O Mercado da Aerolândia, no Alto da Balança, será desmontado e transferido para o Centro de Fortaleza, onde deve interligar-se ao Mercado dos Pinhões, com a criação de um ponto gastronômico, cultural e turístico. As duas estruturas de ferro que caracterizam a arquitetura dos dois equipamentos, originalmente, eram ligadas e formavam o “Mercado de Ferro” que foi desmembrado em 1938.
Por isso, o Mercado da Aerolândia, que está fechado desde a pandemia, em 2020, não voltará a ser reaberto. O espaço, que existe desde 1938, havia recebido uma reforma em 2015, quando foi reinaugurado. Tanto o Mercado dos Pinhões como o da Aerolândia foram tombados em nível municipal, em 2008.
A proposta de reunir as duas estruturas “irmãs” novamente é da Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf), como detalhou o titular Samuel Dias, em entrevista ao Diário do Nordeste, na tarde desta quarta-feira (17).
Ainda em fase de definição, o projeto arquitetônico deve ser concluído nos próximos 2 meses, conforme o secretário. Na Aerolândia, será feita reforma da praça, da quadra e a criação de quiosques comerciais.
Após as definições do projeto ainda em elaboração, o próximo passo é abrir o processo de licitação da empresa responsável por executar o serviço.
As obras no Centro e na Aerolândia devem acontecer ao mesmo tempo e a estimativa da Seinf é de que levem em torno de 18 meses – ou seja, a expectativa é de que estejam prontas no primeiro semestre de 2026. Quando concluído, o projeto deve receber o nome pelo qual era conhecido há quase cem anos: Mercado de Ferro.
O Mercado dos Pinhões também será desmontado para que as 2 estruturas sejam unidas num terreno em frente à Praça Visconde de Pelotas.
O secretário Samuel Dias, titular da Seinf, explica que a proposta é impulsionar o turismo, criar empregos e gerar renda num modelo inspirado no Mercado da Ribeira, em Portugal. "A ideia, ao invés de fazer uma nova reforma na Aerolândia e outra nos Pinhões, é juntar de novo porque esses mercados gastronômicos têm dado certo no mundo inteiro", completa.
A união dos dois mercados deve expandir a área atual dos Pinhões de 5 mil para 9 mil metros quadrados. Para isso, também será feito restauro de toda a estrutura de ferro com jateamento de areia para limpeza das peças e pintura especial antiferrugem.
Também será feita a recomposição dos vitrais coloridos e reforma das calhas e brises. O espaço vai ter um novo piso de concreto, além de um projeto luminotécnico.
A intenção da Prefeitura de Fortaleza é unir os dois “irmãos” num terreno ao lado do Mercado dos Pinhões e sem uso no momento. Por isso, foi publicado o decreto N° 15.957 no Diário Oficial do Município, na última segunda-feira (15), para a desapropriação do espaço.
O terreno de 4,1 mil metros quadrados fica na Rua Tenente Benévolo, esquina com a Rua Gonçalves Ledo. "O primeiro passo é viabilizar o terreno, mas em paralelo estamos fazendo o conceito e o projeto, por isso saímos com esse decreto. Estamos negociando", explica.
O objetivo dessa obra toda é resgatar a função cultural dos mercados, restaurar esse patrimônio histórico e criar um novo ponto de geração, renda e de fomento ao turismo na cidade
No espaço, também será construída área de apoio com banheiros e depósitos. O entorno deve receber paisagismo, rampas, vaga de estacionamento e implantação de estruturas sombreadas para realização de eventos e feiras ao ar livre. O detalhamento ainda não inclui a quantidade de pontos comerciais que poderão ser instalados no futuro Mercado de Ferro.
A Secretaria Municipal da Gestão Regional (Seger) informou à reportagem que o Mercado dos Pinhões recebe a programação do Giro Cultural com um calendário semanal de apresentações musicais nos equipamentos públicos da cidade, além de ser um dos polos de apresentações musicais do Ciclo Carnavalesco. O Mercado dos Pinhões também foi um dos pontos do Carnaval 2024 e recebe, desde maio do ano passado, a Feira Livre da Aerolândia que ocorre aos sábados, das 5h às 13h na área externa, conforme a Seger.
O que será feito no lugar do Mercado da Aerolândia
Onde está o atual Mercado da Aerolândia, segundo prometeu o secretário durante entrevista, será construído um polo de lazer para atividades artísticas e culturais, além da reforma e cobertura da quadra que fica ao lado da estrutura.
O local foi reinaugurado em 2015, mas desde o início da pandemia, em 2020, voltou a ser fechado por causa de problemas na estrutura.
A proposta da Seinf é criar academia, brinquedos, mobiliário urbano, vagas de estacionamento e espaço multiuso sombreado, com um palco de apoio para atividades musicais e culturais.
"Estamos discutindo com a população da Aerolândia um projeto de reforma da Praça da Aerolândia. Lá vai ficar um praça com área de convivência e quiosques, fazer uma quadra coberta e que pode ser usada para eventos", contextualiza Samuel Dias.
O líder comunitário Francisco Paulo de Almeida, de 60 anos, soube da proposta em dezembro do último ano e diz que a “notícia não foi muito bem vinda para a comunidade, porque esse é um equipamento de festa e o único local de lazer. É um equipamento tombado, uma referência para o bairro”, aponta.
Para o representante, o Mercado da Aerolândia deve ficar disponível para práticas culturais e a Prefeitura deve criar um espaço ao lado para o comércio de frutas e verduras.
Almeida ajuda na organização do pré-carnaval e do Carnaval e indica que o desejo dos moradores é ter o espaço disponível para as atividades. “Estamos com um abaixo-assinado com 500 assinaturas, e preparando um documento para dar entrada no Ministério Público”.
A professora aposentada Helena Alves, de 68 anos, vive há mais de 50 anos no lugar e questiona a ideia: "tem sentido?". Ela observa a falta de movimentação no lugar, mas propõe que o “patrimônio da cidade" permaneça no lugar.
"O mercado que poderia ser reaproveitado para a venda de frutas, legumes e comidas vai é ser retirado? Já ficou registrado na história da Aerolândia", conclui.
Contexto histórico
O original Mercado de Ferro foi construído em fevereiro de 1896 e inaugurado em 18 de abril de 1897, na antiga Praça Carolina, como registra o Mapa Cultural do Ceará. Na época, ficava ao redor do Palácio do Comércio e da Sede dos Correios e Telégrafos.
A estrutura “mãe” foi montada na administração do intendente (prefeito da época) Guilherme César da Rocha e do presidente (governador) comendador Antônio Pinto Nogueira Accioly.
O recurso foi conseguido por meio de bilhetes de crédito, conhecido como borós, e foi a primeira vez em que foi utilizado ferro numa estrutura da cidade. A ornamentação foi fabricada na França, nas oficinas de Guillot Pelletier, seguindo uma prática em voga na Europa.
O espaço serviu para a venda de carne fresca e verdura, surgindo como um símbolo da modernidade que Fortaleza buscava no final do século XIX e no início do século XX. Na época, a população comercializava vários gêneros alimentícios nas ruas ou em locais não autorizados, sem o aval da fiscalização pública.
Em 1938, contudo, a gestão da época optou por desmembrar a estrutura devido ao funcionamento do Mercado Central em relação à concorrência.
Dessa forma, no dia 20 de março de 1938 foi implantado o Mercado da Aerolândia, na BR-116, nº 5431. Já o Mercado dos Pinhões foi instalado no dia 12 de julho de 1938 na Praça Visconde de Pelotas (Pinhões), entre as Ruas Gonçalves Ledo e Nogueira Acioli.