O jeito mineiro de preparar um bom queijo pode se tornar muito mais do que uma prática gastronômica local. O queijo minas artesanal concorre para se transformar em Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, com candidatura defendida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Todo o processo acontece durante a 19ª Sessão do Comitê Intergovernamental da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, da Agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). O evento segue até sábado (7), em Assunção, capital do Paraguai.
"A proposta de reconhecimento tem como objetivo dar visibilidade internacional a esse Patrimônio Cultural nacional, que é uma tradição há mais de três séculos não apenas em Minas Gerais, mas em todo o Brasil", destaca Leandro Grass, presidente do Iphan, em comunicado à imprensa.
Na defesa da candidatura, o Iphan argumenta que a prática do queijo minas é ancestral e que promove a inclusão e o desenvolvimento das populações locais, principalmente da agricultura familiar. O instituto também argumenta que essa produção promove o cuidado com o bem-estar dos animais.
Técnica já é celebrada no Brasil
Para que a produção da iguaria mineira fosse elegível para a conferência da Unesco, houve alguns pré-requisitos a serem seguidos. Dentre eles está o reconhecimento da prática nacionalmente.
Para o Iphan, isso não foi um problema. O queijo minas é reconhecido pelo instituto como Patrimônio Cultural do Brasil desde 2008. Agora, a expectativa da organização é que, com a indicação, os traços artesanais brasileiros sejam levados o resto do mundo, como uma forma de preservar o trabalho de várias gerações.
"Os sabores brasileiros são uma de nossas muitas riquezas. Fazer queijo, culturalmente, traz consigo as características de um território e de seu povo. A possibilidade desse preparo tão característico do Queijo Minas Artesanal ganhar tamanho reconhecimento só demonstra a potência dessa expressão tão importante e simbólica", afirma a ministra da Cultura, Margareth Menezes, no texto de apresentação da candidatura.
Além da celebração em território brasileiro, a técnica do queijo também dependia de um plano de salvaguarda e a anuência da comunidade detentora do bem cultural. O Iphan informa que os modos de fazer do queijo minas atende a todas essas necessidades.
História do queijo mineiro
As origens do queijo minas artesanal remontam à época da colonização brasileira, no século XVIII. Neste período, Minas Gerais se tornou um grande certo de exploração comercial devido à descoberta de ouro na região. Como os viajantes precisavam de um alimento rápido que comportassem os longos trajetos pelo Estado, eles adaptaram a receita portuguesa do queijo coalho à agropecuária bovina brasileira.
Até meados do século XX, a produção do queijo minas era feita de forma quase artesanal. Não eram utilizados processos industriais, mas sim de criação a partir do leite cru extraído da ordenha de bovinos. Por ser um material puro, o líquido ainda preserva microrganismos, como bactérias, leveduras e fungos que contribuem consideravelmente para o sabor característico do queijo artesanal.
Outra característica importante da criação do queijo mineiro está no pingo, um fermento natural adquirido durante a própria elaboração do alimento. Depois de salgado, o queijo libera um soro rico em microrganismos que contribuem com a formação de sua consistência, sabor e aparência.
"A utilização do pingo é uma das tradições mais reconhecidas e associadas ao saber fazer do Queijo Minas Artesanal, sendo item obrigatório para o reconhecimento da categoria", ressalta a publicação “Queijo Minas Artesanal, gosto e territórios”, editada pelo Sesc em 2023.
Atualmente, o queijo artesanal é um dos alimentos mais produzidos em Minas Gerais e vendidos por todo o Brasil. No Estado, microrregiões se destacam na produção da iguaria, como Araxá, Campo das Vertentes, Canastra e Serro.
*Sob a supervisão da jornalista Mariana Lazari.