Clínica de plantas, gastronomia social e aulas para crianças internadas aproximam UFC da população

Uma universidade não se restringe aos muros que cercam seus campi. Por meio de iniciativas de extensão - ação que junto à pesquisa e ao ensino compõem o tripé de funcionamento das universidades - estudantes e professores saem das convencionais salas de aula, se põem em contato com realidades diversas, têm acesso a saberes que nem sempre estão em livros e artigos, e ressignificam esses achados em forma de produção científica. Nessas iniciativas, chamadas, em geral, de “ações de extensão”, a vida acadêmica se conecta às comunidades externas à instituição, chega à sociedade.

Só na Universidade Federal do Ceará (UFC) são 900 ações de extensão cadastradas, 550 bolsistas e 455 instituições parceiras. São programas, projetos, cursos, eventos ou prestações de serviço realizados nas mais diversas áreas do conhecimento, de forma interdisciplinar. Vão da gastronomia à comunicação, da saúde à educação.

Na prática, conforme identificado pelo Diário do Nordeste e apresentado nesta reportagem, há desde ações para garantir o direito à educação a crianças em tratamentos de saúde a estratégias para tornar obras de arte acessíveis a pessoas com deficiência visual, passando por parcerias que unem saúde mental e gastronomia ou uma clínica para examinar plantas e diagnosticar doenças que podem comprometer frutos e folhas.

O pró-reitor adjunto de Extensão da UFC, Estêvão Rolim Fernandes, defende que esse movimento impulsionado pela extensão universitária é importante para revigorar a universidade, mas reconhece que traz grandes desafios. “Obriga a comunidade acadêmica a sair da sua zona de conforto, da sala de aula e do seu laboratório e ir até esses territórios onde a vida está acontecendo”, aponta.

Via de regra, a extensão é um mecanismo dialógico e interdisciplinar. (Por) dialógico, quer dizer que nos comunicamos com essas comunidades entendendo e reconhecendo nelas saberes e, a partir delas, formamos nossos alunos. Utilizamos essas ações educativas para a formação de alunos e, ao mesmo tempo, para levar algum tipo de serviço à comunidade.
Estêvão Rolim Fernandes
Pró-reitor adjunto de Extensão da UFC

Atualmente, a universidade está passando pelo processo de “curricularização da extensão”, para atender à Resolução nº 7/2018 do Conselho Nacional de Educação (CNE). Segundo o documento, essas atividades devem compor pelo menos 10% da carga horária curricular dos cursos de graduação.

A fim de se preparar para o aumento de demanda que essa mudança vai gerar, o pró-reitor adjunto explica que a universidade está trabalhando para simplificar o cadastro das ações e diminuir os aspectos burocráticos, além de buscar fontes de recursos para financiamento.

“Temos um corpo de alunos enorme precisando necessariamente participar de atividades de extensão, e isso vai gerar um custo associado. Questões de recursos vão ser muito necessárias. Nós já estamos começando, inclusive, com alguns programas que trouxeram novas bolsas, recursos para custeio da extensão, que é uma forma de a pessoa que coordena a ação poder pagar algumas despesas do dia a dia”, complementa o pró-reitor adjunto.

Atualmente, essas ações contam apenas com os valores voltados para as bolsas ofertadas aos estudantes. No próximo ano, Fernandes explica que a extensão vai entrar, pela primeira vez, no orçamento da universidade com fins de custeio.

Pedagogia hospitalar 

Há dois meses, a pequena Giovanna, de 4 anos, acompanhada pela mãe, a dona de casa, Ana Paula Vasconcelos, foi trazida de Varjota, no interior do Ceará, a Fortaleza. Já são dois meses de tratamento após o diagnóstico de leucemia. Esse ano, Giovana havia ingressado na pré-escola em sua cidade natal. Mas, a doença e a demanda por cuidados de saúde retiraram momentaneamente da criança a possibilidade de estudar no ambiente convencional: a escola.

Com a vida alterada, Ana Paula conta que Giovanna passou 20 dias internada na Associação Peter Pan, na Capital. Depois seguiu para a casa de apoio Lar Amigos de Jesus, onde continua em tratamento oncológico. E é lá que, felizmente, apresentando sinais de melhora, Giovanna voltou a ter contato com as atividades pedagógicas. No local, um dia da semana, o projeto de extensão da UFC, “Pedagogia Hospitalar” garante a crianças e adolescentes, entre 3 e 12 anos, a possibilidade de garantia do acesso à educação.

