A vacinação contra a Covid-19 começou há um ano e um mês no Brasil, e o país já aplica a terceira dose em grande parte da população. Contudo, ainda há locais onde o esquema primário da imunização - com duas doses ou dose única - está abaixo da meta. No Ceará, 23 cidades têm menos de 75% da população atendendo a essas condições.
No geral, a cobertura do esquema básico no Ceará está em 88,5%, com quase 6,8 milhões de beneficiados. Porém, os dados por município revelam discrepâncias entre os processos: 43 cidades estão abaixo dos 80%, e 11 têm menos de 70%.
A análise considera a aplicação de segundas doses (Coronavac, Astrazeneca e Pfizer) e doses únicas (Janssen) na população acima de 12 anos, que, pelos prazos oficiais, já está apta à D2. Crianças de 5 a 11 anos não foram incluídas porque o esquema começou em janeiro.
Em tira-dúvidas sobre o coronavírus, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) considera que, em teoria, é preciso que pelo menos 70% da população esteja imunizada para que a proteção coletiva tenha “um papel significativo no controle da pandemia”.
Porém, a Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim) alerta que, dada a grande capacidade de contágio do SARS-CoV-2 (inclusive por assintomáticos), “quanto maior a cobertura vacinal, maior a redução na circulação viral, menor a transmissão e, consequentemente, menor a chance de os vírus produzirem variantes”.
Com poucas pessoas vulneráveis, a circulação do agente que causa a doença cai, protegendo de modo indireto aqueles que não estão imunizados.
Além de atrasos na busca pela segunda dose, algumas Prefeituras apontam inconsistências nos dados das bases estadual e federal, que divergem das informações locais.
Em Cascavel, na Região Metropolitana de Fortaleza, a Secretaria Municipal de Saúde aponta 46,2 mil pessoas com mais de 12 anos vacinadas com a D2, contra 37,7 mil do vacinômetro. Assim, a cobertura atual é de 76,6%, e não dos 62,4% atribuídos pelo ranking estadual.
Valéria Rodrigues, secretária municipal de saúde de Catarina, cidade com menor percentual do Estado, de acordo com o vacinômetro, informou que, na verdade, “já vacinamos mais de 97 % do público apto para a vacinação no Saúde Digital”.
“Passamos nossa situação para o Estado e solicitamos revisão de meta, que não condiz com a realidade atual. Já fizemos várias buscas ativas e todas as unidades de saúde já repassaram que foi vacinado praticamente todo o público, restando apenas as recusas que é um número muito baixo”, reforça.
Estratégias em desenvolvimento
Em entrevista ao Sistema Verdes Mares, a presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems-CE), Sayonara Moura Cidade, projeta que o objetivo é ultrapassar a marca dos 95% em todo o Estado.
A representante defende que, além de “vacinar mais pessoas o mais rápido possível", é necessário que o processo seja simétrico, “com todas as regiões avançando juntas na cobertura vacinal”. Cariri e Norte têm as maiores taxas, atualmente, enquanto o Sertão Central fica em último lugar.
Para complementar o processo dos atrasados, Sayonara lista ações como a busca ativa e a descentralização de pontos de vacinação, além da ampliação do horário de funcionamento dos locais de aplicação.
Três doses são necessárias
Segundo a médica infectologista Melissa Medeiros, não só o esquema primário é importante, mas também buscar a dose de reforço contra a Covid-19. Atualmente, ela é recomendada num intervalo de quatro meses após a D2.
“A gente sabe que, depois de mais ou menos uns quatro meses, a gente começa a ter baixa das titulações de anticorpos, e, embora a gente não saiba qual seria o ideal, elas ficam diretamente relacionadas ao grau de proteção contra a infecção”, explica.
Ou seja, a terceira dose ela vem para “acordar” o sistema imunológico depois de estimulado pelo esquema básico, especialmente entre os idosos e pessoas com a imunidade comprometida. Assim, as vacinas cumprem seu papel de fornecer proteção a longo prazo.