Mais de 304 mil pessoas deixaram de habitar o Ceará entre 2021 e 2022. Ao todo, 147 das 184 cidades do Estado perderam moradores (veja mapa abaixo). É o que aponta a prévia da população dos municípios, baseada no Censo 2022 e divulgada nessa quinta-feira (29).
Atualização: Em contato com a reportagem após a publicação, o IBGE ressaltou que o ideal é comparar os Censos 2010 e 2022, e não utilizar a estimativa populacional de 2021 - ainda que esta tenha sido publicada no Diário Oficial da União (DOU) e utilizada como base para o cálculo do Fundo de Participação dos Municípios (FDM) de 2022.
Entre 2010 e 2022, portanto, o Ceará perdeu 135.354 habitantes, em 78 municípios. Contudo, a população geral aumentou em 1,5 milhão de pessoas.
No Ceará, cerca de 90% dos setores censitários já concluíram a coleta das informações para o Censo, de modo que, por meio de cálculos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já definiu os números de habitantes das cidades.
De acordo com Francisco Lopes, superintendente do Estadual do IBGE, os dados são “os mais próximos da realidade”, e mostram de forma clara que “houve uma mudança na tendência de população no Ceará e no Brasil, com redução dos nascimentos”.
A prévia mostra que Fortaleza perdeu 107.234 habitantes em relação a 2021. Neste ano, foram contabilizadas 2.596.157 morando na capital cearense. Maranguape foi a segunda cidade com maior redução: 38.522 pessoas deixaram de viver na terra de Chico Anysio.
O que está acontecendo é uma mudança sociodemográfica, com um crescimento muito lento da população. Estamos chegando ao pico. Muitos municípios vão ter população inferior, porque a mortalidade aumenta e o número de nascimentos cai.
Lopes destaca ainda que se observa um “alargamento” no topo da pirâmide etária do Ceará, baseado numa contradição: a população está vivendo mais do que no Censo 2010, mas a natalidade caiu e a mortalidade de jovens está maior, hoje.
O superintendente do IBGE no Ceará projeta que, até as primeiras semanas de janeiro, o levantamento estará concluído em todas as cidades com menos de 170 mil habitantes.
Já nas 5 maiores – Fortaleza, Caucaia, Juazeiro do Norte, Maracanaú e Sobral –, a previsão é de que a coleta seja finalizada até 31 de janeiro e, depois, o Disque Censo fique aberto por 30 dias, para capturar o público ausente ou que se recusou a responder.
Os dados finais e consolidados do Censo 2022 devem ser divulgados em março de 2023.
O que acontece quando a população diminui?
Ter indicadores populacionais atualizados é fundamental para os governos reprogramarem políticas públicas, como reforça Francisco Lopes. A defasagem dos números influencia não apenas em repasses financeiros, mas até na saúde.
“Um exemplo é a vacinação: os dados estimados de crianças estão com base em censos anteriores. Hoje, nascem menos crianças, então as metas precisam ser recalculadas”, destaca o gestor.
habitantes formam a população total do Ceará em 2022, segundo o IBGE.
Com a tendência de diminuição e envelhecimento da população, “todos os campos das políticas públicas serão afetados”. É o que analisa José Meneleu Neto, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e coordenador do Laboratório de Estudos de População (Lepop).
“Precisaremos de políticas específicas nos campos do trabalho, saúde, mobilidade, infraestrutura... Nenhum deixará de ser afetado. O País enquanto unidade geopolítica precisa tratar estratégias pra se adequar a essa condição”, destaca.
Nas próximas décadas, a tendência é de que haja um contingente menor disponível para o mercado de trabalho, e o disponível será mais idoso – que vai continuar trabalhando, não porque quer, mas para subsidiar a própria velhice. Será um ‘gerontariado’.
O que se desenha é a possibilidade de um “desequilíbrio”. “A faixa litorânea e a Região Metropolitana de Fortaleza concentram investimento, infraestrutura e população, enquanto há perda de habitantes em outras cidades. Isso gera um desequilíbrio na estrutura geográfica”, ilustra o professor.
“Esses dados do IBGE são surpreendentes pela velocidade com que isso ocorreu. Os especialistas já vinham acompanhando essa tendência de atenuação do ritmo de crescimento, mas agora, de fato, se tem uma queda da população como um todo”, complementa Meneleu.
E por que a população está diminuindo?
As causas da redução populacional no Ceará são, na verdade, resultado de uma “bola de neve”: com o envelhecimento das pessoas, cai a taxa de fecundidade e, portanto, os nascimentos.
O coordenador do Laboratório de Estudos de População da Uece pontua que se vivencia, agora, uma “segunda transição demográfica”: na primeira, a configuração das “famílias com muitos filhos”, comuns até meados de 1970, mudou. Agora, o envelhecimento dita a tônica.
O Ceará foi uma população emissora de pessoas pra outras regiões. Essa migração diminuiu muito e já se fala numa migração de retorno. Mas ela não foi suficiente pra compensar os efeitos da transição demográfica, que tem a ver com o envelhecimento.
10 cidades com mais habitantes no Ceará
- Fortaleza – 2.596.157
- Caucaia – 372.413
- Juazeiro do Norte – 269.435
- Maracanaú – 231.121
- Sobral – 219.030
- Itapipoca – 132.711
- Crato – 130.858
- Iguatu – 97.733
- Maranguape – 93.155
- Aquiraz – 92.281
10 cidades com menos habitantes no Ceará
- Granjeiro – 4.843
- Guaramiranga – 5.676
- Baixio – 5.697
- São João do Jaguaribe – 5.855
- Potiretama – 5.977
- Pacujá – 6.136
- Ereré – 6.466
- General Sampaio – 6.734
- Altaneira – 6.782
- Umari – 6.874