Leo Dias e o Metrópoles, portal que hospeda a coluna dele, publicaram um pedido de desculpas à atriz Klara Castanho, nesse sábado (25) e domingo (26), após ela divulgar, em uma carta aberta nas redes sociais, ter sido estuprada e doado o bebê fruto do crime para adoção.
A revelação da artista aconteceu horas após ser alvo de uma série de ataques de internautas que a criticaram por escolher não ficar com a criança. O movimento aconteceu após a manifestação da apresentadora Antônia Fontenelle, a partir de um vídeo de Leo Dias em uma entrevista na TV. Ambos trataram o assunto sem mencionar o nome da atriz ou que o bebê era fruto de violência sexual, conforme o Splash.
O Estado da Criança e do Adolescente (ECA) prevê legalmente a entrega voluntária de crianças para a adoção, em um procedimento assistido pela Justiça.
Após Klara Castanho divulgar a carta detalhando o caso, o colunista publicou uma reportagem no Metrópoles com os dados do nascimento da criança, incluindo data e local, informações cujo sigilo deveriam ser resguardado, conforme o ECA. Pouco mais de duas horas depois, o conteúdo foi deletado do portal.
O veículo de comunicação divulgou uma nota em que assumiu que errou ao permitir que detalhes "sobre o triste caso envolvendo uma mulher em situação de extrema vulnerabilidade" fossem publicados.
"Não há justificativa que sustente o argumento do interesse público em conhecer detalhes sobre uma história em que os únicos interessados são a vítima e seus familiares. E, neste caso, a Justiça e o Ministério Público, que intercederam para ajudar Klara no processo de adoção da criança", diz o Metrópoles no comunicado.
No domingo, Leu Dias pediu desculpas à Clara em uma publicação nas redes sociais. Na ocasião, ele revelou que teve acesso às informações sobre a atriz, há cerca de um mês, após apurar detalhes com a própria artista, descobrindo a violência sexual, além de explicar por que logo após o parto decidiu não divulgar o caso.
"Na conversa, Klara me relatou a violência de que foi vítima. E sua decisão de entregar a criança para a adoção. Me pediu que eu não escrevesse sobre o assunto. E eu, prontamente, me comprometi com ela a não expor a história publicamente", afirmou Dias.
No mesmo dia, Antônia Fontenelle publicou um vídeo nas redes sociais em que disse que, quando mencionou o fato, não sabia do estupro, e frisou que não chegou a citar o nome de Klara ao falar sobre o assunto. A apresentadora não pediu desculpas à atriz, mas ofereceu ajuda para penalizar o agressor da artista.
Íntegra da nota do Metrópoles
Sobre o episódio de Klara Castanho, erramos. O Metrópoles não deveria ter permitido que o colunista Leo Dias, que publica suas colunas no portal, desse detalhes sobre o triste caso envolvendo uma mulher em situação de extrema vulnerabilidade.
Não há justificativa que sustente o argumento do interesse público em conhecer detalhes sobre uma história em que os únicos interessados são a vítima e seus familiares. E, neste caso, a Justiça e o Ministério Público, que intercederam para ajudar Klara no processo de adoção da criança.
Em relação à Klara Castanho, praticamos mau jornalismo.
Não é uma justificativa. Mas, as circunstâncias neste episódio contribuíram para que o erro demorasse a ser corrigido. A matéria foi ao ar por volta das 21h e retirada duas horas depois.
Assim como os demais colunistas do Metrópoles, Leo Dias tem autonomia para publicar suas informações. Muito embora o portal faça uma ressalva de que o conteúdo dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição do veículo, é claro que, se publicamos o colunista em nossa página, temos responsabilidade pelo conteúdo veiculado.
Em um veículo que publica em torno de 400 conteúdos por dia, erros, lamentavelmente, podem ocorrer. Tanto de informação, quanto de avaliação. E, em geral, somos rápidos em fazer o que for preciso para reparar os eventuais equívocos.
Esta postagem ocorreu já na noite de sábado, no final do expediente, quando havia pouquíssimos colegas na redação. Falhamos em não notar imediatamente que a matéria havia sido publicada pela equipe do colunista. Isso não exime a culpa da equipe do Metrópoles. Todos erramos. E, por isso, pedimos perdão à Klara. Ela não merece julgamento. Não merece exposição. Merece acolhimento, respeito e empatia de todos nós.
O triste episódio servirá de lição para que façamos uma avaliação profunda sobre procedimentos em nossas rotinas. A todos os leitores, um respeitoso pedido de desculpas.
Entenda o caso
A atriz Klara Castanho publicou carta aberta relatando ter sido vítima de estupro quando estava longe de familiares e amigos. A atriz ainda relatou que engravidou e entregou a criança direto para adoção. Em publicação no Instagram, compartilhou que não sabia sobre a própria gravidez.
Após a violência sexual, Klara tomou a pílula do dia seguinte e tentou seguir a vida apesar do trauma. No entanto, após sentir muitas dores, foi ao médico e descobriu a gravidez em meio a uma tomografia.
"Fui informada que eu gerava um feto no meu útero. Sim, eu estava quase no término da gestação quando eu soube. Foi um choque. Meu mundo caiu. Meu ciclo menstrual estava normal, meu corpo também. Eu não tinha ganhado peso e nem barriga", detalhou.
A atriz ainda sofreu violência médica depois a descoberta da gravidez. "Esse profissional me obrigou a ouvir o coração da criança, disse que 50% do DNA eram meus e que eu seria obrigada a amá-lo. Essa foi uma da série de violências que aconteceram comigo", disse.
Então, procurou uma advogada e tomou a decisão de entregar a criança diretamente para adoção.
Ameaça do vazamento
No dia do nascimento, uma enfermeira ameaçou Klara de vazar a informação, enquanto ela ainda estava sob efeito da anestesia. "Imagina se tal colunista descobre essa história", disse a profissional de saúde.
"Quando cheguei no quarto já havia mensagens do colunista, com todas as informações. Ele só não sabia do estupro"
Segundo ela, estava buscando resguardar a vida e o futuro da criança. "Como mulher, fui violentada primeiramente por um homem e, agora, sou reiteradamente violentada por tantas outras pessoas que me julgam", apontou.
Para ela, é doloroso ter que se pronunciar sobre um assunto tão íntimo. "Me faz ter que continuar vivendo essa angústia que carrego todos os dias", concluiu.
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