Enquanto diferentes estados brasileiros vivem alerta com os casos de dengue, a maioria dos 184 municípios cearenses estão com taxa de incidência de casos notificados considerada baixa ou silenciosa. Ao todo, em 11 cidades do Ceará o indicador é classificado como médio ou alto. A taxa relaciona a quantidade de casos notificados — ainda sem confirmação ou descarte — e a população do município.
As cidades com maiores taxas são: Brejo Santo (alta), Tianguá (alta), Groaíras (média), Icó (média), Iracema (média), Jaguaribe (média), Jijoca de Jericoacoara (média), Milagres (média), Penaforte (média), Porteiras (média) e Senador Sá (média). Por outro lado, outros 142 municípios estão com classificação “baixa” e 31 cidades são consideradas “silenciosas” — sem notificação.
Os dados estão disponíveis no novo painel “Cenário das Arboviroses no Ceará”, lançado no início da semana no IntegraSUS, plataforma da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Até esta sexta-feira (23), o Estado contabilizava 2.728 casos notificados de dengue e 364 casos confirmados. Até o momento, não foram confirmados óbitos pela doença.
Sobre o cenário da dengue no Brasil e no Estado, o secretário executivo de Vigilância em Saúde do Ceará, Antonio Silva Lima Neto — conhecido como Tanta —, destaca que o País está vivendo uma epidemia puxada principalmente por estados do centro-sul, como Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás.
Nessas localidades, conforme explica o secretário, há maior suscetibilidade ao sorotipo 2 do vírus da dengue, que está circulando no momento. Ao todo, o vírus que causa a doença tem quatro sorotipos diferentes: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4.
No Ceará, por outro lado, parte da população está “imunizada naturalmente” para esse sorotipo devido a uma exposição prévia ao vírus. Caso haja “troca de sorotipo”, porém, o risco aumenta. “Por exemplo, se for para o 3 ou para o 4, (dos quais) tivemos pouca circulação no Estado. Ou seja, a população suscetível é maior”, explica.
Porém, o gestor destaca a importância de “particularizar” a situação dos municípios. Enquanto 31 cidades não têm casos notificados — como Acarape, Catunda, Palhano e Trairi —, Brejo Santo contabiliza 352 notificações e 90 casos confirmados de dengue. “Ou seja, vivenciou um surto. O que a gente faz? A gente faz uma geolocalização, manda a equipe e vai tentando também, evidentemente, fazer um bom manejo clínico”, afirma Tanta.
É muito difícil você pensar em erradicação do Aedes aegypti hoje no Brasil. É praticamente impossível, ninguém fala mais isso. No entanto, você tem que tentar mitigar, diminuir essa infestação e, sobretudo, não ter os padrões que a gente tinha no ano passado, de mil óbitos (no País). Nunca o Brasil tinha tido mil óbitos por dengue. O sul do País teve taxas de mortalidade muito altas, sobretudo de idosos.
Enquanto isso, no Ceará, há “uma fração muito pequena” de idosos que ainda não teve contato com os sorotipos da dengue, sobretudo o 1 e o 2, explica o secretário. Há notificações de casos da doença no Estado desde 1986, quando o sorotipo 1 foi isolado, e ao longo dessas quase quatro décadas houve sete epidemias: em 1987, 1994, 2001, 2008, 2011, 2012 e 2015. O sorotipo 2 foi detectado pela primeira vez em 1994. O tipo 3 foi identificado em 2002 e o 4, em 2011.
“Evidentemente, você pode ter municípios onde essa transmissão esteja (maior). E é para isso que a gente direciona o nosso esforço de monitoramento e avaliação, a partir do IntegraSUS, rapidamente com as notificações e entrando em contato com o município e oferecendo apoio”, afirma.
A secretária de saúde de Brejo Santo, Patrícia Rolim, aponta que a cidade vivencia um aumento de aproximadamente 20% dos casos de dengue em relação ao mesmo período de 2023 e que 2022 foi “um ano bem crítico” em relação à arbovirose.
Ela pontua as medidas adotadas no município em relação à dengue, como a participação de Brejo Santo em projeto de monitoramento pelas ovitrampas (armadilhas para capturar os ovos do Aedes aegypti). “(Elas) são instaladas mensalmente para vigilância e monitoramento do cenário entomológico das localidades escolhidas”, pontua.
Além disso, ela cita a realização de mutirões com os funcionários da Estratégia Saúde da Família (ESF) in loco; os trabalhos de rotina (pesquisa, tratamento, peixamento, eliminação mecânica dos criadouros e bloqueio nas residências de notificações obedecendo ao raio preconizado); orientação e educação em saúde com o uso de carro de som volante nas ruas; articulação com a limpeza pública municipal e com o setor de infraestrutura e reativação do comitê Gestor de entretenimento as Arboviroses, com reuniões periódicas, entre outras medidas.
“Temos uma Atenção Primária e Secundária bem estruturada, nossos profissionais estão utilizando os protocolos e fluxos do Ministério da Saúde. E dispomos exames laboratoriais específicos e inespecíficos na rede pública municipal em tempo oportuno”, afirmou a secretária, sobre o atendimento na unidades de saúde. Ainda conforme a gestora, nenhum caso de dengue registrado na cidade até o momento teve complicação.
A DENGUE EM DIFERENTES FAIXAS ETÁRIAS
Conforme dados do Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde, com atualização na quinta-feira (22), crianças de até 9 anos são aproximadamente 13% dos casos confirmados de dengue em 2024 no Ceará, o equivalente a 1 em cada 8 confirmações. Segundo informações da Pasta, bebês e crianças fazem parte do grupo que requer atenção especial em relação à doença.
Os sintomas costumam aparecer de 3 a 14 dias após a picada do mosquito e podem ser confundidos com os da gripe. Particularmente em crianças pequenas, o Ministério indica que as dores podem se manifestar por choro intenso e irritabilidade.
Assim como acontece nos adultos, os pequenos também apresentam febre alta, manchas vermelhas na pele, dores musculares e nas articulações, dor de cabeça ou atrás dos olhos e recusa de alimentos e bebidas, o que pode agravar a desidratação.
No final do período febril, manifestações mais críticas podem surgir. Dessa forma, é importante observar o agravamento dos sintomas iniciais, como vômitos persistentes, dor abdominal intensa e contínua, sangramento espontâneo, redução da quantidade de urina, sonolência ou irritação excessivas, extremidades frias.
Logo nos primeiros sintomas, mesmo os leves, é indicado procurar uma unidade de saúde. O tratamento varia conforme o estágio da doença. Em casos leves, hidratação oral, repouso e controle dos sintomas podem ser o suficiente. As situações mais graves, por outro lado, podem exigir internação e hidratação venosa.
No outro extremo da pirâmide etária, os idosos representam cerca de 15% — ou 1 em cada 7 casos confirmados no Estado. Essa parcela da população também é considerada grupo de risco para a agravos devido à infecção. O secretário executivo de Vigilância em Saúde do Ceará aponta que idosos têm risco de desidratação e de descompensação de comorbidades, como hipertensão e diabetes.
“Os casos graves do idoso têm que ser manejados com cuidado. Na criança, é você saber que a hidratação também precisa ser monitorada, porque a criança tem o peso menor, e a evolução precisa ser observada com muita sistematicidade. São faixas extremas que têm riscos diferentes por razões diferentes”, finaliza Tanta.