Um cenário completamente distinto dos anteriores devido à explosão de contaminações, mas que, nessa altura, é visto como uma janela de oportunidade de controle da Covid. Assim, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) definem o atual estágio da pandemia.
No momento, com muitas pessoas imunes temporariamente à doença, se a vacinação for intensificada, argumentam, há possibilidade de redução considerável da circulação do vírus. Mas, quanto tempo teremos? E o que é preciso reforçar agora?
Pessoas que têm acima de 5 anos não receberam a primeira dose da vacina, até o momento, no Ceará.
O epidemiologista, pesquisador em Saúde Pública e integrante do Observatório Covid-19 da Fiocruz, Raphael Guimarães, explica que a variante Ômicron tem maior capacidade de infecção.
"Para a nossa sorte isso (aumento de casos) aconteceu no momento em que tínhamos uma cobertura vacinal um pouco mais avançada. Esse aumento não foi acompanhado de um aumento explosivo de internações e óbitos. Isso é mérito da vacina”.
De acordo com ele, ainda há muitas incertezas quanto à imunidade adquirida por quem se contamina com o coronavírus e a literatura sobre o assunto é abrangente. Contudo, destaca, “a maior parte dos estudos, fala em 70 a 80 dias após a ocorrência da doença, nos quais a pessoa não fica doente novamente”.
Portanto, é exatamente esse o período que as gestões têm para aproveitar a “janela de oportunidade” e tentar acelerar a vacinação, reduzindo a quantidade de pessoas suscetíveis e a circulação do vírus.
No Ceará, para aproveitar essa janela de oportunidade, nos próximos meses, é preciso vacinar ainda ao menos 997 mil pessoas que têm acima de 5 anos e não receberam a primeira dose até o momento.
Janeiro, no Estado, foi o mês com o maior número de casos de Covid em toda a pandemia. Conforme dados do Integrasus, plataforma da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Foram ao menos 215 mil casos. O total supera todos os registros de contaminação no Estado entre junho e dezembro de 2021.
Reforço na vacinação
Do total de 8,5 milhões de pessoas vacináveis moradoras do Ceará, 7,5 milhões já tomaram a primeira dose, até o dia 16 de fevereiro, conforme o vacinômetro da Sesa. Outras 997 mil pessoas ainda precisam ser vacinadas com ao menos uma dose.
Do total de vacináveis, 76,7% tomaram a segunda dose e 29,3% receberam a dose de reforço no Estado. O pesquisador da Fiocruz destaca que ainda há no país como um todo bolsões de pessoas não vacinadas e esse cenário, destaca, “tem uma relação muito grande com aspectos da vulnerabilidade social desses locais”.
A Fiocruz reforça a adoção de quatro estratégias de saúde pública para aproveitar essa “janela de oportunidade” de controle da pandemia. São elas:
- Garantir oportunidade de aplicação da vacina, com a disponibilidade em unidades com horário de funcionamento expandido e em postos móveis;
- Realização de busca ativa para convencer pessoas que ainda não iniciaram o esquema vacinal, seja por resistência motivada pelo discurso antivacina, seja por dificuldade extrema de acesso a postos de aplicação;
- Massificação da campanha de incentivo à vacinação de crianças, sob a qual pairam dúvidas infundadas sobre a eficácia e segurança;
- Reforço na divulgação dos benefícios gerados pela correta higienização, assim como o bom uso de máscaras.
Esgotamento de suscetíveis
O epidemiologista e docente da Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luciano Pamplona, também reforça que o atual cenário é reflexo da característica da Ômicron e do alcance da cobertura vacinal.
Ele explica que a tendência é que as “próximas cepas que vão existir e se espalhar causem quase nenhum sintoma ou sintomas muito leves. Pois uma cepa que mata rápido, ela mata o hospedeiro e ela não se espalha. Em um processo pandêmico, a tendência é que, com o passar do tempo, aquelas que vão prevalecendo são as que causam menos casos graves”.
O pesquisador reitera que na terceira onda, a vacina protegeu contra a gravidade e que, a perspectiva é realmente de redução considerável de casos, se for sustentada a cobertura vacinal, ampliado o ritmo de imunização e mantido uso de máscara.
“Em Fortaleza, caso não surja outra cepa, a próxima tendência é de redução brusca (de casos), porque essa cepa do jeito que ela veio muito rápido, ela vai muito rápido, porque ela esgota suscetíveis”.
Outro ponto enfatizado pelo epidemiologista e integrante do Observatório Covid-19 da Fiocruz, Raphael Guimarães, é que o crescimento da cobertura vacinal para as crianças ainda é muito lento. Ela destaca que é preciso desmistificar as informações falsas sobre a vacina infantil.
“As crianças, em geral, são as únicas pessoas completamente desprotegidas e o vírus vai em cima das pessoas desprotegidas”