“Sempre quando as meninas (universitárias) estão aqui eu trago ela (para o pátio) para estimular. Ela chegou aqui muito ruim e agora já está melhorando. É um espaço que eu gosto e acho importante para ela”, destaca a mãe.

As “meninas” mencionadas por Ana Paula são as 6 universitárias bolsistas do projeto de extensão, sendo 4 da Pedagogia e 2 do curso de Letras da UFC, que uma vez na semana estão na instituição para garantir o atendimento educacional dos pacientes infanto-juvenil que estão em tratamento. O projeto também ocorre na enfermaria pediátrica do Hospital Universitário Walter Cantídio.

A iniciativa é desenvolvida desde 2017 e contempla, em certo grau, uma lacuna que ainda existe no Estado: a garantia da oferta do serviço de atendimento educacional para crianças e adolescentes que, na condição de pacientes, ficam impossibilitados de frequentarem a escola.

Esse direito está previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96). Na prática, explica a coordenadora do projeto, doutora em Educação e professora de Pedagogia da UFC, Robéria Vieira:

A própria comunidade quando vê o nome da universidade, ela se empodera. Ela acredita que coisas positivas estão acontecendo. Trabalhamos a parte pedagógica, de conteúdos. Mas não fazemos o trabalho de ligação com a escola porque são estudantes e é um projeto de extensão.
Robéria Vieira
Doutora em Educação e professora de Pedagogia da UFC

A iniciativa  exige das estudantes a dedicação de 12 horas semanais, das quais 4 são para atuação nas unidades; 4h para reuniões pedagógicas/planejamento e 4h para estudos teóricos sobre as ações desenvolvidas.

“A gente, às vezes, escuta a experiência de como eles (pacientes) foram para lá (tratamento), o que eles passam. Temos um planejamento e pensamos em atividades que deem para todas as idades. Vamos entendendo os que estão mais cansados, que não têm disposição e vamos adaptando. Às vezes, dá certo exatamente o que propomos,outras vezes mudamos”, explica a bolsista, estudante de Letras, Milena Galvão.

A presidente do Lar Amigos de Jesus, Irmã Conceição, destaca que é fundamental essa oferta de atendimento educacional, ainda que na forma de projeto de extensão. Ela também reforça como a ação das universidades na instituição contribuem para o desenvolvimento de distintas perspectivas no atendimento das crianças e dos pais e responsáveis.

De acordo com ela, quando retornam às cidades de origem, as crianças deveriam ter um atendimento especializado, visto que ficaram afastadas. Mas, na realidade, esse direito na maioria das vezes é negligenciado.

Serviço: 
Projeto de extensão “Pedagogia Hospitalar” 
Endereço: Acontece no Hospital Universitário Walter Cantídio e no Lar Amigos de Jesus
Instagram: @pedagogiahospitalarufc

A cozinha como lugar de cura

Em 2021, Suemy Leitão já trabalhava cozinhando e fazendo marmitas congeladas, mas queria aprender mais sobre o ofício. Foi nessa época que ela buscou a Escola de Gastronomia Autossustentável (EGA), um espaço de formação inaugurado em 2016 e mantido em uma parceria entre o Movimento Saúde Mental e o programa de extensão Gastronomia Social da UFC. Naquele período, em meio à pandemia de Covid-19, ajudava a preparar quentinhas para doação pela manhã e assistia às aulas no turno da tarde.

Também começou a fazer diárias em eventos por meio do recém-criado Giardino Buffet, que também é fruto dessa união e oferece serviços de buffet móvel para festas na Capital e na região metropolitana. Depois de um tempo, Suemy passou a dedicar-se a essa função. Ficava “curiando” outros preparos e fazendo experimentações, em um empenho que lhe rendeu o reconhecimento como chef de cozinha por notório saber, em outubro de 2023, pelo Gastronomia Social.

A Escola de Gastronomia Autossustentável e o programa de extensão mudaram a vida de Suemy e de tantas outras pessoas. Mais do que técnicas e habilidades para cortar, temperar, refogar e servir, a iniciativa desenvolve a autoestima e fortalece o orgulho de dizer de onde se vem.

