elite, é sobre construir uma parceria com um animal."

MAKSYM KRYPAK (UCRÂNIA)

Ninguém saiu das piscinas de Tóquio com mais medalhas que o ucraniano Maksym Krypak, 26. Foram cinco ouros, uma prata e um bronze, com direito a dois recordes mundiais. Nada que surpreendesse os torcedores. Nos Jogos do Rio-2016, em sua estreia em Paralimpíadas, ele já havia conquistado cinco ouros e três pratas na classe S10 (atletas com limitações físico-motoras).

Krypak chegou a competir com atletas sem deficiência, mas acabou se transferindo para o esporte paralímpico quando não conseguia mais competir contra seus rivais e nunca reivindicou privilégios nos treinamentos.

"Meus pais pediram aos treinadores que não me dessem atenção especial, para que me tratassem como todos os outros", afirmou.

MORTEZA MEHRZADSELAKJANI (IRÃ)

Logo na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos de Tóquio-2020, a altura de Morteza Mehrzadselakjani, 33, impressionou todos: 2,46 m. Destaque da seleção iraniana de vôlei sentado, o jogador foi o craque da conquista do bicampeonato paralímpico sem surpreender nenhum torcedor. No caminho, o Irã ganhou do Brasil.

Até descobrir o esporte, Mehrzadselakjani era uma pessoa tímida por causa da acromegalia, que causa desenvolvimento ósseo anormal. Daí sua altura avantajada. Aos 16 anos, ele caiu de bicicleta e fraturou a pélvis, o que fez sua perna direita parar de crescer. Hoje, ela é 15 centímetros mais curta que a esquerda.

Sua vida mudou ao receber um convite do técnico Hadi Rezaeigarkani. Ele viu na TV a história de Mehrzadselakjani e o procurou para treinar vôlei sentado. "Estava muito deprimido por causa da minha deficiência. Eu me sentia como se estivesse em uma prisão. Tinha medo de sair de casa por causa da minha aparência. O vôlei sentado mudou minha vida", conta.

NICK MAYHUGH (ESTADOS UNIDOS)

Nick Mayhugh, 25, causou admiração com a conquista de três medalhas de ouro e uma de prata. Ele foi campeão dos 100 m e 200 m classe T37 (atletas andantes com paralisia cerebral), ambas com recorde mundial. Também integrou o revezamento campeão do 4 x 100 m universal (que combina atletas com vários tipos de deficiência). A única prata veio nos 400 m T37.

Ele começou no futebol de 7, esporte em que ajudou os Estados Unidos a conquistar a medalha de bronze nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, no Peru, em 2019. Lá, perguntou ao técnico de atletismo dos Estados Unidos, um certo Joaquim Cruz, se poderia tentar o atletismo.

O brasileiro, campeão dos 800 m nas Olimpíadas de Los Angeles-1984, foi direto ao ponto. "Muitas vezes recebo atletas que acham que podem fazer duas coisas e assumir a carga de trabalho de dois esportes. O que o torna diferente? O que o faz querer fazer isso? Você sabe o que é preciso?", questionou o técnico.

Mayhugh entendeu o recado e passou a treinar apenas nas pistas. "Sei que tipo de pessoa e atleta eu sou. Sei que, se eu me comprometer com isso, posso me empenhar 100% e, de forma realista, competir bem nos Jogos Paralímpicos", afirma o atleta, que mostrou todo o potencial em Tóquio.

NONATO (BRASIL)

Com um time repleto de craques, o Brasil era o favorito para a conquista do pentacampeonato paralímpico no futebol de 5. Porém, para a conquista do quinto ouro consecutivo, a peça fundamental foi Nonato, 34. Ele foi o artilheiro da campanha vitoriosa, tendo marcado 6 dos 13 gols do Brasil na competição. Foi dele o golaço contra a Argentina, que garantiu a vitória por 1 a 0 na final e a medalha de ouro. Nonato esteve presente em 3 dos 5 títulos da seleção brasileira.

O brasileiro começou a jogar futebol ainda na infância, em Orocó (PE), sua cidade natal. Passou para o futebol de 5 aos 23 anos, em Petrolina (PE). O jogador tem se notabilizado por ser carrasco da Argentina. Ele fez gols contra o rival sul-americano no Mundial de Madri, em 2018, e na Copa América, em 2019.

"Foram especiais porque garantiram a nossa vitória em ambas as competições", lembra.

SALUM KASHAFALI (NORUEGA)

Salum Kashafali, 27, conseguiu um feito e tanto nos Jogos Paralímpicos de Tóquio-2020: ao vencer os 100 m classe T12 (deficientes visuais), cravou 10s42. O novo recorde mundial também se tornou o tempo mais rápido da história dos 100 m em Paralimpíadas, contando todas as classes.

