QUE NEM TU: A adoção fez Messias encontrar o pai Lucineudo e formar família de configuração diversa

Na antevéspera do Dia Nacional da Adoção, a história de como a adoção transformou a vida do professor Lucineudo Machado e seu filho Messias Mateus

Já se passaram quase 9 anos desde que Messias Mateus perguntou se Lucineudo Machado aceitava ser seu pai. O sim ansioso do professor, na varanda da instituição de acolhimento em que o menino morava na época, já dava pistas de que o coração tinha pressa para que eles se tornassem um do outro. De lá pra cá, o garoto travesso se tornou um adolescente orgulhoso de sua história e o recém-nascido pai passou a levantar todos os dias a bandeira da adoção.

A história da família de Lucineudo e Messias foi parar no Que Nem Tu desta quinta-feira (23). Eles compartilharam suas experiências e emoções do se tornar pai e filho. Relataram como a adoção foi definitiva em sua casa e acabou moldando uma configuração familiar tão única quanto rica: com dois pais, três filhos, uma mãe, um padrasto e uma irmã. Outra é gestada em sonho e espera. Deve chegar em breve, também pelas vias da adoção.

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O fato é que foi  a adoção que fez com eles se encontrassem. Na época, o professor morava em Caucaia com a esposa Suelen. Messias vivia na Casa Sol Nascente, instituição de acolhimento de crianças em Fortaleza. O desejo de Suelen era ser mãe pela adoção e foi aí que o casal entrou na fila por um ou dois filhos. Eles desejam crianças maiores e essa opção fez com que em um curto espaço de tempo- apenas 4 meses- eles chegassem até o menino-sorriso.

Lucineudo conta que a filiação afetiva aconteceu rápido. No segundo encontro, Messias já disparou o convite para ser filho. Já havia passado muitos anos desejando uma família. Lucineudo e Suelen queriam muito e haviam se preparado para viver o processo. No entanto, nem tudo foi fácil. Ele compartilha como os primeiros meses de adaptação foram difíceis e exigiram mais esforço da nova família. No entanto, também conta como foi feliz se pegar “não lembrando da sua vida antes dele [Messias] chegar”. Alí ele teve certeza: Eram família!

A história de vida da criança foi respeitada desde as primeiras conversas. O filho ganhou um ninho, mas não perdeu seus antigos afetos. Visitava os amigos que deixara no abrigo- a madrinha, seus primeiros irmãos (as crianças que compartilhavam os dias), voluntários-, ouvia sobre sua família biológica com muito carinho e se sentia seguro sobre suas vontades. Recentemente, pediu para conhecer a mãe biológica. O que foi prontamente atendido.

“"Era constitutivo da identidade dele a história dele. O auge do respeito a história de vida do Messias foi quando ele se encontrou com a mãe biológica", disse Lucineudo. "Eu quis conhecer. Ela era a minha cara. Gostei muito de conhecer. Não vai mudar nada. Eu amo as duas. As duas são minhas mães. Ela não conseguiu ficar comigo, mas sempre quis meu bem", relata o adolescente de 16 anos.

O encontro não foi marcante só pra mãe e filho. O pai confessa que houve espaço e oportunidade para agradecer e ressignificar o passado. 

"Foi um momento de redenção pra todo mundo. Por que de certo modo eu tbm esperei ao longo de quase 10 anos pra pegar na mão daquela mulher e dizer pra ela o quão agradecidos nós éramos por ela ter posto no mundo a coisa mais importante pra gente. E que ela poderia ficar tranquila que a gente continuaria cuidando dele e que não havia uma relação de culpa alí"
Lucineudo Machado
pai adotivo

A família de três - Suelen, Lucineudo e Messias- se reconfigurou após a separação dos pais. Tempo depois um novo casamento aconteceu. Dessa vez, Lucineudo e Paulo Garcia. Depois, Suelen e Ricardo. E aí veio novamente a vontade de adotar. Os dois pais voltaram para o Sistema Nacional de Adoção em busca de uma menina, bebê, para chamar de filha. No meio dessa espera- dessa vez mais demorada-, apareceu um adolescente de 13 anos que chegou como um afilhado, mas que logo se fez filho. Jonas entrou na família de forma inesperada, mas o que é o amor se não surpresa? Suelen e Ricardo tiveram uma filha, a Sofie. 

Logo depois,  o John, de 16 anos, irmão biológico de Jonas foi costurando seus laços ao dessa nova família e mais um filho e irmão se fez. Depois de três adoções tardias, Lucineudo se mantém à espera de uma bebê, que já tem nome: Mariele. Messias diz que gosta de dividir os dias com os irmãos. 

A vivência dos filhos, que viveram a primeira infância e até adolescência em abrigos, fez com que Lucineudo abraçasse a adoção como bandeira. Ele viu tantos outros Messias, Jonas e Johns crescendo à espera de pais, mães, avós, irmãos. Invisibilizados, suas urgências parecem não chegar a quem decide seus destinos. Por isso, quando se tornou pai, Lucineudo também vestiu a camisa da militância. 

“A experiência da convivência do Messias no abrigo me trouxe uma verdade de vida que nunca mais  deixei pra trás. Aquelas crianças e adolescentes institucionalizados são filhos de todos nós. Era uma incoerência levar Messias pra trás e deixar naquela época os outros 19 naquela casa. Entendi que a maneira que tinha de adotar aqueles outros tantos era trabalhar pela adoção e me tornei voluntário da Acalanto Fortaleza”.