Até onde se pode ir por um sonho? Para o cearense Leonardo da Rosa Giglio Filho, 32 anos, a resposta é fácil: até onde a teimosia aguentar. Na busca por se tornar o primeiro cearense a vencer a 10ª edição do MasterChef Brasil, o advogado e produtor rural pediu demissão do emprego e ainda faltou o casamento do melhor amigo.
Neste ano, Leonardo embarcou mais uma vez na luta por uma vaga no reality da Band TV. O cearense, que tem as raízes em Guaramiranga e Quixeramobim, já carrega cinco tentativas frustradas, ciente de que esse sonho requer assumir riscos e abdicar de momentos únicos.
O primeiro episódio foi exibido na última terça-feira (2), mostrando a seletiva da 10ª edição do Master Chef Brasil, que iniciou com 90 participantes. Gradualmente, os concorrentes foram eliminados.
Agora, Leonardo se encontra entre os 34 competidores finais para tentar um dos 18 aventais. Esta é a última fase antes do reality fechar os participantes oficiais.
Caso ganhe, vai poder iniciar a batalha pelo prêmio do Master Chef Brasil. Além do troféu desejado por cozinheiros amadores, o vencedor ainda ganha prêmio de R$ 300 mil, convertido em um cartão Pão de Açúcar.
Demissão e ausência em casamento
Leonardo trabalhava para uma empresa de prestação de serviço terceirizado ao Tribunal de Justiça do Ceará. Para estar na seletiva, perguntou se poderia atuar de forma remota, mas negaram a possibilidade.
Por isso, arrumou a mesa, e logo pediu demissão no dia 1º de março. "Como os testes são todos feitos em São Paulo, não tinha condição do trabalho ser feito de forma remota. Eles iniciaram logo depois", relatou.
Nesse processo, também perdeu o casamento do melhor amigo, que aconteceu na semana passada. A ausência foi dura, já que era uma das pessoas mais próximas de sua infância.
"São cinco melhores amigos que se casaram com cinco amigas. Agora eu tenho que entrar no programa, porque meu amigo disse que só me perdoa se eu entrar e ganhar o prêmio".
O advogado não se abala com as tentativas frustradas. Guarda as lembranças de 2015, 2016, 2017, 2018, e 2019. Nos últimos três anos deu uma pausa. Estava chateado.
Neste ano, decidiu: ia tentar mais uma vez. Não tem jeito, é a tal da teimosia cearense. “Sempre me imaginei fazendo parte do programa, e só sossego no dia que conseguir marcar meu nome na história desse programa”, bateu o pé.
Tradição do Ceará
O advogado se considera um amador, nunca tendo realizado nenhum curso. “Não sou cozinheiro profissional. Eu desenrolava umas comidas diferentes com o interesse de não comer comida congelada”, explicou.
Mas o que começou como uma decisão de assumir a responsabilidade no preparo das próprias refeições, se converteu em amor pela gastronomia. Dentre as especialidades dele estão os pratos com “pegada mais regional”.
Panelada, sarrabulho, buchada. “E gosto de usar também rapadura e cachaça”. O motivo? Vai longe, puxando as raízes que atravessam mais de três gerações familiares.
Em tom de confissão, Leonardo contou que o bisavô era um produtor de cachaça. Em 1950, algumas cachaças produzidas pelo bisavô foram servidas especialmente para o casamento da avó, que por sua vez guardou uma unidade para servir no casamento dele. Tradição de pai para filho.
“A cachaça tinha que estar no casamento. Me casei em outubro de 2022, com meu primeiro amor, primeiro beijo dela. Estamos juntos há 14 anos”.
Por isso também, no programa, o primeiro prato servido foi um dadinho de tapioca com carne de sol e calda de rapadura com cachaça. “Veio da cabeça, na hora. Gosto dessa pegada agridoce. É uma marca da família”.
Caminhadas possíveis
No momento, o foco é na vitória no Master Chef Brasil. Leonardo quer trazer o título para a terra que sente tanto orgulho. Um pouco supersticioso, conta que 2023 seria o centenário do avô, caso o patriarca estivesse vivo. Por causa da data, revelou: “eu sinto que vou entrar. É só ‘achimo’. Mas sinto que vou”.
Da mesma forma que deixou o emprego para tentar a seletiva do Master Chef, ele deixaria de lado a carreira que construiu como advogado para se dedicar ao mercado gastronômico cearense. O objetivo é “exportar tudo que o Ceará tem de melhor”.
Mas, com a mesma humildade que se embrenhou em diversos negócios ao longo dos anos – venda de gado, carneiro, produção agrícola e até advocacia – ele voltaria aos escritórios caso seja eliminado.
“Não tenho vergonha se não der certo. Volto a trabalhar. Mas ano que vem tento de novo, e depois de novo, e de novo”, garantiu.