Uma das mentes mais brilhantes do jornalismo brasileiro, Glória Maria morreu por um câncer que migrou justamente para a cabeça. Após afetar o pulmão, a doença chegou ao cérebro, onde os tumores se espalharam em metástase – tornando o tratamento desafiador.
Glória foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2019, e teve tratamento bem sucedido. Mas as células cancerosas formaram tumores cerebrais, cujas cirurgias de remoção e os tratamentos não atingiram a cura da jornalista.
O câncer cerebral dela é classificado como “secundário”, já que teve origem em outro órgão, mas as células migraram, se fixaram e se multiplicaram no sistema nervoso central.
O médico oncologista Rafael Cruz explica que a ciência tem “bem definidos” quais os cânceres com maior capacidade de evolução para o cérebro: são o melanoma (de pele), de rins, de mama e de pulmão.
“O câncer de pulmão tem uma certa predileção por desenvolver metástases no sistema nervoso central. Para este tipo de doença, alguns protocolos nacionais e internacionais recomendam a realização de radioterapia no cérebro, de forma preventiva”, pontua.
novos casos de câncer de pulmão, brônquio e traqueia devem ser diagnosticados no Ceará em 2023 – a maior parte em mulheres, de acordo com estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Já a “neoplasia maligna secundária do encéfalo e meninges cerebrais” (nome oficial da metástase cerebral) tem tratamento mais complexo, uma vez que gera “múltiplas lesões”, difíceis de serem removidas em processo cirúrgico.
“Boa parte das vezes, a única terapia a ser realizada é a radioterapia total do cérebro, que tem efeitos colaterais consideráveis. Mas se o tumor secundário for único ou houver poucas lesões, a abordagem neurocirúrgica, associada à radiocirurgia, pode ser uma opção muito bem aplicada”, frisa Rafael.
Fatores de risco da metástase cerebral
No Ceará, estima-se que serão diagnosticados cerca de 480 novos casos de câncer no sistema nervoso central, que engloba cérebro, medula espinhal e meninges. De acordo com o oncologista Rafael Cruz, é um tumor “relativamente incomum, com maior prevalência em idosos”.
Outros grupos de risco para desenvolvimento de câncer cerebral, segundo o médico, são:
- Pessoas que já tiveram o crânio exposto a radioterapia por algum motivo;
- Pacientes imunossuprimidos;
- Pessoas com histórico de câncer (nesses casos, a doença pode retornar no cérebro, onde a quimioterapia não penetra com bastante eficácia);
- Histórico do câncer na família.
Por se tratar de uma doença de baixa ocorrência, segundo Rafael, “não temos dados estatísticos precisos sobre o Ceará”.
Sintomas do câncer de cérebro
Assim como outros tipos de carcinoma, “não há recomendações específicas para prevenção do câncer no sistema nervoso central nem para a realização de exames de rotina para diagnóstico precoce”, como adianta Rafael Cruz.
É possível, porém, observar sintomas que podem estar relacionados ao câncer primário ou à metástase cerebral:
- Dor de cabeça recorrente;
- Crise convulsiva;
- Náuseas e vômitos sem explicação;
- Sonolência excessiva;
- Alterações cognitivas e motoras;
- Alterações na visão.
Nesses casos, “é aconselhável procurar logo o médico”, como orienta o oncologista clínico.
Tratamento do câncer cerebral
Tratar os tumores de uma região tão delicada do corpo é complexo e envolve diversos profissionais de saúde, como médico, fisioterapeuta, enfermeiro, fonoaudiólogo e nutricionista, conforme pontua o Ministério da Saúde (MS).
“O tratamento começa com o neurocirurgião e envolve algum procedimento neurocirúrgico para remoção do tumor ou de fragmento de tecido para biópsia. O material retirado na cirurgia é examinado pelo médico patologista para chegar ao diagnóstico definitivo”, destaca o MS.
A evolução do câncer depende do tipo específico do tumor.
O oncologista clínico é central no combate ao câncer, já que orienta e planeja a quimioterapia, junto ao radioterapeuta, que guia as sessões de radioterapia.
“Todo o seguimento e acompanhamento serão feitos em conjunto pelo neurocirurgião, pelo oncologista clínico e pelo radioterapeuta. Outras especialidades médicas podem ser necessárias também durante o acompanhamento”, finaliza o Ministério da Saúde.