O norueguês ficou a apenas 0s01 do recorde mundial do brasileiro Petrúcio Ferreira, da classe T47 (atletas amputados), ainda a melhor marca de um atleta paralímpico contando todas as competições.

Kashafali chegou a competir com atletas sem deficiência e foi campeão norueguês nos 100 m em 2019 e nos 60 m indoor em 2015. Ele começou no futebol. O atletismo só chegou em sua vida aos 17 anos, quando perdeu a visão.

Nascido no Congo, Kashafali se mudou para a Noruega aos 11 anos para escapar da guerra civil. "Foi muito difícil porque eu só falava suaíli e francês, mas consegui me adaptar com a ajuda dos amigos. A Noruega salvou minha vida", conta.

"Minha infância não foi correr e jogar futebol, foi conseguir comida e sobreviver. Então, chegar aqui foi como ganhar na loteria. Nunca, em meus sonhos, poderia imaginar que teria um teto sobre minha cabeça e comida na mesa todos os dias", acrescenta.

Por tudo o que viveu e pelas dificuldades que enfrentou na vida, Kashafali diz que não há barreiras impossíveis de transpor.

"Tudo é possível. Não importa se você não pode ver ou andar. Você sempre pode fazer alguma coisa. Levante-se, treine e faça o suficiente para ter sucesso", prega ele, que também é professor de matemática em uma escola secundária em Bergen, cidade onde vive.

SARAH STOREY (GRÃ-BRETANHA)

Aos 43 anos, Sarah Storey mostrou que ainda é dominante no ciclismo. A britânica conquistou o ouro nas provas de estrada, contra o relógio e perseguição 3.000 m classe C5. Ela tem uma vasta coleção de medalhas em Paralimpíadas.

Começou na natação, em Barcelona-1992, aos 14 anos, na classe S10 (atletas com limitações físico-motoras). Nas piscinas, somou cinco ouros, oito pratas e três bronzes até Atenas-2004. Em Pequim-2008, estreou no ciclismo. Desde então, já acumula mais 12 ouros. É a recordista britânica, com 17 medalhas douradas.

"Minha maior motivação é curtir o que faço enquanto tento encontrar a melhor versão de mim em uma bicicleta", afirmou Sarah em entrevista ao jornal britânico The Guardian.

SHINGO KUNIEDA (JAPÃO)

Shingo Kunieda, 37, natural da capital do Japão, foi escalado para fazer o juramento dos atletas na cerimônia de abertura de Tóquio-2020. Por esse papel, dá para imaginar a importância do tenista para a delegação japonesa.

Kunieda mostrou em casa o que se esperava dele: ganhou o ouro no torneio de simples, disputado entre atletas cadeirantes. Ele já havia conquistado o título de simples em Pequim-2008 e Londres-2012 e de duplas em Atenas-2004.

Em Grand Slams, que englobam os quatro principais torneios do circuito internacional de tênis (Aberto da Austrália, Roland Garros, Wimbledon e Aberto dos Estados Unidos), ele soma 45 troféus, com 24 conquistas em simples e 21 nas duplas.

Apesar do histórico vitorioso, o tenista prega que sempre é possível evoluir.

"O mais importante para mim é o quanto ainda poderei aprender ao longo da minha carreira. Sinto que tenho muito espaço para crescer e ainda posso conseguir melhorar até me aposentar do esporte", diz.

TAN SHUMEI (CHINA)

É difícil se sobressair em uma delegação que liderou a classificação geral, com 96 ouros e 207 medalhas, mas Tan Shumei, 32, conseguiu, contribuindo com três ouros na esgrima. Ela foi campeã da espada (individual e por equipes) e sabre (individual), todos na categoria B, disputada em cadeira de rodas. Ela só não teve a chance de ganhar a disputa de sabre por equipes porque a modalidade não fez parte do programa.

Foi isso o que aconteceu no Mundial de Cheongju, na Coreia do Sul, em 2019, quando deixou o tablado de competição para  colocar no pescoço as quatro medalhas douradas.

Shumei começou titubeante a competição individual de sabre, perdendo na estreia da fase preliminar para a ucraniana Olena Fedota por 5 a 3. Mas, em seguida, enfileirou 16 vitórias seguidas, incluindo o triunfo sobre a brasileira Monica Santos, para ficar com o ouro nas duas disputas individuais. Por equipes, foram mais 12 vitórias.

Para ser competitiva em duas armas diferentes, uma raridade na esgrima, Shumei tem uma receita.

"Sabre e espada são provas muito diferentes, mas eu treinei tanto que posso disputar as duas em alto nível", afirmou, após provar ser verdade.