Ceará lança primeiro Guia de Aves com mapeamento de 150 espécies; veja detalhes

Material incentiva o turismo e a conservação da biodiversidade no Estado

Entre árvores, da serra à praia, voam 443 espécies diferentes por municípios cearenses e os 150 tipos mais emblemáticos estão catalogados no 1º Guia de Aves do Ceará, lançado no último mês e disponível na versão digital. Além de reunir conhecimento sobre a biodiversidade, o material estimula a prática de observação de aves no Estado.

O guia foi elaborado pelo grupo InovaFauna, do programa Cientista-Chefe de Meio Ambiente, ligado à Secretaria de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Estado (Sema), em 18 meses. O financiamento foi da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

O guia apresenta as espécies das principais 8 regiões do Estado, destacando informações sobre tamanho, período de atividade, nome científico e características do animal. Também há o status de conservação, em relação ao risco de extinção, das aves. Confira as regiões:

  • Maciço de Baturité
  • Litoral Leste
  • Litoral Oeste
  • Chapada do Araripe
  • Serra da Ibiapaba
  • Serra da Meruoca
  • Sertão Central
  • Fortaleza e Região Metropolitana

O “soldadinho-do-araripe” e o “cara-suja” estão entre as aves que atraem mais olhares e motivam milhares de viagens dos observadores ao Ceará. Cecília Licarião, bióloga e uma das autoras do guia, explica que entre os principais objetivos da produção está o incentivo a esse tipo de turismo.

“Nós selecionamos as 150 espécies mais emblemáticas, trazendo as ameaçadas de extinção e as que são motivo de desejo dos observadores de aves para visitarem o Ceará. A gente quer sinalizar que, vindo para o Estado, eles vão conseguir ver essas espécies”, disse Cecília Licarião.

Mas outro aspecto muito relevante apontado pela pesquisadora é o de levar conhecimento sobre a biodiversidade para as comunidades. “Durante o projeto, a gente fez a capacitação em algumas pessoas dos locais para que elas se tornem guias de aves. É um projeto que tem muita capilaridade”, avalia.

Em Icapuí, no Litoral Leste, mais de 20 pessoas receberam treinamento para atuar com a observação de aves, por exemplo. Conhecer a biodiversidade, inclusive, contribui para a proteção dos animais.

A gente quer que as pessoas entendam que essa é uma atividade com excelente potencial de geração de renda, queremos que ganhem dinheiro e sustentem as famílias por meio de algo que está ligado à conservação
Cecília Licarião
Bióloga

Veja algumas espécies retratadas no guia

Soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni)

Única espécie exclusiva do Ceará, essa ave é o motivo principal da vinda de observadores para o Estado. Habitante das florestas úmidas das encostas remanescentes nos municípios de Barbalha, Crato e Missão Velha.

O macho é colorido, enquanto a fêmea se camufla no verde da vegetação, sendo chamada popularmente de lavadeira-da-mata. Os ninhos da espécie são construídos próximos a cursos d’água.

As principais ameaças à espécie são a devastação do habitat e escassez de fontes hídricas. A ave é símbolo em projetos de proteção de nascentes e restauração de matas ciliares, liderados pela ONG Aquasis.

Cara-suja (Pyrrhura griseipectus)

Exclusivamente nordestina, o cara-suja tem no Estado sua maior população na Serra de Baturité. É possível que um grupo recentemente descoberto na Bahia se trate de outra espécie, tornando o cara-suja uma ave endêmica do Ceará.

Atualmente, um projeto de reintrodução liderado pela ONG Aquasis vem repovoando com sucesso a Serra da Aratanha, onde a espécie havia sido extinta. Ave social, vive em bandos familiares de até 15 indivíduos.

A destruição do seu habitat e o tráfico foram os principais fatores que o levaram ao seu estado de ameaça. Vê-la na natureza é um sonho para qualquer observador de aves, atraindo turistas de todo o mundo.

Uirapuru-laranja (Pipra fasciicauda)

No Ceará, também é conhecido como guaramiranga. As cores vibrantes, o canto agudo e os rituais de danças de acasalamento chamam a atenção de naturalistas e motivam sua procura turística. Apesar de ser encontrado em outras regiões do País, no Ceará, só é encontrado na Serra de Baturité onde é facilmente fotografado.

O município de Guaramiranga, é assim chamado devido ao nome desse pássaro. No entanto, a espécie está considerada como em perigo na lista vermelha estadual. É importante ressaltar o papel ecológico que essa espécie desempenha na dispersão de sementes nativas da Serra.

Pompeu (Hylopezus ochroleucus)

Também conhecido como toróm-do-nordeste, exibe uma combinação de cores que chama atenção de observadores. Com um dorso em tons de verde-oliva e cinza, uma discreta listra superciliar e uma faixa inferior branca, acentuada por manchas marrons nos flancos. As pernas do animal se destacam com uma tonalidade rosada.

Normalmente é visto pulando silenciosamente no chão da floresta ou pousadas no sub-bosque de florestas decíduas da caatinga, além de presenciar a dancinha que ela faz enquanto vocaliza.

Uru (Odontophorus capueira)

Uma das aves mais raras do Nordeste, sofre com a perda de habitat, avanço da urbanização, caça predatória e introdução de predadores exóticos. De ocorrência associada às serras úmidas, a redução drástica desses ambientes levou o uru a uma diminuição considerável da sua população. Atualmente, só é encontrado nas matas mais preservadas do Maciço de Baturité e observá-lo é um grande desafio.

Criação de unidades de conservação na região, pesquisas para reconhecer a subespécie nordestina (Odontophorus capueira plumbeicollis) como espécie válida e o estabelecimento de uma população reprodutiva em cativeiro são as principais ações de conservação em andamento.

Como surgiu o guia

A produção do 1º Guia de Aves do Ceará era um “sonho” para os pesquisadores envolvidos, no sentido de atrair mais pessoas para a atividade. Como base, o grupo partiu de livros e artigos científicos para a escolha das espécies e na forma de dispor as informações.

Um dos desafios foi encontrar boas imagens de cada animal – algumas elaboradas pelos próprios autores, mas também fotos doadas.

“Um guia de aves não pode ter fotos só bonitas, tem de mostrar as características daquela espécie, é importante colocar imagens dos machos e fêmeas quando há diferenças e informações sobre o quão diverso é esse universo”, completa.

Cecília frisa que a escrita do material teve como propósito uma linguagem simples de entender, para atender ao máximo de pessoas. “Nós pensamos em falar para o público leigo e quando a gente começou a escrever queríamos trazer as principais curiosidades”.

A ideia é fazer uma rota de observação de aves do Ceará que contemplem 11 hotspots e que as pessoas com o guia em mãos possam saber curiosidades. Então, essas 150 espécies foram escolhidas pensando nas áreas
Cecilia Licarião
Bióloga