A varíola dos macacos tem preocupado autoridades de saúde após registros de casos na África, Europa e Estados Unidos. Atualmente, existem vacinas contra a doença, mas elas não estão amplamente disponíveis para a população geral.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacina contra a varíola humana tem cerca de 85% de eficácia contra a varíola dos macacos. A questão é que, como a varíola humana foi erradicada há mais de 40 anos, as campanhas de imunização pararam de ocorrer.
Erradicar uma doença significa reduzir a zero sua propagação no ambiente. No Brasil, o último caso da varíola foi registrado em 1971. Mundialmente, o reconhecimento da erradicação ocorreu em 1979, pela OMS.
Logo, como a doença parou de circular em todo o globo, as autoridades de saúde decidiram interromper a imunização. Ou seja, populações de todos os países com idade inferior a 40 ou 50 anos nunca tomaram essa vacina.
A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) confirmou que o imunobiológico contra a varíola não está incluída no Plano Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde (MS), “assim como não há um fluxo de comercialização entre Estados e a indústria farmacêutica”.
A representante de uma clínica de imunização, em Fortaleza, também afirmou que essa vacina não está disponível nem mesmo para compra privada no Brasil.
O Ministério da Saúde confirmou que, após o Brasil receber a Certificação Internacional da Erradicação da varíola humana, em 1973, foi decretado o fim das campanhas de vacinação. A Pasta não respondeu se atualmente há alguma reserva técnica do imunizante, se há intenção de compra e nem para quais públicos ele seria destinado.
Além disso, o MS criou uma Sala de Situação para elaborar um plano de ação para o rastreamento de casos suspeitos e a definição do diagnóstico da doença. “Até o momento, não há notificação de casos suspeitos da doença no País”, ressalta.
Barrar a transmissão
O imunologista Edson Teixeira, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), considera que ainda não há motivo para grande preocupação, mas é preciso monitorar a evolução da doença.
Ela é menos letal do que a variedade original e não tem tratamento específico. Teria que se pensar, caso haja a aceleração do número de casos ao redor do mundo, no desenvolvimento de uma vacina específica, mas a vacina da varíola [humana] já promove alguma proteção".
Segundo o especialista, o ideal neste momento é impedir a chegada do vírus ao Brasil e, consequentemente, sua transmissão comunitária, já que o país integra uma grande rede de voos internacionais.
Por isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou a manutenção de medidas de proteção individuais e coletivas em aeroportos e aeronaves, como o uso de máscaras e higienização constante das mãos.
“A Anvisa atua consoante às ações das demais agências e organismos de saúde mundiais e permanece monitorando a evolução do quadro em constante contato com o Ministério da Saúde”, ressalta o órgão.
Vacina em outros países
O Instituto Butantan reforça que, embora uma vacina (MVA-BN) e um antiviral específico (tecovirimat) tenham sido aprovados contra a varíola dos macacos, em 2019 e 2022, respectivamente, essas contramedidas “ainda não estão amplamente disponíveis”.
Nem o Butantan nem a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), principais fornecedoras de imunobiológicos ao Sistema Único de Saúde (SUS), produzem vacinas contra a varíola no Brasil.
No caso americano, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) afirma que, em situações não-emergenciais, somente militares e pesquisadores de laboratório que trabalham diretamente com a família de vírus Orthopoxvirus têm recomendação para receber o imunizante.
No Reino Unido, as autoridades oferecem a vacina contra varíola comum a profissionais de saúde e pessoas que podem ter sido expostas à varíola dos macacos. Alemanha e França também já ponderam a aplicação em determinados públicos.
Sintomas e transmissão
Para o imunologista Edson Teixeira, a varíola assusta porque causou mortes no passado, só sendo controlada após a campanha de vacinação em massa feita pela OMS. Por isso, o ideal é impedir sua disseminação em outros países.
A varíola dos macacos, ou “monkeypox”, é transmitida aos seres humanos através do contato próximo com pessoas ou animais infectados, como lesões, fluidos corporais e gotículas respiratórias; ou com objetos contaminados com o vírus, como roupas de cama.
A doença costuma ser autolimitada (tem um fim sozinha), com os sintomas durando de duas a quatro semanas. Mesmo assim, casos graves podem ocorrer, e a taxa de mortalidade é de 3% a 6%.
Conforme o Butantan, os sintomas iniciais incluem:
- febre
- dor de cabeça
- dores musculares e nas costas
- linfonodos inchados
- calafrios
- exaustão
- lesões na pele se desenvolvem primeiramente no rosto e depois se espalham para outras partes do corpo, incluindo genitais
As lesões parecem as da catapora ou da sífilis até formarem uma crosta, que depois cai. A recomendação atual é que pessoas infectadas fiquem isoladas e em observação por 21 dias.