A Operação Carro-Pipa está suspensa em todo o Nordeste desde a última sexta-feira (16). A paralisação ocorre após comunicado do Exército Brasileiro, em que a corporação, encarregada da execução do programa, pede que o programa seja interrompido por falta de verbas.
A operação é responsável por levar água potável aos estados do Nordeste, ao norte de Minas Gerais e ao Espírito Santo. No Ceará, a situação afeta o abastecimento de 34 cidades, impactando a vida de, aproximadamente, 150 mil pessoas, de acordo com o Sindicato dos Pipeiros do Estado do Ceará (Sinpece). No Nordeste, o número total de pessoas prejudicadas passa de 1,5 milhão.
Enviada em 1° de dezembro para as Coordenadoria Municipais de Defesa Civil (Comdecs), a nota do Exército afirma que a água só poderia ser enviada após o dia 16, caso houvesse um novo informe sobre o recebimento de verba para o programa, permitindo que o valor fosse repassado aos pipeiros.
Em novembro, o Governo Federal havia liberado R$ 21,4 milhões para o Ministério do Desenvolvimento Regional, visando a normalização do projeto em cinco cidades do sertão cearense que estavam sem abastecimento. Entretanto, ao Sinpece, o Ministério afirmou que o valor repassado não foi suficiente para dar continuidade ao programa, e que aguarda o envio de mais verbas pelo Ministério da Economia.
IMPACTO NA POPULAÇÃO
Apesar de algumas localidades contarem com poços profundos e água encanada, o representante do Sinpece, Eduardo Aragão, explica que a água fornecida pelos meios alternativos não é tratada, ao contrário daquela oferecida pela Operação Carro-Pipa. Desta forma, a água de poços e canos torna-se imprópria para o consumo humano.
A falta de água para beber e cozinhar é ainda mais preocupante durante o mês de dezembro, já que a época é marcada pela seca e chuvas escassas: “Estamos em um momento crucial. Dezembro e janeiro são os meses mais difíceis, os mais secos”, ressalta Aragão.
Indignada, a população tem procurado os pipeiros, pedindo informações sobre o retorno do programa. Segundo Eduardo Aragão, muitas pessoas os cobram, sem acreditar que o Governo não possui verbas para a operação. Enquanto isso, a situação segue sem prazo para ser resolvida.
SALÁRIOS ATRASADOS
Além da população, só no Ceará, cerca de 350 pipeiros também sofrem com a paralisação do projeto. Sem receber desde setembro, os trabalhadores têm tido dificuldade para pagar as contas, como relata o pipeiro Leandro Alves.
“Todo mundo está inconformado com a situação. Muitos colegas estão com a mão na cabeça, sem dinheiro.” diz.
Ao todo, o Nordeste tem 6,8 mil pipeiros, que levam água até os 79 mil pontos de abastecimento e cisternas coletivas.
OUTRAS PARALISAÇÕES
Em 2021, a quantidade insuficiente de recursos já havia motivado outra paralisação da operação: segundo Eduardo Aragão, os pipeiros precisaram interromper as atividades entre os meses de janeiro e fevereiro daquele ano. Na época, o fornecimento só foi normalizado em março.
O QUE DIZ O MDR
Em nota, o Ministério do Desenvolvimento Regional informou que está trabalhando para assegurar a continuidade da Operação Carro-Pipa.
Além disso, o órgão reforçou que a necessidade de recursos adicionais foi formalmente comunicada ao Ministério da Economia, e segue aguardando a decisão da Junta de Execução Orçamentária (JEO), que deverá se reunir para deliberar sobre o assunto.
O Exército Brasileiro foi procurado pelo Diário do Nordeste e não respondeu até a publicação desta matéria.