Pôr do sol em Fortaleza ganha tons de laranja e lilás devido à erupção de vulcão em Tonga; entenda

Efeito pode ser associado às partículas lançadas por erupção no início do ano e já pôde ser observado em outras cidades litorâneas

O entardecer vem como alívio na rotina não só pela chegada do descanso, mas pela beleza do pôr do sol em Fortaleza, com tons de laranja e lilás, que vem encantando moradores nos últimos dias. Esse cenário pode ser associado, surpreendentemente, à erupção vulcânica em Tonga, na Oceania, com o lançamento de partículas em movimento pelo planeta.

O vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Ha’apai, mesmo a 12 mil km de distância do Brasil, interfere na paisagem brasileira devido à intensidade da erupção registrada no dia 15 de janeiro deste ano. A explosão foi superior ao lançamento de bombas atômicas.

Naquele momento, uma espécie de poeira de elementos químicos foi lançada em até 58 km de altura. Essas partículas estão em movimento e, iluminadas por raios solares, dão cores do amarelo claro e vermelho ao lilás e magenta, em Fortaleza.

"Essas cinzas começaram a circular no planeta e o que está acontecendo é que o Sol se põe, mas a luz ainda está iluminando as cinzas que estão no alto da atmosfera”, explica Lauriston Trindade, membro da Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros.

Mesmo depois que o sol se põe, ainda atinge as altas camadas da atmosfera e reflete na poeira que está lá no topo, que é tão fina que a gente não consegue ver daqui e é iluminada pela luz do sol poente ou nascente
Lauriston Trindade
Astrônomo amador

Cidades próximas do mar, como São Paulo e Rio de Janeiro também registraram céu rosado por causa do fenômeno no último mês. Essa interferência, inclusive, também acontece no nascer do sol.

“Há indícios que seja causado por partículas em suspensão do vulcão em Tonga, mas são indícios. Se for por causa dele, é o fenômeno da Dispersão de Rayleigh”, completa o doutor em física Antônio Carlos Santana dos Santos.

O material particulado está entre 12 km e 20 km de altitude, como detalha o professor na Universidade Estadual do Ceará (Uece). Com essa dispersão, acrescenta, os dias de pôr do sol destacado podem passar logo.

 

"Essa pluma fica em suspensão e, em determinado período, se não acontecer uma nova, vai ficando com a concentração menor até sumir", detalha Antônio Carlos.

O comportamento desse fenômeno depende da direção do vento e prever os dias iluminados com a nuvem deixada pelo vulcão depende do acompanhamento de imagens por satélite para as análises.

Dependendo do período, pode continuar esse fenômeno prevalecendo e enquanto o vulcão estiver ativo esses particulados vão ser lançados na atmosfera
Antônio Carlos Santana dos Santos
Professor de física

Esse efeito pode ser observado por até duas semanas, na análise de Lauriston Trindade. “Os ventos vão levando e daqui a pouco essa poeira mais densa passa e esse efeito diminui um pouco. Daqui a uma ou duas semanas, um mês, ela circula a Terra e volta a causar esse efeito novamente”, propõe.

Características das partículas

Essa chamada poeira é formada por compostos como enxofre e até ácido sulfúrico, como explica Lauriston, por isso pode ser considerada como uma poluição, mesmo causada por um evento natural.

As cinzas vulcânicas, SO2, CO2 e vapor de água viajaram pela atmosfera atravessando o continente africano e oceano Atlântico chegando ao Brasil, conforme o Observatório Nacional.

"Daqui a alguns meses as nuvens de poeira vão ter se espalhado de forma homogênea e esse efeito vai diminuindo. O que a gente está percebendo agora é que está passando uma nuvem mais intensa, que é gigante e demora dias atravessando as regiões", completa Lauriston.

Mesmo sendo um poluente, com potencial de interferir no clima, o Ceará não deve ter nenhum prejuízo ambiental, conforme Antônio Carlos.

"Localmente, essas partículas não tem muito impacto ambiental, como tem enxofre e outros componentes químicos, deve ter impactos, mas aqui isso é muito reduzido porque tem uma concentração muito baixa, é mesmo algo visual"

O especialista explica que o equivalente a 40 mil toneladas de dióxido de enxofre foi solto na atmosfera. “Segundo a Nasa, fazendo uma comparação de energia liberada, equivale a 500 bombas atômicas lançadas em Hiroshima, em 1995”, destaca.