Pausa de Wesley Safadão por ansiedade alerta para sintomas de exaustão mental; veja onde obter ajuda

Ficar mais impaciente com as pessoas, ter a percepção de que pensar é cansativo e outras manifestações de estresse e ansiedade também são sinais de atenção

Ser atropelado por demandas de trabalho, de estudo e por questões familiares fere muito mais o lado de dentro. Estar perto do limite da exaustão mental expõe o sofrimento com insônia, alimentação desregulada, tontura, tremores, falta de ar, dentre muitos outros sintomas. Quando é hora de parar?

Quem ler estas linhas e se identificar com as análises feitas nesta reportagem do Diário do Nordeste precisa saber que a ansiedade e outros transtornos mentais podem ser tratados com apoio de profissionais da saúde, familiares e amigos. Assim é possível deixar quadros delicados e reestabelecer o bem-estar.

Esse é o caminho procurado pelo cantor Wesley Safadão, que anunciou uma pausa na carreira no domingo (3), após o diagnóstico de transtorno de ansiedade. O descanso e o convívio com a família são estratégias tomadas por ele após orientação psicológica e psiquiátrica.

Para ele, os primeiros sinais de que algo com a mente não estava certo surgiram em 2017, mas foram deixados de lado – o artista já chegou a realizar mais de 50 shows em apenas um mês.

Isso acontece porque entender os limites emocionais é muito mais difícil do que perceber os limites físicos, como explica a psicóloga clínica Cecília Alves, especialista em Neuropsicologia e mestre em Psicologia.

Andar muito, subir escadas, sentir fome… Os sinais são muito nítidos, diferente do esforço mental, psicológico e emocional. Na verdade, quando a cabeça indica algo inadequado, os sintomas costumam ser ignorados. Quem nunca ouviu que ansiedade é “frescura”?

“Vamos sempre colocando mais responsabilidades, mais preocupações e mais elementos sem saber qual a carga mental. Ignoramos os sinais acreditando que são ‘desculpas’”, frisa Cecília. E esse caminho pode ampliar o problema.

Quando minha carga mental está muito pesada aparece a dificuldade de dormir, mudanças na alimentação, comportamentos diferentes – ou ficar mais dentro de casa ou descontar em compras e bebidas
Cecília Alves
Psicóloga

Ficar mais impaciente com as pessoas, ter a percepção de que pensar é cansativo também fazem parte do cotidiano de quem está nessa situação.

Em relação à alimentação, há quem não tenha ânimo para comer. Por outro lado, a comida pode ser o caminho para descontar a tensão. Alimentos gordurosos, doces ou ultraprocessados são aceitos, afinal, depois de um dia cansativo “eu mereço”.

Cecília contextualiza que sentir dor é inevitável, mas o sofrimento constante mostra a necessidade de reavaliar a rotina. “Ir ao trabalho é desgastante, mas quando essa dor passa a ser um sofrimento, sinto falta de ar, desespero ou angústia, não é desconforto. É um grau de sofrimento muito elevado”, frisa.

No caso de Wesley, a saúde física já foi abalada por uma hérnia de disco e os adoecimentos do corpo também são indicativos do sofrimento mental. “O corpo fica muito tenso, surge a enxaqueca, o corpo sinaliza”, conclui Cecília.

E quando parar não é uma opção?

Interromper o trabalho não é uma possibilidade para a grande maioria da população que precisa se manter e, muitas vezes, cuidar dos filhos ou pais que também dependem da renda.

A psicóloga Layza Castelo Branco, professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), alerta que a permanência no ambiente e no estado de sofrimento pode causar uma piora do quadro e levar ao alcoolismo, depressão e síndrome de burnout, por exemplo.

“Ele tem uma condição financeira em que pode gerenciar uma pausa na carreira, se eu adoecer poderia ter uma licença do meu trabalho, mas essa não é a realidade de todos nós, temos muitos no trabalho informal e muitos até mesmo sem trabalhar”, reforça.

Layza pondera que o ser humano é múltiplo e não para apontar qual o impacto prático na vida de quem é submetido à exaustão mental. Em alguns casos, pacientes refletem sobre a vida e adotam novas rotinas com maior qualidade. Para outros, a busca por efeitos imediatos leva a busca por bebidas alcoólicas ou automedicação.

“Vejo muita gente comprando remédios no mercado informal e fico me perguntando como caminhar no sentido contrário a isso. As pessoas procuram respostas rápidas para congelar as dores que são as reais causas da ansiedade”

Layza também analisa que nem todo trabalho é exaustivo, sendo a exaustão um resultado dos pensamentos tomados pela sociedade. Com isso, o ambiente em que também construímos nossas subjetividades e nos relacionamos com outras pessoas, pode se tornar adoecedor. 

