Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) desenvolveu um tecido de fibra de carbono com um liberador de óxido nítrico (NO), substância que tem funções anti-inflamatórias, antimicrobianas e de redução de dor. Modelado em formato de meias, o item tem potencial para ser utilizado no tratamento do pé diabético, uma das complicações mais comuns do diabetes mellitus.
Em abril deste ano, a criação recebeu a carta-patente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). “Ela indica que esse material é novo, inventivo e tem aplicação industrial”, afirma um dos autores da iniciativa, Pedro Martins da Silva Filho, que trabalhou na pesquisa durante o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Química (PGQUIM) da UFC.
Segundo informações da Agência UFC, essa é a patente de número 57 da Universidade, sendo a 9ª do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica e a 18ª do Centro de Ciências. O trabalho dos pesquisadores da UFC também foi aprovado no edital do Programa Centelha, que visa estimular o empreendedorismo inovador.
Para a criação desse produto, a equipe realizou a adsorção — fixação de moléculas de um fluido a uma superfície sólida — do composto químico nitroprussiato sobre o tecido. Em seguida, foi preciso verificar a capacidade de a fibra liberar óxido nítrico e reter cianeto, dois subprodutos da decomposição do nitroprussiato.
Os professores Elisane Longhinotti, Eduardo Henrique Silva de Sousa e Luiz Gonzaga de Franca Lopes e o bolsista do programa Empreende UFC, Isaac Lucas Araujo Lopes integraram a equipe de trabalho.
Testes e estudos clínicos
Após essa fase inicial, o produto desenvolvido pela equipe precisa passar por estudos mais robustos. Além de observar pontos como a concentração de nitroprussiato e o uso de outras fibras, é necessário realizar testes clínicos. O objetivo é comprovar a utilidade e a capacidade de tratar feridas crônicas, especificamente o pé diabético.
“Precisamos realmente realizar o estudo clínico. Primeiro em cobaias, animais, depois em pessoas”, afirma Pedro Martins. Também é necessário pensar como as meias serão produzidas, quais devem ser o corte e a costura delas e como elas pode se tornar um produto melhor para o paciente utilizar, entre outros aspectos.
A equipe, formada por pesquisadores da Química, está aberta a parcerias com profissionais de outras áreas, como Farmácia e Medicina, para explorar todas as potencialidades do material.
Além das meias
A proposta da meia desenvolvida pelos pesquisadores é que o tecido libere o óxido nítrico sobre a pele do paciente. Por suas propriedades, essa substância é um agente terapêutico no tratamento de úlceras diabéticas, que podem surgir devido a traumas ou pressões repetitivas em uma extremidade com baixa — ou sem — sensibilidade.
Segundo informações do Ministério da Saúde, “a diminuição da sensibilidade pode apresentar-se como lesões traumáticas indolores ou a partir de relatos, como perder o sapato sem se notar”. Com isso, o óxido nítrico pode auxiliar pessoas que sofrem com pé diabético, que tem como sintomas mais frequentes os formigamentos e a sensação de queimação.
“A neuropatia [dano nos nervos] é a complicação crônica mais comum e mais incapacitante do diabetes. Ela é responsável por cerca de dois terços das amputações não-traumáticas (que não são causadas por acidentes e fatores externos)”, informa a Sociedade Brasileira de Diabetes.
Porém, as neuropatias diabéticas podem atingir outras extremidades, como as mãos. Além de meias, o tecido desenvolvido pelos pesquisadores também pode ser modelado para a criação de luvas ou ataduras para atender a essas necessidades.
A pesquisa recebeu financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) e da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).