Dúvidas e indefinições sobre aulas presenciais marcam início do ano letivo nas escolas estaduais

Retorno às atividades escolares em modelo híbrido, mesclando aulas presenciais e remotas, foi autorizado pelo Governo do Ceará, mas nem todas as escolas já definiram sob que condições irão voltar

A partir desta segunda-feira (1º), início do ano letivo nas escolas públicas da rede estadual, está autorizada a retomada de aulas presenciais. Esse retorno, porém, não deve acontecer de imediato em todas as escolas e não segue padrão imposto pelo Governo, que, desde a semana passada, deixou sob a responsabilidade das comunidades escolares a decisão sobre os formatos da volta.

Diário do Nordeste solicitou à Secretaria da Educação do Estado do Ceará (Seduc) a lista das escolas que já definiram o retorno às aulas no modelo híbrido, mas a Seduc não informou. O Sindicato dos Professores e Servidores da Educação do Ceará (Apeoc) também foi procurado, mas também não repassou a listagem.

Na escola Gentil Barreira, no Conjunto Ceará, as turmas do primeiro ao terceiro ano do ensino médio foram convocadas para comparecer presencialmente à instituição nesta segunda-feira (1º), em diferentes horários, das 7h10 às 17h40. Rebeca Sales, 17, do terceiro ano, contou que ela e os colegas foram informados do encontro na última quinta-feira (28), pelo WhatsApp. Ela tem a expectativa de que será anunciado o retorno presencial às atividades escolares.

Expectativas e receios

“Acredito que a maioria [dos alunos] vá”, aposta a estudante. Segundo ela, que compõe o grêmio estudantil, os colegas estão ansiosos para voltar presencialmente, ainda que num modelo híbrido — de aulas remotas e presenciais — e em esquema de rodízio. “A gente passa dois anos do ensino médio vendo o pessoal do terceiro ano tendo aulões e outras programações exclusivas e, quando chega a nossa vez, não tem nada. Quebra muito as expectativas. Se tiverem esses momentos presenciais, vai mudar nossa perspectiva”, entende.

Como Rebeca, também no Conjunto Ceará, Angélica Damasceno, 16, do segundo ano do ensino médio do Liceu do bairro, conta que a turma somente foi chamada para um momento presencial para explicação sobre o modelo de retorno às aulas. “Explicaram todo o cuidado que devemos ter e que não é obrigatório. Só ir se o responsável permitir”. Por enquanto, a adolescente não sabe se vai optar por ir presencialmente, caso haja a possibilidade.

Já na Adauto Bezerra, escola da Júlia Maria Rodrigues, 15, a informação passada para os alunos é de que, no momento, o retorno às aulas será remoto. “O retorno [presencial] já é certo. Porém, como será organizado, ainda não [se sabe]. Só falaram que será em fevereiro, mas ainda não temos um dia específico”, compartilhou a estudante, que inicia, agora, o segundo ano do ensino médio. Além do mês cogitado para a volta, ela sabe que a presença física em sala de aula será opcional para todos os estudantes. 

“Ainda não me sinto segura para voltar presencialmente. Me sentirei quando apresentarem um plano a ser seguido pelos alunos”, confessa Júlia.

Mesmo assim, as aulas remotas, para ela, têm sido complicadas. “Não tem toda a interatividade entre aluno e professor e, além disso, temos que usar outros métodos, como YouTube, Google, para complementar uma explicação, pois o tempo de aula é bem curto”, compartilha.

Segurança de professores

Professor de matemática na Adauto Bezerra, Germano Uchôa também não se sente seguro para retornar presencialmente e diz que, na escola, o modelo híbrido ainda está em discussão. “Para o dia 1º ficou inviável fazer híbrido”, admitiu o profissional, lembrando que a instituição tem educadores em grupo de risco para a Covid-19 — ele, inclusive —, que as turmas são grandes, de 50 a 65 alunos, e que, mesmo permitindo somente 50% presencial, ainda seriam muitas pessoas reunidas, quando a recomendação ainda é de distanciamento social.

“Acredito, objetivamente, que o sistema presencial ou mesmo híbrido se dará, acima de tudo, pela atenção de os professores receberem vacinas, e os alunos”, defende o professor. 

‘Expertise do híbrido’

Em entrevista ao Diário do Nordeste na semana passada, o secretário-executivo da Seduc, Rogers Mendes, explicou que o retorno híbrido será decidido de forma pactuada com as escolas, e não impositiva, para que cada uma tenha autonomia para definir os detalhes do modelo e adquirir expertise nele. “Porque não é só uma alternância de aulas presenciais e remotas, é um projeto pedagógico diferenciado”, compreende o gestor.

De acordo com o secretário, o Governo disponibiliza para as escolas recursos tecnológicos como câmeras e computadores, itens de higiene e proteção individual como máscaras e álcool em gel, e suportes como chips de internet e tablets para os estudantes acompanharem de casa as aulas remotas. “A gente não vai condicionar a conclusão do ano letivo ao aluno ter que estar presente na escola”, assegura.

O retorno presencial, segundo Rogers, deve priorizar estudantes que mais tiverem dificuldades em assistir às aulas remotas. “A gente fez um trabalho intenso e identificou 10% dos alunos com mais dificuldade de interagir pela tecnologia. Esse é o público que a gente quer, prioritariamente, beneficiar”, afirmou.