A sociedade vai criando várias demandas de compras, de ter mais do que ser, vão criando demandas para consumirmos mais e o trabalho passa de uma construção de si para uma forma de ganhar dinheiro para poder ter
Layza Castelo Branco
Psicóloga

Sintomas do transtorno de ansiedade

A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) compreende 4 divisões para o conceito de transtornos de ansiedade, conforme publicação do Ministério da Saúde. Confira os sintomas para cada um deles:

Transtorno de Pânico:

  • "Ataque de pânico" que dura aproximadamente 10 minutos
  • Sensação de sufocamento
  • Sensação de morte
  • Taquicardia
  • Tontura
  • Suor excessivo
  • Sensação de perda do controle
  • Dor ou desconforto torácico
  • Perturbações gastrointestinais

Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC):

  • Obsessões
  • Pensamentos, imagens ou impulsos recorrentes
  • Comportamentos em resposta às obsessões
  • Compulsões que "forçam" o indivíduo a realizar algo, do contrário, o mesmo passa a apresentar um quadro acentuado de ansiedade

Transtorno de Ansiedade Social ou Fobia Social:

  • Tremores
  • Suor excessivo
  • Vermelhidão
  • Dificuldade de concentração
  • Palpitação
  • Tontura
  • Sensação de desmaio

Transtorno de Ansiedade Generalizada:

  • Sensação de ansiedade na maioria dos dias e por longos períodos que podem se estender por meses e até anos
  • Expectativa apreensiva
  • Preocupação exagerada

Prevenção e cuidados com ansiedade

Atitudes de prevenção aos transtornos mentais passam por uma análise da rotina para avaliar como estão distribuídos os horários, a qualidade da alimentação e do sono, além das relações familiares, românticas e de amizades.

“É o equilíbrio dessas relações que nos sustentam”, como aponta Cecília. Porém, quando as pessoas chegam em níveis extremos, é preciso buscar uma pausa a ser avaliada por profissionais.

“Envolve profissionais da saúde mental, como psiquiatras e psicólogos, mas também deve-se falar com as pessoas que estão ao redor, a rede de apoio (esposa, marido, pais e filhos) e pedir ajuda”, orienta Cecília.

Na internet, há uma procura para saber o que fazer durante uma crise de ansiedade. Em meio a várias informações inconsistentes disseminadas na rede, Layza Castelo Branco indica a procura por um especialista que possa reconhecer os chamados gatilhos.

“Diante de uma crise de ansiedade há sintomas físicos e as pessoas precisam parar entender o que está acontecendo, buscar psicoterapia para entender porque o corpo responde dessa forma com náusea, taquicardia, sudorese…”, exemplifica.

Onde buscar ajuda

Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM)

O Hospital Saúde Mental de Messejana realiza plantão com uma equipe de psiquiatras para o atendimento de casos mais graves de transtornos mentais.

No plantão presencial, o paciente passa por uma triagem com um psiquiatra. Se houver necessidade, ele fica internado ou é encaminhado para os CAPS ou para tratamento ambulatorial. 

O atendimento ocorre durante 24 horas e todos os dias. Informações para atendimento emergencial nos telefones 3101-4348/ 3101-4340. O hospital fica localizado na Rua Vicente Nobre Macêdo, S/N - Messejana.

CAPS 

Fortaleza dispõe de 15 Centros de Atenção Psicossocial que prestam serviços na área da saúde mental. Destes, seis são CAPS Gerais, que atendem pessoas que apresentam sofrimentos psíquicos ou transtornos mentais severos e persistentes.

Há também outros sete CAPS Álcool e Drogas (CAPS AD), específicos para usuários que enfrentam dependência de substâncias psicoativas. Por fim, a Capital ainda conta com mais dois Caps especializados na população infantil (Capsi), com atendimento em casos de sofrimento psíquico ou dependência química. 

O serviço é porta aberta, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. O usuário pode procurar diretamente uma das unidades ou ser encaminhado pelo posto de saúde, após avaliação médica. Clique aqui para a lista dos Caps.

Plantão Psicológico - UFC 

Por iniciativa do Laboratório de Estudos em Psicoterapia, Fenomenologia e Sociedade (LAPFES), a Universidade Federal do Ceará oferta, de forma on-line, plantão psicológico gratuito. Clique aqui para mais informações sobre o atendimento.

Nami – Unifor 

O Núcleo de Atenção Médica Integrada (Nami), da Universidade de Fortaleza, oferece atendimento psicológico gratuito por meio do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA).

Conforme a instituição, o atendimento é direcionado a pacientes encaminhados pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), com abertura de exceção apenas para casos mais graves. Durante o processo de regulação nas unidades de saúde, o paciente também pode sinalizar que quer ser atendido no Nami. 

Mais informações nos telefones (85) 3477-3643, 3477-3644 e (85) 9.9210-2924 ou pelo e-mail: namispa@unifor.br