“Se você, há três anos, viesse fazer uma entrevista comigo, jamais eu ia fazer. Tinha nem perigo, porque eu não gostava de falar em público. Eu tinha vergonha. Por morar num bairro menos favorecido, eu mesma me diminuía. Depois que comecei a ir pros eventos foi que vi que a gente tem potencial também”, afirma.

Criado em 2010 para ser um agente de transformação social por meio de diversos projetos, como oficinas temáticas e cursos, o Gastronomia Social tem como principal parceiro o Movimento Saúde Mental, do bairro Bom Jardim. O projeto “Gastronomia e Terapia: Novos Caminhos para a Geração de Renda e Autoestima” é um dos exemplos de articulação entre a universidade e o espaço de escuta e acompanhamento terapêutico para famílias em situação de vulnerabilidade social.

Antes de iniciar as aulas, elas (as participantes) passam por um momento de terapia, para poderem se inteirar do conteúdo por completo, sem trazer nenhuma bagagem de casa. Muitas têm histórico de violência doméstica, depressão, ansiedade, tentativa de suicídio, então a gente trabalha, primeiramente, com a terapia. E a cozinha como local de cura.
Sâmara Sobreira
Assistente social e coordenadora da Escola de Gastronomia Autossustentável

Para os estudantes universitários, o projeto é uma oportunidade de experimentar a docência. “O aluno da UFC se descobre professor aqui”, crava Eveline de Alencar, professora do curso de Gastronomia da UFC e coordenadora do programa de extensão. Atualmente no 3º semestre de Gastronomia, Yan Alves, 22, foi monitor de um dos cursos em 2023 e está responsável pela turma de Doces e Sobremesas Clássicas e Gourmet deste ano.

Para ele, a experiência é importante para repassar aos alunos os aprendizados que tem adquirido na graduação e em outras formações. “É justamente através do empreendedorismo que eles vão colocando isso em prática, vão fazendo uma renda extra para casa, para a família. A importância do projeto é justamente essa: a gente adquirir saber e transmitir os conhecimentos para essas pessoas”, diz ele.

É no Gastronomia e Terapia que essa parceria — que já dura uma década — traz a essência do Movimento Saúde Mental, afirma a professora Eveline. “As mulheres aprendem, se profissionalizam e empreendem ou se empregam com CLT. A mulher dona de casa, que não tinha opção de trabalho, encontra aqui uma oportunidade de fazer o que gosta e se profissionalizar”, exemplifica o coordenador do Movimento, Elizeu Sousa.

Muitas mulheres capacitadas a partir dessa parceria trabalham no Giardino Buffet, que foi pensado para gerar sustentabilidade financeira para a EGA. Hoje, ele também viabiliza outras ações do Movimento Saúde Mental.

Quando você contrata o serviço do Giardino, feito por essas mulheres capacitadas na Escola, você faz do seu evento um evento social, porque aquele dinheiro não vai ficar concentrado em um lucro para uma pessoa física. Várias outras ações e várias pessoas vão ser beneficiadas.
Eveline de Alencar
Professora do curso de Gastronomia da UFC e coordenadora do programa de extensão Gastronomia Social.

Para o futuro, os planos envolvem patentear a metodologia da Gastronomia e Terapia como uma tecnologia social, expandi-la para outros territórios, buscar projetos de extensão para contemplar os filhos das alunas no período das aulas e ampliar a pesquisa no Bom Jardim, que a professora caracteriza como “um celeiro de memória gastronômica”.

“Tem muita história, tem muita cultura. Então, queremos explorar mais isso como pesquisa e extensão. E fortalecer a parceria. Já estamos vendo a necessidade de ampliação”, defende a coordenadora.

 

Serviço:
Programa de Extensão Gastronomia Social
Instagram: @gastronomiasocialufc
Facebook: gastrosocialufc
E-mail: evelinedealencarcosta@gmail.com

Natureza do cuidado

Pedaços de plantas e galhos com folhas manchadas, cor alterada, secas, deformadas e com o desenvolvimento afetado. Essas são algumas matérias-primas acolhidas na Clínica de Doenças de Plantas da UFC, unidade que existe há mais de 60 anos, oferece atendimento gratuito a pequenos produtores do interior do estado e à população urbana que cultiva jardins e hortas, por exemplo, em casas e condomínios.

