Se Ceará e Fortaleza não sentem o impacto da paralisação do Campeonato Cearense, donos de elencos numerosos e com participação em competições mais rentáveis, os clubes menores vivem uma realidade completamente diferente. Com o Estadual paralisado desde o dia 12 de março, com apenas uma rodada da 2ª Fase disputada, clubes como Icasa, Pacajus, Caucaia, Atlético e Crato ficaram inativos. Restam 8 datas a serem jogadas no Estadual: 6 da 2ª Fase, uma para a semifinal e outra para a decisão. Vovô e Leão, ao contrário, tiveram mais tempo para trabalhar.
Com um mês de chuteiras escanteadas, comissões técnicas e jogadores com mais mercado foram dispensados. O resultado disso são elencos mais fracos quando o Estadual retornar. Ainda que os clubes tenham uma expectativa de retorno, muitos gestores admitiram incômodo com a condução da competição.
Icasa
O presidente do Icasa, França Bezerra, afirmou que o clube já voltou ao treinamentos, sob o comando de Roni Araújo, que era auxiliar de Washington Luiz, e terá um elenco mais modesto. Ele informou que novas contratações precisaram ser feitas.
"Estamos com os treinamentos parados, mas voltamos às atividades fisicas, pois acreditamos que em breve possam ter novas determinações, com esporte e futebol liberados. Quem tinha que sair já saiu e agora é fazermos novas contratações. Temos vários nomes agendados, para na hora que liberar a gente assinar os contratos. O Roni Araújo comandará o time, o treinador da base, para a 2ª Fase. Não temos mais como fazermos mais investimentos".
França também criticou a continuidade dos campeonatos do Nordeste e Copa do Brasil, enquanto só o Cearense parou.
"O que fizeram com o Campeonato Cearense foi uma coisa terrível. Não tem lógica o Campeonato Cearense ficar parado e liberarem o Nordeste e a Copa do Brasil. É uma coisa injusta, não existe isso. O futebol cearense tem poucos clubes agora, são poucas cidades e os protocolos mostraram que não apareceu ninguém doente. Nem na Série B do Cearense que ganhamos apareceu. A Fares Lopes a mesma coisa, todos testados".
Além de Washington Luiz, deixaram o clube jogadores importantes como Thiaguinho, Alemão, Stronda, Júnior Juazeiro, Romário e Esquerdinha. O Verdão liberou ainda por empréstimo um de seus melhores atletas, o atacante Nael, já que receberá uma compensação do Goianésia (GO).
Pacajus
O Pacajus fazia uma campanha surprendente no Estadual e sentiu muito o impacto da paralisação. Os jogadores foram dispensados e liberados para procurar outros clubes. Caso o Estadual retorne e ainda estejam sem clube, poderão assinar novo contrato e jogar pelo Indio, incluindo o treinador Roberto Carlos, que fazia um grande trabalho.
"Ficamos um mês aguardando o retorno do Campeonato. Achamos que era 15 dias, e chegou em um mês e não aguentamos. Tivemos que liberar os jogadores. Vamos montar uma equipe com o Sub-20, amadores, para poder jogar".
Cristiano criticou Ceará e Fortaleza. Segundo ele, os clubes que não quiseram que o Estadual fosse disputado no início do ano, com receio de serem eliminados na 2ª Fase pelo calendário repleto de jogos.
"Agora Ceará e Fortaleza podem até botar o Sub-23 como estão querendo, o Ceará disse e o Fortaleza deve fazer a mesma coisa. Eles acabaram com o futebol cearense, com os times menores. O Campeonato só não voltou por causa deles, porque eles não queriam. No momento que parou, eles apoiaram, porque não tinham elenco naquele momento para jogar, vinham do Campeonato Brasileiro e corriam risco de nem se classificar. O Ceará perdeu pro Ferroviário na estreia. Agora quando voltar, que será quando eles quiserem, em maio, vão ganhar fácil com o Sub-23 deles".
Atlético
O Atlético Cearense continua treinando normalmente, em ritmo de pré-temporada, aguardando a Série D do Campeonato Brasileiro, que começa no dia 26 de maio. Ter uma competição nacional no calendário mais próxima é o que diferencia dos demais. Assim, o clube manteve o planejamento, não dispensou jogadores, mas ainda assim alega prejuízos financeiros e também técnicos, já que o clube corre o risco de jogar o Estadual paralelamente com a Série D.
"Somos as pessoas menos credenciadas para falar do Campeonato Cearense, que está parado há muitos dias e nós não temos um direcionamento sobre o que vai acontecer com o Campeonto. Talvez tanha uma perspecriva para o próximo mês e já se avizinha a Série D do Brasileiro. Isso sempre acontece com os times menores. A gente vai na hora que chamam. Não parece que nós fazemos parte de um planejamento. Nós não fomos convidados para participar das decisões mais importantes. E de fato, eu pelo menos não fui convidada para uma reunião para que me dissessem que vão parar hoje e continuar tal dia".
A presidente do clube, Maria Vieira, criticou a condução do Estadual e o decreto do Governo do Estado. Para ela, é indefensável liberar competições nacionais como a Copa do Brasil, regionais como a Copa do Nordeste, e paralisar o campeonato estadual, o Cearense.
"Fiquei indignada porque um decreto foi parcial, injusto e os favorecidos nós sabemos quem foram. Um decreto que proíbe o campeonato cearense, mas libera um Campeonato do Nordeste e uma Copa do Brasil é parcial. Isso é muito louco para compreender, uma tese indefensável, se pode um e não pode o outro. Não acho que seja um decreto que Covid. Acredito que tenha a ver com calendário para favorecer outros clubes. Não foram justos conosco".
Em seguida, Maria afirmou que era invíavel dipensar jogadores que faziam parte de um planejamento para o Estadual e contratar outros visando a Série D, por ter que iniciar todo um processo de pré-temporada.
"Fizemos um planejamento de elenco, de gastos, para o Campeonato Cearense e uma pré-temporada para o campeonato. Considerando que paramos mais de um mês, se eu tivesse mandado todos os jogadores embora, eu teria que fazer uma nova pré-temporada e recomeçar um trabalho"
Caucaia
O Caucaia dispensou atletas importantes como Ciel, Magno Alves. Outros jogadores foram emprestados, os casos de Everton, Guto, Zé Oliveira, Hugo e Roni Lobo.
Assim como Atlético Cearense, o Indio está na Série D do Brasileiro e deve reformular seu elenco. O presidente Roberto Góes foi procurado pelo Diário do Nordeste mas não atendeu as ligações. Assim como representantes do Crato.
O presidente da Federação Cearense de Futebol (FCF), Mauro Carmélio, também foi procurado pelo Diário do Nordeste, mas não respondeu aos questionamentos.