Reinvenção do varejo: um jogo por soluções
A crise econômica no Brasil fez lojistas cearenses apostarem em novos caminhos para manter seus negócios aquecidos
Recriar algo a partir do que já existe. Este é um dos significados da palavra “reinventar”, cada vez mais presente no dia a dia do varejo brasileiro. Na prática, o verbo vem ajudando o setor a superar desafios impostos pela crise econômica nacional nos últimos dois anos. No Ceará, como em um jogo de quebra-cabeças, lojistas estão movendo peças e experimentando novos caminhos em busca de soluções para preservar seus negócios numa época de retração do consumo.
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Embora o cenário ainda esteja longe do ideal, o comércio acredita que o pior da crise econômica já passou e vê sinais de melhoria neste fim de 2016 e, especialmente, em 2017. A chegada do último quadrimestre do ano, período conhecido como B-R-O-Bró, em que as vendas costumam ser melhores, anima os empresários.
Várias pesquisas ligadas ao setor sinalizam mudanças no cenário, ainda que de forma lenta. Segundo o Índice Antecedente de Vendas do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IAV-IDV), a queda nas atividades estimada para este mês é de 0,5%, bem inferior ao recuo de 4,8% projetado em agosto. Em setembro, a expectativa para o segmento de bens semiduráveis, que inclui vestuário, calçados, livrarias e artigos esportivos, é de 2,5% de crescimento.
O vice-presidente do IDV, Flávio Rocha, analisa que, de 2003 a 2013, o varejo brasileiro vivenciou sua melhor década, crescendo três vezes mais que o Produto Interno Bruto (PIB). “Era um varejo tecnologicamente equipado, com alta escala, logística e integração. Houve um crescimento, na época, entre 700% e 1.000%”, lembra Rocha, dizendo que está otimista com a retomada do crescimento ainda neste semestre, considerando que o consumidor está mais confiante.
De acordo com a último levantamento realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE), o Índice de Confiança do Consumidor de Fortaleza cresceu 0,6% em setembro, na comparação com agosto, passando de 98,5 para 99,1 pontos.
Oportunidades
Para a gerente de projetos sênior Flávia Nunes, que atua há 16 anos na área de varejo, os lojistas precisam ficar atentos à evolução das vendas neste quadrimestre para saírem na frente em 2017. Ela considera que, neste momento, é importante identificar oportunidades, analisar os custos do mercado, criar um chamariz para novos clientes, além de solidificar a confiança de antigos consumidores.
“É preciso cuidar da base, fazer o que chamamos de ‘feijão com arroz’. Muitos esperam uma solução milagrosa quando, na verdade, é hora de sentar e reavaliar os gaps do negócio. Qualquer que seja a empresa e o segmento, é preciso uma estratégia de desenvolvimento de novos produtos e de exploração de novos mercados, uma espécie de departamento de investimentos no futuro. Isso permite que a empresa não seja surpreendida por alguma mudança brusca nas regras do jogo no qual está inserida”, orienta.
Nesse contexto, outra alternativa destacada por Flávia é a atitude, sendo importante que os varejistas pensem em novas ideias e se movimentem, ao invés de colocarem a culpa em elementos externos, como a crise. Boa parte do fracasso, destaca, está na inércia e no sentimento destrutivo de autopiedade.
Tecnologia
A gerente de projetos chama atenção para a importância das novas tecnologias para o varejo. Para ela, as empresas que entenderam que a automação traz benefícios têm investido de maneira sábia para aproveitar as vantagens das ferramentas tecnológicas, que não são, necessariamente, sinônimo de grandes investimentos.