Uma das áreas mais importantes para a população, a saúde de Fortaleza amarga deficiências históricas. Para tentar sanar algumas delas, a prefeitura planeja medidas de curto, médio e longo prazos – entre elas a oferta de consultas online, via aplicativo.
As informações foram dadas pelo secretário municipal da Saúde, Galeno Taumaturgo, em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste. Na ocasião, o gestor reconheceu os problemas mais graves que atingem os serviços e revelou que ações têm sido feitas e pensadas para resolvê-los.
Nos últimos meses, o aumento expressivo dos casos gripais e de Covid entre crianças extrapolou a capacidade de atendimento das unidades, gerando um efeito cascata de superlotações de postos de saúde a hospitais – e suscitando uma crise na saúde.
Diante disso, o Ministério Público do Estado (MPCE) reuniu Prefeitura de Fortaleza e Governo do Estado, solicitando providências. Cada ente se comprometeu, então, a criar um plano de contingência para manejo do cenário.
Na rede municipal, o acréscimo de 21 pediatras aos postos de saúde e a abertura de 17 novos leitos clínicos e traumatológicos no Frotinha da Parangaba, em abril, estão entre as ações já feitas, a curto prazo, segundo o secretário da Saúde.
A médio prazo, o objetivo é trabalhar problemas estruturais – como a falta de médicos nos postos de saúde. Para isso, Taumaturgo afirma que a prefeitura planeja criar a Escola de Saúde Pública de Fortaleza, a exemplo do equipamento estadual.
Não há, contudo, um prazo para a construção ser concretizada.
“É uma ideia que está começando a virar realidade, que vai contribuir para a formação do profissional. Fortaleza já está no momento de ter esse equipamento. O médico que é especializado em saúde da família é diferente, é um cuidador com visão muito ampla”, frisa.
Precisamos ter esses profissionais, senão vamos ficar sempre nessa precariedade. Porque o que caracteriza o profissional da atenção primária é o vínculo: se ele não fica no posto de saúde, não constrói isso.
O titular da SMS observa que, hoje, a rotatividade de profissionais prejudica o atendimento. “O médico termina a faculdade e vai pra atenção primária enquanto não entra na residência. Quando isso vai melhorar? Quando houver o maior número de médicos de família por formação.”
Consultas por telemedicina
Outra medida que está sendo desenvolvida pela gestão, como pontua Taumaturgo, é a oferta de consultas online, por meio do aplicativo Mais Saúde Fortaleza. A prática já é comum na rede privada, e deve chegar como alternativa na rede municipal.
“A ideia é desafogar filas de psiquiatria, dermatologia, cardiologia. Estamos definindo as áreas. Às vezes o paciente está na fila, mas quer ir ao médico pra tirar uma dúvida. Por telemedicina, a queixa pode ser resolvida”, exemplifica o secretário.
“Vamos começar com projetos pilotos, as perspectivas são muito boas”, complementa.
Investir em tecnologia na área da saúde, segundo o gestor, é tão inevitável quanto necessário para democratizar o acesso aos serviços. Nesse sentido, ele adiantou outro recurso que deve chegar, “em breve”, à população que precisa buscar remédios nos postos de saúde.
“Temos previsão de ampliação de farmácias-polo, para fazer com que as pessoas tenham mais facilidade de acesso. Hoje, se você usa um medicamento, consegue consultar por aplicativo se tem ou não em estoque. A prefeitura está aperfeiçoando esse recurso pra que o usuário consiga saber quanto tem e em qual posto de saúde, e não corra o risco de chegar à unidade e não ter.”
Também voltadas a atendimento direto de pacientes em Fortaleza, o secretário destacou ainda duas ações:
- Consultórios de Rua, unidades móveis para atendimento de pessoas em situação de vulnerabilidade;
- Reabertura do Frotinha de Messejana, prevista para o final de julho.
Recursos insuficientes
Em reportagem publicada nessa sexta-feira (5), o Diário do Nordeste detalhou falas do secretário Galeno Taumaturgo sobre a insuficiência de recursos financeiros para Fortaleza bancar a estrutura que possui. A "reestruturação" disso também é planejada pela gestão.
“Saúde são vasos comunicantes: se tenho uma rede hospitalar grande e preciso fortalecer atenção primária, chega um momento que tenho que priorizar, porque o recurso não dá. Há defasagem de recursos, sem dúvidas”, pontua, citando como exemplo o Instituto Dr. José Frota (IJF).
O IJF consome uma enorme quantidade de recursos da prefeitura, e atende toda a população do Estado. Isso precisa ser revisto. É uma demanda que o prefeito banca, como deve ser, mas precisa de ajuda. 85% do hospital é mantido pela prefeitura. Se tem ajuda no IJF, poderei atuar mais no restante da rede.
O gestor destaca que é preciso “rever pactuações” com Estado e União, mas que, no momento, “a prioridade máxima é a atenção primária”.
“Temos procurado ter um diálogo com a Secretaria da Saúde do Estado, porque não interessa à população posição A ou B. Interessa a ela o atendimento. Temos que nos unir, somar esforços, equipes de atendimento médico, vagas de hospital. A união é fundamental.”