Situado no campus do Pici, o projeto de extensão é vinculado ao Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade, e conecta a pesquisa científica à sua aplicação no serviço ofertado diretamente à população.

Na clínica, as “pacientes” acolhidas são plantas das mais diversas espécies e tamanhos. E quem as examina é o agrônomo, doutor em Agronomia, professor e coordenador do projeto de extensão, Cristiano Souza Lima, e a estudante do curso de Agronomia e bolsista Gabriela Marques. Iniciado na década de 1960 pelo professor José Júlio da Ponte, o objetivo, diz Cristiano: “é prestar assistência aos pequenos produtores rurais do Ceará para diagnóstico de doenças, já que, muitas vezes, eles não têm condições de pagar um engenheiro agrônomo para fazer a diagnose da doença nas plantações e as recomendações de controle”.

No ano, a clínica recebe cerca de 50 amostras de plantas advindas de todo o estado para investigação, mas a capacidade de análise é bem maior, “pode chegar a 250 anualmente”, destaca o professor. Para que as “pacientes” sejam avaliadas, uma das exigências é  que os produtores levem ao local um pedaço delas no qual a doença esteja visível.

Na clínica, é preciso ainda relatar a situação da plantação para compor o diagnóstico e em, no máximo, 30 dias, após exames morfológicos, o resultado é disponibilizado em forma de laudo pela clínica. “Às vezes, é bem menos, até de um dia para outro”, completa a estudante Milena.

O trabalho realizado na clínica responde a perguntas como: Quais doenças de plantas são mais recorrentes no Ceará? Quais plantas são mais afetadas? “Os dados epidemiológicos são usados nas nossas pesquisas também. As doenças de plantas, na grande maioria, são causadas por fungos, diferentemente da dos humanos e dos animais, em que predominam vírus e bactérias. Cerca de 70% das doenças de plantas são causadas por fungos, embora vírus, bactérias, vermes, protozoários também ataquem as plantas”, detalha Cristiano.

“Na Agronomia a gente trabalha de forma semelhante ao médico, a diferença é que o agrônomo é o médico das plantas. Então, a gente tem clínica, faz análise laboratorial para chegar no diagnóstico e a gente tem a receita onde prescrevemos o tratamento que a planta precisa”, complementa o professor.

Doenças em coqueiros, cajueiros e em melões que afetaram grandes produções do estado, nos últimos anos, foram identificadas pelas pesquisas na clínica, como a podridão de Fusarium em frutos de melão no Ceará; a podridão peduncular de frutos em coqueiros no Nordeste (fungo Lasiodiplodia) e o oídio do cajueiro (fungo Erysiphe). O espaço, reforça o professor, é também útil para pesquisadores. Dentre os tratamentos recomendados estão:

  • Adquirir mudas sadias para replantio;
  • Fazer a rotação de cultura (variação de espécies plantadas)
  • Mudar época do plantio;
  • Usar variedade de plantas resistentes às doenças;
  • Em casos extremos ou de doenças nas quais não há outra solução, é recomendado fazer tratamento químico com fungicida.

Serviço: 
Clínica de Doenças de Plantas da UFC - Centro de Ciências Agrárias
Endereço: Rua Campus do Pici s/n Bloco 806, sala 103, Fortaleza.
Fone: 3366-9681 (de 8h-12h e 13h-17h)
Instagram: @mycologyufc

Sentir e ouvir para compreender a arte

Como explicar uma pintura ou uma fotografia para quem não consegue ver os traços, as cores e as texturas? Uma saída é usar a fala para tentar transmitir as emoções que os elementos deixam transparecer. Mas fica faltando algo. Coisas que a descrição, sozinha, talvez não consiga dar conta.

Materializar as imagens por meio da sobreposição de figuras cortadas em placas de três milímetros ajuda a situar os elementos em diferentes planos. Gravuras no material simulam texturas e uma cola cria relevos e permite destacar alguns detalhes. Mas também não conta tudo sobre a obra.

É com a união das duas soluções que uma parceria entre a UFC e a Universidade Estadual do Ceará (Uece) tem tornado exposições acessíveis a pessoas com deficiência visual. O projeto de extensão Fotografia Tátil, da Federal, reproduz a obra em uma peça acessível, enquanto a equipe da Estadual faz a audiodescrição.

