Dificuldade faz empresa ampliar visão de gestão

Há empresas que optam por reduzir gastos, cortar pessoal, adiar investimentos ou redefinir metas, enquanto outras aproveitam o cenário adverso para "arrumar a casa", buscando o aumento de eficiência.

Essa foi a estratégia da cearense Óticas Visão, que, na contramão do varejo em geral e do segmento de óticas em particular, continuou aumentando o faturamento e abrindo lojas. "Quando, há dois anos, os cenários de dificuldades começaram a surgir, nós dissemos o seguinte: vamos cuidar da casa. Vamos capacitar as pessoas para que elas façam uma boa gestão dentro das lojas, fazendo com que os produtos que chegam girem com maior rapidez", lembra Assis Cavalcante, diretor-presidente do Grupo Óticas Visão.

Uma das medidas adotadas pela rede de lojas foi a redução do tempo das mercadorias em estoque, diminuindo o tempo de exposição dos produtos nas vitrines. "Concluimos que, para ter uma maior velocidade de venda, a gente teria de focar nos gestores, dando a eles um potencial mental para que eles pudessem gerir melhor os colaboradores", conta Cavalcante.

Parcerias

A empresa também reduziu o número de fornecedores e firmou parcerias com os remanescentes para obter descontos e melhores prazos de pagamento, o que refletiu em melhores preços e condições de pagamento para os clientes da loja.

"Com alguns fornecedores, como a Ray-Ban, da qual compramos de 8 mil a 10 mil peças por ano, a gente passou a comprar duas vezes por mês, em vez de uma. Comprando em menores quantidades, o risco de errar é menor, e estamos sempre com novidades. Além disso, esses compromissos menores, melhoram o nosso fluxo de caixa", destaca o empresário.

Atendimento

Paralelamente às mudanças em gestão, a Óticas Visão buscou uma maior aproximação com os clientes. "Como as prescrições médicas para os óculos são feitas anualmente, o nosso telemarketing passou a ligar para os clientes para lembrar o dia de ir ao oftalmologista", diz Cavalcante. Além disso, a loja dá uma garantia para aqueles que fazem a manutenção dos óculos regularmente. "A ideia é que o cliente venha sempre à loja, criando um vínculo com a gente", afirma. Durante esses dois anos, a empresa também investiu na reforma das lojas, para melhorar o visual e tornar-se mais atraente perante à concorrência.

Crescimento

Como resultados dessas práticas, adotadas nos últimos dois anos, a Óticas Visão conseguiu obter crescimento anual do faturamento superior a 8%, acima da média nacional do setor de óticas, que registrou queda de mais de 20% de janeiro a agosto deste ano, em relação a igual período do ano passado.

"Nesses últimos três anos, nós conseguimos inaugurar seis lojas e, até o fim desde ano, iremos inaugurar outras duas", adianta Cavalcante. "Mesmo em meses fracos, como fevereiro e setembro, nós tivemos crescimento tanto no faturamento como no volume de peças vendidas", acrescenta o empresário.

Capacitação

Segundo Cavalcante, um dos principais responsáveis pelo desempenho da empresa durante o período de crise foi o investimento na capacitação dos seus colaboradores, que culminou na criação da Univisão. Criada há seis meses e composta por 32 gerentes, a Univisão funciona como um centro de treinamento próprio focado, sobretudo, na gestão do varejo. "Nós decidimos colocar o foco nas pessoas. Assim, não foi preciso demitir. Trouxemos os colaboradores para serem nossos parceiros. Os gerentes passaram a ser gestores. E os resultados são muito evidentes", comemora.

Atualmente, a Óticas Visão conta com 22 lojas na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), sendo 18 na Capital, duas em Maracanaú e duas em Caucaia. Ao todo, são 165 funcionários, distribuídos em cargos de gerência e gestão, vendedores, contínuos, caixas e técnicos de laboratório.

Expectativa

Depois de "fazer o dever de casa", Cavalcante espera que, quando a crise passar, a empresa esteja na frente da concorrência, mais organizada e pronta para crescer ainda mais. "Quando começou a aparecer um cenário de dificuldade, nós nos voltamos para dentro da empresa. Não buscamos cortar nada, buscamos melhoramentos e eles estão aí", explica o empresário. "Agora, pelo que temos acompanhado na economia, acredito que se avizinha a bonança, com a recuperação do varejo, que não pode mais esperar. Acho que, de outubro em diante, teremos um momento melhor, com um dezembro fantástico. Estamos sempre otimistas", conclui.