Diante da ocorrência do El Niño - fenômeno de aumento na temperatura do oceano - e das iminentes evidências de que haverá seca no Ceará em 2024, o Governo do Estado convocou diversas secretarias para uma reunião nesta terça-feira (28) e solicitou a produção de um plano detalhado de ações a ser implementado em resposta ao possível cenário. O levantamento deve ser concluído até o dia 13 de dezembro e a gestão estadual pedirá ajuda ao Governo Federal para efetivação de algumas iniciativas.
Uma das medidas já solicitadas pelo governador Elmano de Freitas à Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) é que o prognóstico da quadra chuvosa, ou seja, a previsão sobre a probabilidade de chuvas no período, que tradicionalmente é divulgado em janeiro de cada ano, para 2024 seja antecipado para dezembro de 2023. A medida é uma tentativa de acelerar possíveis iniciativas que possam mitigar os problemas decorrentes das poucas chuvas.
“O governador determinou que a gente averiguasse a possibilidade de antecipar o prognóstico para o mês de dezembro. Fizemos algumas sinalizações e projeções de clima para a quadra, mas a gente vai discutir com o corpo técnico da Funceme. Vislumbramos a possibilidade de lançar um prognóstico em dezembro e fazermos atualizações nos meses seguintes”.
O encontro reuniu representantes de órgãos estaduais como a Funceme, a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), a Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra), a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), a Defesa Civil e a Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (SEMA).
Influência do El Niño
Eduardo Sávio também destacou que a reunião foi solicitada pelo governador visto que, como já alertado pela Funceme, o “quadro de El Ninõ que está posto e pode impactar negativamente nossa quadra chuvosa”. Ele reforçou que o cenário preocupante se tornou realidade em junho e julho de 2023 e “tudo indica que vai perdurar durante a quadra chuvosa”.
Sobre o fenômeno El Ninõ, o representante da Funceme diz que o “regime chuvas é modulado pelo Pacífico e pelo Atlântico” e que no Pacífico “temos uma aquecimento que se estende desde a Costa Oeste na América do Sul até a porção central do Pacífico equatorial, até as proximidade da Austrália. Um aquecimento razoável, temos regiões com 2,5 graus acima da média, temos outras regiões com 2 graus ou 1,5”.
Já no Atlântico Norte tropical, acrescenta Eduardo “ele está não só muito mais aquecido do que o Atlântico Sul, mas com uma extensão em área muito significativa. Essa condição do pacífico mais aquecido reforça esse aquecimento mais ao Norte do Atlântico”. O Ceará é afetado, explica ele, pois “nossa zona de convergência intertropical, nosso principal sistema gerador de chuvas durante a quadra, ela se posiciona em função desse aquecimento”.
“Quando o gradiente está de temperaturas mais elevadas ao Norte a confluência dos ventos Norte e Sul ocorre mais ao Norte do Equador, quando o aquecimento está mais ao Sul, ele ocorre mais ao Sul do Equador trazendo a unidade dos oceanos para o continente. Como está mais ao Norte a probabilidade maior é que tenhamos chuvas abaixo da média”.
Áreas que preocupam
O secretário interino da SRH, Ramom Rodrigues, apontou que, felizmente, no último ano, o Ceará teve um razoável aporte de última hora em determinadas regiões, incluindo as mais vulneráveis, como o Sertão Central.
“O Banabuiú pegou quase 400 milhões neste ano e era uma região que houve seca de 2012 a 2018, a gente sofreu muito com municípios mais vulneráveis. Fortaleza é outra região que está com seus estoques quase completamente cheios e vai garantir que a gente tenha água para a Região Metropolitana até o final de 2024 e começo de 2025".
Mas, pondera ele, a população não pode achar que: “está com muita água. O que estamos dizendo é que nossos estoques, apesar de estarem confortáveis em algumas regiões, temos que ter muita parcimônia no uso dessa água, porque não sabemos como virá 2025. Sabemos que 2024 será um ano de pouca água nos nossos reservatórios”.
Dentre as regiões com baixo estoque ele cita o Curu, Crateús e o Médio Jaguaribe, apesar da presença do Castanhão.