Pescadores artesanais da Comunidade do Cumbe, em Aracati, no litoral do Ceará, encontraram novas manchas de óleo – similares aos poluentes encontrados desde 2019 no litoral nordestino – neste sábado (4). Equipes ainda recolhem o material da única praia afetada até o momento.
Não há registro de contaminação dos trabalhadores ou de animais da comunidade e a quantidade não foi expressiva, mas o caso preocupa devido à recorrência com que esse tipo de poluente aparece no Estado.
No último ano, as manchas de óleo apareceram em janeiro e em setembro. Em 2019, quando surgiu pela primeira vez, e em 2020 houve outros registros dos poluentes nas praias cearenses com mais intensidade.
Representantes ambientais e pesquisadores apontam que novas manchas de óleo aparecem atualmente a cada 6 meses. Os efeitos podem ser danosos para os animais marinhos, que interagem com a substância, e prejudicar pescadores e moradores.
“Estamos trabalhando junto com a secretaria municipal para verificar onde apareceu e quanto ficou retido na praia para estabelecer os protocolos de recolhimento do material”, detalha Eduardo Lacerda, membro da equipe do Programa Cientista-Chefe da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema).
Não há detalhes sobre a substância, mas as manchas parecem ser de uma nova ocorrência, como completa. “Aparentemente é um material mais recente, não aparenta ser o mesmo de outras vezes, e por enquanto tem aparecido apenas na Praia do Cumbe”.
Por causa dos episódios mais intensos de poluição, foi criado um plano de contingência e os protocolos de atuação envolvem a Sema, a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e a Capitania dos Portos.
Desde o início de 2022, os municípios de praia são monitorados e possuem pontos focais para a troca de informações sobre manchas de óleo.
“A partir do momento que identificam, precisam avisar para a secretaria municipal ou estadual, para comprovar e a partir daí analisar se há o espalhamento. É preciso retirar essas manchas, armazenar, pesar e trabalhar na logística”, descreve Eduardo.
A Prefeitura de Aracati também foi procurada pela reportagem para detalhar o trabalho feito na região, mas o Diário do Nordeste ainda aguarda resposta.
Análise da substância
Quando os poluentes começaram a aparecer no litoral nordestino, o grupo de pesquisa do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) ganhou destaque na análise e produção de informações sobre o assunto.
Os cientistas, inclusive, foram os primeiros a detalhar que o material não era óleo cru, mas combustível, no caso das primeiras aparições. Ainda há um contato entre trabalhadores e pessoas diretamente afetadas pelas manchas com os pesquisadores.
“Isso começou a ser postado nos grupos de pescadores e chegou até a mim, do material que chegou ali numa praia da Foz do Rio Jaguaribe, mas não vi outros registros”, conta Rivelino Cavalcante, professor e pesquisador no Labomar.
No entanto, a comunidade acadêmica não consegue dar continuidade às análises das substâncias e estudar os impactos sociais e ambientais devido à falta de recursos destinados para esse assunto.
“A UFC tem expertise e condições de dar respostas no mesmo nível de instituições internacionais envolvidas nesse tipo de ocorrência. Porém, para tal, precisamos ser demandados e termos recursos para tal fim”, frisa Rivelino.