Precipitações após a quadra-chuvosa, no Ceará, causam estranheza. Afinal, não é comum que esses eventos durem para além do mês de maio. Em 2022, no entanto, as chuvas parecem não dar trégua. Junho e julho, por exemplo, fecharam acima da média e, agosto, apresenta início positivo, com precipitações em várias cidades cearenses.
Mas, o que explica esses bons volumes mesmo após a quadra chuvosa? O meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Flaviano Fernandes, detalha que as precipitações advêm de "sistemas meteorológicos que atuam no leste do Nordeste e estão mais intensos provocando chuvas até no interior do Nordeste e consequentemente no estado do Ceará".
Esses sistemas aos quais Flaviano se referem são os Cavados - região de baixa pressão atmosférica - e Ondas de Leste. Ambos, quando estão em atuação, proporcionam chuvas.
Outro fator determinante para o favorecimento das chuvas no Ceará, ainda conforme Flaviano, diz respeito às águas superficiais do oceano Atlântico Tropical que "continuam quentes". Esse aquecimento das águas tem influência direta na ocorrência das precipitações.
Chuvas essas que se fizeram presentes nas últimas 24 horas. Conforme a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), entre 7 horas de terça-feira (2) às 7 horas desta quarta, dia 3, choveu em mais de 40 cidades.
Os destaques foram em Guaramiranga, com 32,2 mm; seguido por Morada Nova (31,5 mm) e Guaiúba (27 mm). Na Capital cearense, que amanheceu com chuva e céu nublado, a precipitação foi de 9,5 milímetros.
Para os próximos dias, a previsão é de continuidade das chuvas, conforme antecipou o meteorologista da Funceme, Vinícius Oliveira. "Essas áreas de instabilidades [que favorecem a ocorrência de chuvas] devem seguir atuando até sexta-feira", pontuou.
Tendência de romper a média
Assim como aconteceu em julho, agosto também tem tendência de chuvas acima da média. Em somente três dias, as precipitações já acumulam 3,2 mm, o que representam 65% de todo volume esperado para o longo do mês.
Neste período, 20 cidades cearenses já conseguiram superar a média mensal. Confira os cinco municípios com maiores variações pluviométricas neste início de mês:
- Paracuru - 26,8 mm, o que representa 353% acima da média histórica (5,9 mm)
- Morada Nova - 28,1 mm, o que representa 300% acima da média histórica (7 mm)
- Limoeiro do Norte - 21,5 mm, o que representa 247% acima da média histórica (6,2 mm)
- Guaiúba - 27 mm, o que representa 166% acima da média histórica (10,1 mm)
- Sobral - 3,3 mm, o que representa 153% acima da média histórica (1,3 mm)
Em agosto, a média histórica é de apenas 4,9 milímetros. Até novembro, a média pluviométrica mensal é bastante reduzida, com índice que não ultrapassa os 6 milímetros de média. Somente em dezembro essa normal climatológica tem um salto (31,6%). Este é mês que marca o início da pré-estação chuvosa.
Melhor julho em 7 anos
Em julho deste ano, as precipitações foram positivas. Conforme levantamento realizado pelo Diário do Nordeste, com base nos números da Funceme, o mês passado acumulou 27.2 milímetros de chuva, o que representa 76,7% acima da média histórica de julho, que é de 15.4 mm. Índice superior só fora observado em 2015, quando aquele mês acumulou 34 mm.
Já o mês de junho acumulou mais que o dobro do volume de chuvas esperado para o período. O índice de 76,5 mm é o segundo melhor deste milênio, ficando atrás apenas do ano de 2004, que teve junho com 79.4 milímetros, o maior volume médio dos últimos 20 anos.
O maior acumulado absoluto, ou seja, desde que a Funceme começou a monitorar os dados pluviométricos, em 1973, foi verificado no ano de 1993, quando o mês fechou com impressionantes 131.4 mm, volume 250% acima da média histórica.