Os moradores de Fortaleza foram alertados sobre a falta de água entre terça (24) e quarta-feira (25), mas em alguns bairros o serviço ainda não retornou e só deve ser integralmente normalizado no domingo (29). Torneiras e chuveiros secos evidenciam os transtornos de quem está com o cotidiano prejudicado nesse período.
Gabriela Costa, de 28 anos, precisou buscar a casa de familiares para tomar banho nos últimos dias, porque foi pega de surpresa pelo desabastecimento já que o bairro onde mora, o São João do Tauape, estava fora do aviso inicial. A lista foi atualizada.
“Começou na terça-feira à noite como tinham avisado, mas o meu bairro não estava na lista e eu fiquei tranquila. Às 22h eu fui tomar banho para dormir e estava sem água. Pensei que tinha sido algo do registro, mas não”, lembra a produtora audiovisual.
Quem vive em locais como Cidade 2000, São João do Tauape, Rodolfo Teófilo, Monte Castelo, Varjota e Jardim Cearense ainda está sem conseguir realizar atividades básicas, como tomar banho, lavar louças e roupas
Como não havia enfrentado tantos dias sem água, Gabriela não tinha reservatórios em casa. “Aqui nunca teve isso, eu não tinha baldes em casa e nem como pegar água na família. Fui totalmente prejudicada, não estava preparada”, completa.
A produtora não chegou a fazer reclamações formais “porque não ia dar em nada e eu não quis ter mais uma dor de cabeça”, como analisa. Pela manhã, o serviço começou a voltar à normalidade.
Situação bem diferente do Ícaro Teles, de 29 anos, que vive numa casa alta no bairro Rodolfo Teófilo e já conhece os prejuízos da falta de água há anos. Devido à baixa pressão, quando há reabastecimento, a água não consegue subir para a caixa.
Em épocas de manutenção, nós temos que acabar pegando água em baldes para higiene e afazeres domésticos, numa torneira que a gente tem próximo ao registro
O problema mais recente já dura três dias e a baixa pressão faz com que a caixa d’água permaneça vazia na casa do professor. Nas redes sociais, desabafou que teve de recorrer ao “banho de cuia”.
“Mesmo nosso bairro estando fora da lista de bairros afetados, a distribuição ou pressão da rede foi afetada. Como eu disse, a água só tem pressão o suficiente para chegar na nossa caixa à noite, e nosso reservatório é bem grande”, frisa.
Isso acontece devido ao injetamento da segunda linha da adutora Ancuri, conforme a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). Essa intervenção, inclusive, “garantirá que as futuras manutenções no sistema não necessitem de paralisação do abastecimento”.
O Diário do Nordeste procurou a Cagece para entender os motivos da persistência da falta de água e foi respondido que “como o sistema funciona por pressão, em pontos mais altos ou mais distantes da estação de tratamento, o equilíbrio total do sistema poderá ocorrer em até 48 horas”.
Isso significa que até o domingo (29) alguns pontos da cidade podem permanecer sem água disponível em casa.
“Durante a suspensão do abastecimento, a Cagece orienta a população que a água reservada seja consumida com moderação, privilegiando o consumo humano e as atividades essenciais”, completou.
Filhos em casa
A empresária Victoria Bouzas, de 45 anos, precisou ajustar a rotina para conseguir cuidar dos filhos, porque só notou o problema da falta de água quando o reservatório da casa acabou nesta quarta (26).
"Isso tem me causado problemas, porque eu tenho dois filhos pequenos – uma de 11 e outro de 4 anos – e toda uma logística de manhã pra dar banho, a organização para arrumá-los e me arrumar, mas que foi toda alterada. Estou tendo que dar banho de balde".
Com isso, o tempo para as tarefas domésticas aumentou proporcionalmente ao estresse para realizá-las. “Ontem a diarista chegou para fazer a limpeza da casa, mas eu estava sem água. Então, é um grande transtorno, fora toda a logística que envolve o almoço, jantar e banho”, completa.
As roupas e louças também estão se acumulando sem a regularidade do serviço na casa onde vive também com o marido.
"Outros desabastecimentos tinham sido feitos, mas no grupo do condomínio as pessoas perceberam e avisaram. Eu organizei uma economia no consumo para não ficar sem água na caixa", lembra sobre outros episódios de falta de água.
Por isso, ela aponta a necessidade de avisos prévios com mais efetividades para alertar sobre as manutenções da rede. "Precisa ter a preocupação de comunicar de uma forma mais direta que o desabastecimento vai ocorrer, para que as pessoas de vida comum - e que precisam desse recurso - tenham como se organizar", conclui.