Cinco alunos de Escolas Estaduais de Educação Profissional (EEEP) do Ceará foram aprovados no vestibular da Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Rio de Janeiro, e terão bolsa de R$ 2.480 para cursar a graduação. São dois estudantes de Itapajé, dois de Russas e um de Fortaleza. Durante o ano de 2023, eles participaram do projeto “Seleção de Talentos”, do Centro para o Desenvolvimento da Matemática e Ciências (CDMC) da FGV Rio.
Os aprovados são João Pedro de Oliveira e Felipe Jonathan Pereira Lopes, da EEEP Professor Walquer Cavalcante Maia, de Russas; Gabrielle Muniz e Moises Lopes, da EEEP Adriano Nobre, de Itapajé; e Emanuel Victor Oliveira Ferreira, da EEEP Maria Ângela da Silveira Borges, de Fortaleza.
Ao longo do ano passado, eles tiveram acompanhamento preparatório para o vestibular da FGV. Aprovados, eles vão receber bolsa integral e auxílio para moradia, que serão renovados conforme o desempenho acadêmico. João Pedro, Felipe, Gabrielle e Emanuel foram aprovados para o curso de Ciências de Dados e Inteligência Artificial, enquanto Moises escolheu o curso de Direito.
PROJETO SELEÇÃO DE TALENTOS
O projeto “Seleção de Talentos” é promovido pelo Centro para o Desenvolvimento da Matemática e Ciências com objetivo de receber nos cursos de graduação da FGV Rio alunos de escolas públicas de todo o Brasil com “excelente desempenho”. São acolhidos alunos de alto desempenho em Matemática, como medalhistas nas Olimpíadas de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP).
Em 2023, foi feita uma cooperação da FGV-Rio com o Centro de Excelência em Políticas Educacionais (CEnPE) da Universidade Federal do Ceará (UFC), o Programa Cientista-Chefe em Educação, do Governo do Ceará, e a Secretaria de Educação do Estado do Ceará (Seduc). Com isso, foi possível a indicação de alunos da rede pública do Estado com elevada proficiência em matemática básica.
Ao todo, 37 estudantes foram selecionados e convidados para um curso “intensivo e altamente exigente” em Língua Portuguesa, Matemática e Literatura, explica o professor Jorge Lira, diretor CEnPE e responsável pela prospecção dos alunos cearenses. Ele explica que o projeto deve continuar e ser ampliado para ficar “mais abrangente, equitativo e consolidado”.
Esse foi o piloto do projeto: alguns alunos seguiram o curso até o fim, outros tiveram outras escolhas e prioridades, mas, ao fim, tivemos 5 alunos aprovados com destaque, uma taxa de sucesso de cerca de 14%, o que consideramos um sucesso tendo em conta o rigor do curso, a dificuldade das provas do vestibular, a concorrência e a seletividade da instituição.
Para Lira, o projeto demonstrou a necessidade de oferta de oportunidades e possibilidades de vida acadêmica e profissional para os alunos das escolas públicas, “por mais que pareçam inacessíveis e extremamente seletivas”. “Com o devido estímulo, acompanhamento, material e professores qualificados, o acesso a instituições de excelência é possível, mesmo sem comprometermos o rigor e a exigência quanto a conhecimentos e habilidades complexas”, complementa.
É assim que a gente imagina que uma política inclusiva deva ser feita. Acompanhar esses alunos desde cedo, abrir essas possibilidades, convencê-los de que elas estão acessíveis, independentemente de onde moram, de onde vêm, que classe social representam. E trazer condições reais, mostrar que há exigência, há rigor, há necessidade de superar obstáculos, mas com acompanhamento, com material de qualidade e professores empenhados — como é o caso das escolas profissionais das quais esses alunos vieram —, a gente mostra que é possível garantir esse acesso.
Diretor da EEEP Professor Walquer Cavalcante Maia, de Russas, o professor Tadeu Celedônio afirmou que a aprovação dos estudantes é “de grande valia” para a comunidade escolar e que os alunos são referência e estímulo para que os demais colegas saibam que podem “sonhar grande”. “Acredito que nossa função, enquanto escola, é tornar possível o sonho deles. Quando a gente vê isso se concretizando, fica muito feliz e com sensação de dever cumprido”, complementa.
EXPECTATIVAS PARA O FUTURO
No próximo dia 17 de fevereiro, Gabrielle vai mudar de Itapajé para o Rio de Janeiro. Apesar do medo por mudar de estado e deixar a família no Ceará, ela está feliz e animada para o que está por vir. “Parece meio assustador, mas eu sei que é por uma boa causa e que é uma oportunidade imensa”, conta.
Ganhar essa bolsa foi uma grande oportunidade para mim, como estudante. Fiquei muito feliz, de verdade. Além de engrandecer meu currículo, (a experiência) também vai me ajudar muito como pessoa.
Animada para a viagem, ela, Moisés, Felipe e João Pedro estão organizando uma vaquinha para custear as passagens deles e dos pais, que irão acompanhá-los na mudança, hotel e passagem de volta para os acompanhantes e, caso sobre dinheiro, alimentação e necessidades básicas dos alunos. O objetivo é conseguir R$ 30 mil. Até a noite da quinta-feira (18), o site oficial da vaquinha indicava cerca de R$ 2 mil arrecadados. A chave pix para fazer a doação é 4375954@vakinha.com.br.
Para Moisés, foi “uma honra” poder participar do programa de preparação da FGV e “um presente maior ainda” ter passado no vestibular. Diferentemente dos outros estudantes aprovados, ele escolheu cursar Direito pela possibilidade de “lutar pelos direitos das minorias”. “Vejo que é uma profissão muito linda”, diz.
Na segunda semana de fevereiro, Emanuel também deixará a capital cearense rumo ao Rio de Janeiro. Animado para conhecer a nova cidade e o ambiente universitário, as expectativas dele para as aulas e os professores estão altas. “Já tive a oportunidade de conhecer dois professores e o contato com eles mostra os profissionais excelentes que são e uma oportunidade de ensino excepcional”, afirma. Para ele, a experiência com o “Seleção de Talentos” foi “instigante”.
Estar finalizando o ensino médio e já estar em contato com o ensino superior era algo que me dava muita animação pra continuar, apesar da dificuldade em conciliar as atividades da escola com as atividades do programa e o estágio. Tenho absoluta certeza que entrar no programa da FGV em 2023 foi o que me proporcionou um grande crescimento pessoal.
Para Felipe, todo o processo do projeto “Seleção de Talentos” foi tranquilo. “Eles disponibilizaram vários materiais de estudo e tinha avaliações bem frequentes para a gente ter um retorno sobre o nosso nível de aprendizagem”, afirma. Ele acrescenta que os estudantes precisaram se adaptar para gerir o tempo de estudo para o vestibular da FGV e para a escola.
Ele confessa que não está tão ansioso com a viagem. “Conviver com novas pessoas, em um novo ambiente, sempre é um processo que está presente a todo tempo em nossas vidas”, comenta. Para a faculdade, Felipe espera fazer um bom proveito e mostrar, na prática, o que aprendeu.