“A peça tátil vai servir muito mais para eu entender a geometria daquela obra, as posições. Mas uma descrição subjetiva — falar sobre as cores, sobre coisas mais sensíveis, falar que o olhar dessas crianças é de apreensão —, isso eu não vou conseguir perceber tão bem. Mas a audiodescrição fala sobre isso e eu venho, toco e faço uma associação. Uma complementa a outra”, explica Roberto César Vieira, professor do curso de Design da UFC.

O Fotografia Tátil começou a tomar forma uma década atrás, quando o docente recebeu um telefonema pedindo doações para ajudar crianças cearenses com deficiência visual. Foi nessa época que ele começou a pensar como poderia elaborar um projeto que pudesse gerar recursos para essa associação.

“Como eu gosto de arte e fotografia, comecei a refletir: ‘Será que pessoas cegas poderiam fotografar? E, se elas fotografarem, a gente poderia gerar uma peça tátil?’”, conta. Ainda em 2014, ele fez testes e realizou uma primeira oficina de fotografia para pessoas com deficiência visual ou baixa visão. No ano seguinte, cadastrou a iniciativa e começou a ter bolsistas.

Sem uma norma de como criar uma peça tátil, o início foi de muita experimentação e contou com apoio da Secretaria de Acessibilidade da UFC, lembra o professor. Desde então, o projeto tem ganhado escala. Se antes eles produziam poucas unidades, hoje há pedidos para mostras inteiras.

A demanda é enorme. Então, o que a gente fala é que a gente tem que tentar fazer formação. A gente imagina que cada museu precisa ter uma equipe comprometida para a gente dar o suporte. A gente faz a formação, explica como faz e eles podem propor as próprias peças. Se precisar, a gente pode tentar executar na nossa oficina. Mas é importante que o museu abrace essa ideia. Imagina todos os museus 100% acessíveis, a quantidade de trabalho que tem para ser feito.
Roberto César Vieira
Professor do curso de Design da UFC e coordenador do Fotografia Tátil

Na exposição “Imagens Para o Futuro”, que ficou em cartaz no Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS) entre 13 de julho e 1º de setembro deste ano, todas as 36 fotografias contaram com peça tátil e audiodescrição. O projeto de extensão também tem parceria com outras instituições de Fortaleza, como o Museu da Fotografia, o Museu da Cultura Cearense e a Pinacoteca do Ceará, além do próprio Museu de Arte da UFC (MAUC).

Mais do que transpor a informação da fotografia ou do quadro para uma forma tátil, o trabalho do grupo é como criar uma nova obra de arte. É preciso conhecer o autor e a história da obra original para planejar a nova peça; identificar quais elementos devem estar em cada plano e decidir quais detalhes vão ser destacados ou simplificados.

Também é preciso pensar que materiais e técnicas serão utilizados — MDF, acrílico ou impressão 3D —, em qual tamanho a peça será produzida e como será possível comunicar certas características das imagens. É desafiador explicar e demonstrar elementos como perspectiva e sombra, exemplifica o professor.

“Isso tudo é um processo, mas sempre falamos que não queremos facilitar a vida deles, no sentido de que vamos tentar, com o passar do tempo, fazer com que eles entendam o que é isso. (…) As pessoas, às vezes, falam: ‘pessoas cegas têm facilidade com o tato, elas já entendem’. Não. É uma coisa nova”, defende Vieira.

São muitos os relatos sobre o Fotografia Tátil mostrar que é possível, sim, ter acessibilidade em museus. Porém, o professor avalia que esse ainda é apenas o começo. A falta de recursos para os materiais e para a manutenção das máquinas é uma dificuldade que tem sido solucionadas por meio de trocas e parcerias com os museus.

Também ainda existe resistência de instituições devido ao custo e ao esforço envolvidos nessa produção, e o público ainda é considerado pequeno. Mas como pessoas com deficiência vão para museus se eles não oferecem estrutura para elas? “A questão é que o público vai ser formado se tiver acessibilidade”, defende Vieira.

Serviço:
Projeto de Extensão Fotografia Tátil
Instagram: @fotografiatatil
E-mail: fotografiatatil@daud.ufc.br