'Xiringadores' são removidos das ruas de Fortaleza e Prefeitura abre edital para instalar 150 novos

Custos para instalação e manutenção por um ano serão de R$ 16,3 milhões, a serem pagos pela empresa selecionada

Atualização: Ao contrário do que informava o título anterior desta reportagem, "todos os custos para implantação, operação e manutenção" dos novos "xiringadores" ficarão a cargo da empresa contratada, como reforçou a Citinova.

Quando o primeiro “totem de hidratação” foi instalado na Av. Beira Mar, em setembro de 2023, o apelido dado pela Prefeitura de Fortaleza – “xiringador” – o tornou mais popular do que a própria utilidade. Um ano depois, os oito totens “sumiram” da cidade, sob protesto de usuários – mas a gestão municipal pretende instalar outros 150, com gasto estimado de R$ 16,3 milhões a ser bancado pela empresa contratada.

A reportagem do Diário do Nordeste percorreu seis dos pontos indicados como localizações dos xiringadores. Todos já estavam vazios. “Muita gente passava, molhava o rosto e até tomava água. Faz falta com certeza, num calor desse”, relata o vendedor Holanda, 61, que trabalha na Av. Américo Barreira, no bairro Demócrito Rocha, onde um dos totens ficava.

Em outro ponto da cidade, na Av. Bezerra de Menezes, o uso do xiringador ia além de ciclistas e corredores, como relata o ambulante Antônio João, 46. “O pessoal de bicicleta e que fazia caminhada usava muito pra se refrescar, mas quem sentiu mais falta foi um rapaz ‘morador de rua’ que banhava a cachorrinha”, narra.

A expansão do “público-alvo” foi vista como positiva pelos idealizadores do xiringador, os sócios da startup Saving The World (STW). Rafael Frota, um deles, afirma que a ideia era “um projeto de saúde e de equidade da água”, para ofertar refrescamento corporal e acesso à água potável gratuita.

“No da Maraponga, ouvimos depoimentos de que era maravilhoso, porque pessoas em situação de rua tinham que bater na porta de pessoas pra conseguir água, e agora tinham o xiringador”, pontua.

R$ 15 mil
foram investidos pela STW para instalação de cada um dos totens, mais R$ 700 anuais para manutenção de cada totem. No total, a operação dos oito xiringadores por 1 ano custou R$ 187,2 mil.

Erguido na orla, próximo ao cruzamento com a rua José Vilar, o primeiro xiringador chegou em plena onda de calor enfrentada pelo Brasil no segundo semestre de 2023. Em duas semanas, foi acionado 42 mil vezes, de acordo com a empresa idealizadora, a STW.

Em nota, a Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação de Fortaleza (Citinova), órgão municipal responsável pela parceria com a STW, informou que as estações de hidratação foram instaladas como projeto piloto, dentro do programa Pedala Mais Fortaleza, próximo a ciclovias e ciclofaixas com alta demanda.

“A iniciativa foi resultado de um Acordo de Cooperação Técnica, com duração de um ano, estabelecido entre a Citinova e a STW, que ficou responsável pela instalação e manutenção dos totens”, acrescenta a fundação, justificando por que os totens foram removidos da cidade.

Investimento milionário

Na fase piloto, o custo para instalação e manutenção dos xiringadores ficou a cargo da STW. A contrapartida da empresa seria o retorno publicitário, conforme Rafael. A Citinova frisa que "a contrapartida foi a empresa poder testar o equipamento em ambiente real". À Prefeitura, coube pagar o gasto com a água, fornecida diretamente pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). A reportagem solicitou à Cagece quanto foi gasto no período, mas não houve resposta até esta publicação.

Por outro lado, uma licitação aberta pela Prefeitura de Fortaleza em agosto deste ano, com inscrições até dezembro, pretende contratar empresa para instalar 150 novos xiringadores pela cidade. O investimento previsto é de R$ 109 mil por totem, totalizando R$ 16.350.000 para um ano de operação, sob custo privado.

Em nota, a Citinova reforçou que a decisão foi feita porque, "durante esse período de teste, foram realizadas pesquisas que permitiram avaliar as estações de hidratação e nebulização como uma solução positiva para a cidade". 

Rafael Frota avalia que a discrepância entre o valor de um totem na fase piloto e o da licitação municipal se dá porque “o que pediram na licitação acaba inviabilizando a participação de empresas”.

“Colocaram tantos custos extras para as empresas participarem, que não vale a pena pra ninguém. Pediram câmeras, analítico de vídeo, servidor para análise de todos os dados, coisas que, hoje, pra começar a pensar em participar, eu já teria um custo de mais de R$ 2 milhões anuais”, estima.

O sócio da STW afirma que gestões municipais de outras cidades, como Manaus e Maceió, já demonstraram interesse em importar a iniciativa cearense. Além disso, Rafael destaca que espera que a próxima gestão de Fortaleza dê continuidade aos “xiringadores”.

Onde ficavam os “xiringadores”

Apesar de só haver confirmação sobre instalação de 8 xiringadores, um mapa disponibilizado pela Prefeitura de Fortaleza indicava 10 pontos:

  1. Av. Beira Mar, próximo ao cruzamento com a Rua José Vilar;
  2. Av. Beira Mar, próximo ao Hotel Gran Marquise;
  3. Areninha do Pirambu;
  4. Av. Bezerra de Menezes, próximo ao Instituto dos Cegos;
  5. Parque Rachel de Queiroz;
  6. Av. Américo Barreira com Rua Rio Grande do Norte;
  7. Av. Rogaciano Leite com Av. General Murilo Borges
  8. Lago Jacarey (Av. Viena Weyne)
  9. Av. Godofredo Maciel com Rua Wenefrido Melo;
  10. Praça da Juventude (Rua Antônio Nery, na Granja Portugal)