Desde o ano passado, o último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vem revelando diversas mudanças no perfil da população cearense, como aumento de autodeclarações de pretos, pardos e indígenas e maior proporção de idosos. Além disso, a pesquisa também indica alterações na quantidade de habitantes por bairros em Fortaleza: ao todo, 40 territórios ganharam moradores e 81 tiveram diminuição.
Para chegar ao levantamento, o Diário do Nordeste cruzou projeções do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Fortaleza (Ipplan Fortaleza), cuja proposta é desenhar políticas baseadas em evidências, com dados dos Censos Demográficos de 2010 e 2022.
A primeira grande mudança foi o surgimento de dois bairros. Em 2010, a capital contava com 119 territórios. Porém, em 2019, foi oficializada a inclusão do Aracapé e do Novo Mondubim na lista, levando aos atuais 121. Logo, esses dois locais estão entre os que mais “ganharam” habitantes na comparação, com 18.943 e 18.537, respectivamente.
As 10 localidades que registraram maior incremento estão localizadas na periferia. Veja a quantidade de novos moradores:
- Jangurussu: +20.172
- Prefeito José Walter: +20.028
- Aracapé: +18.943
- Novo Mondubim: +18.537
- Pedras: +15.759
- Manuel Dias Branco: +14.626
- Siqueira: +11.866
- Paupina: +11.781
- Granja Lisboa: +11.378
- Dendê (hoje Rachel de Queiroz): +7.801
Por outro lado, os bairros vizinhos ao Aracapé e ao Novo Mondubim foram os que mais “perderam” moradores, dada a reconfiguração espacial na região. O Mondubim “perdeu” 13,6 mil habitantes, só não mais que a Vila Manuel Sátiro (-30,1 mil). Além deles, as maiores baixas ocorreram nos bairros:
- Barra do Ceará: -8.946
- Vila Velha: -8.736
- Conjunto Palmeiras: -8.376
- Bonsucesso: -5.432
- Carlito Pamplona: -5.403
- Genibaú: -4.901
- Quintino Cunha: -4.796
- Floresta: -4.533
Embora tenha perdido cerca de 12% da população em relação a 2010, a Barra do Ceará manteve sua colocação como o segundo bairro mais populoso da cidade, com 63,5 mil moradores.
Confira, abaixo, a situação de cada território:
Para Lilian Lopes Ribeiro, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e integrante do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), o fator econômico explica boa parte das migrações internas que ocorrem no Brasil. "A renda domiciliar per capita no Ceará esteve entre as mais baixas do Brasil em 2023. E isso pode explicar, em parte, o fluxo migratório interno em Fortaleza ter ocorrido especialmente em direção a bairros da periferia", avalia.
Em relação ao uso dos dados, ela lembra que o investimento em educação de qualidade desde a primeira infância é imprescindível para o aumento da mobilidade intergeracional e, consequentemente, melhorar indicadores de desigualdade de renda. No curto e médio prazo, ela sugere a adoção de diversas frentes, como o fortalecimento de políticas de geração de trabalho e renda.
Sabemos que boa parte das pessoas que vivem nas periferias empreendem muitas vezes não por vontade, mas devido à falta de oportunidade no mercado de trabalho formal. Uma política de microcrédito que exija como contrapartida a capacitação do tomador de empréstimo aumentaria as chances do microempreendimento prosperar, ao mesmo tempo em que garantiria uma maior eficácia dessa política.
Reduzir desigualdades
Assim como a pesquisadora, a arquiteta e urbanista e presidenta do Ipplan Fortaleza, Larissa Menescal, considera os dados como “fundamentais” para analisar e entender as dinâmicas populacionais e direcionar a aplicação de recursos públicos em áreas prioritárias.
“De fato, consolidando os bairros mais populosos, especialmente na zona periférica, no oeste e no sul. E a gente vem investindo muito nas áreas mais periféricas. Desde 2016, quando o plano Fortaleza 2040 foi entregue, o foco do planejamento estratégico nunca mais deixou de ser a redução de desigualdades”, pondera.
Com isso, ela pensa ser “natural que a qualidade de vida dos bairros mais periféricos tenha melhorado porque o montante de investimentos, recursos e projetos das mais diversas naturezas, desde educação, empreendedorismo, infraestrutura e capacitação, foram muito focados em dados e evidências”.
Entre as ações já realizadas, ela cita a construção de mais escolas de tempo integral, implantação de novos Cucas e microparques, expansão da malha cicloviária, requalificação de ruas, abertura de cursos de empreendedorismo e capacitação profissional e benefícios fiscais para que empresas se instalem nessas áreas.
“Nossa expectativa é coletar frutos positivos desses investimentos já feitos. É uma base econômica que se fortalece e pode dinamizar um setor que não era priorizado”, afirma Menescal.
Em breve, explica ela, o Instituto também deve atualizar o Índice de Desenvolvimento Humano por bairro (IDH-B), que leva em conta dados de renda, longevidade e alfabetização.
Bairros mais populosos
A projeção do Ipplan também identifica os bairros com mais moradores na capital, indicando mudanças no ranking. O Jangurussu teve movimentação recorde e ganhou mais de 20 mil habitantes no mesmo intervalo, assumindo a liderança como bairro mais populoso da capital - em 2010, ele era o 6º, com pouco mais de 50 mil pessoas.
O Mondubim, que encabeçava os demais em 2010, passou pelo processo de desmembramento e agora aparece em 3º. Já o José Walter, segundo que mais cresceu, passou da 22ª para a 7ª colocação na cidade. A Aldeota, único representante da “área nobre” em 2010, saiu da lista e agora está em 12º lugar.
- Jangurussu: 70.651
- Barra do Ceará: 63.477
- Granja Lisboa: 63.420
- Mondubim: 62.440
- Passaré: 54.870
- Prefeito José Walter: 53.455
- Vila Velha: 52.881
- Vicente Pinzón: 46.151
- Siqueira: 45.494
Bairros menos populosos
A lista dos 10 bairros com menos habitantes também mudou. Pedras deixou de ser o local menos populoso, cedendo o posto para o De Lourdes. Com a migração de moradores, Parque Araxá, Parque Manibura, Bom Futuro e Praia do Futuro I passaram a constar na lista. Por outro lado, além do Pedras, Dendê, Guararapes e Manuel Dias Branco (antigo Dunas) também deixaram a "lanterna".
- Parque Araxá: 6.100
- Parque Manibura: 5.938
- Bom Futuro: 5.260
- Salinas: 4.837
- Couto Fernandes: 4.645
- Praia do Futuro I: 4.329
- Sabiaguaba: 3.485
- Praia de Iracema: 3.033
- Moura Brasil: 3.029
- De Lourdes: 2.310