Reinvenção do varejo: um jogo por soluções

A crise econômica no Brasil fez lojistas cearenses apostarem em novos caminhos para manter seus negócios aquecidos

Escrito por Bruno Cabral, Carol Kossling, Raone Saraiva - Repórteres ,

Recriar algo a partir do que já existe. Este é um dos significados da palavra “reinventar”, cada vez mais presente no dia a dia do varejo brasileiro. Na prática, o verbo vem ajudando o setor a superar desafios impostos pela crise econômica nacional nos últimos dois anos. No Ceará, como em um jogo de quebra-cabeças, lojistas estão movendo peças e experimentando novos caminhos em busca de soluções para preservar seus negócios numa época de retração do consumo. 

>Dificuldade faz empresa ampliar visão de gestão 

>Loja direciona produtos conforme perfil do cliente

>'Comércio tem que falar  a língua do consumidor' 

>Novo visual garante expansão

>Lojistas unem forças para vender mais

>Projeto incentiva empresário a crescer com novas tecnologias 

>Cortar despesas é prioridade

>Marca aposta em lingerie mais barata, novos nichos e outlet 

>Mercado internacional é alternativa

Não há receita para manter as vendas e as lojas abertas. As estratégias utilizadas pelas empresas a fim de vencer obstáculos variam de acordo com as necessidades de cada uma. Mas, neste período de dificuldade, varejistas cearenses seguem alguns rumos comuns. Reduzem custos, fazem reestruturação interna, apostam em novos canais de vendas, mudam o mix de produtos, reformulam a tabela de preços das mercadorias e intensificam as promoções. 

Embora o cenário ainda esteja longe do ideal, o comércio acredita que o pior da crise econômica já passou e vê sinais de melhoria neste fim de 2016 e, especialmente, em 2017. A chegada do último quadrimestre do ano, período conhecido como B-R-O-Bró, em que as vendas costumam ser melhores, anima os empresários. 

Várias pesquisas ligadas ao setor sinalizam mudanças no cenário, ainda que de forma lenta. Segundo o Índice Antecedente de Vendas do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IAV-IDV), a queda nas atividades estimada para este mês é de 0,5%, bem inferior ao recuo de 4,8% projetado em agosto. Em setembro, a expectativa para o segmento de bens semiduráveis, que inclui vestuário, calçados, livrarias e artigos esportivos, é de 2,5% de crescimento.

O vice-presidente do IDV, Flávio Rocha, analisa que, de 2003 a 2013, o varejo brasileiro vivenciou sua melhor década, crescendo três vezes mais que o Produto Interno Bruto (PIB). “Era um varejo tecnologicamente equipado, com alta escala, logística e integração. Houve um crescimento, na época, entre 700% e 1.000%”, lembra Rocha, dizendo que está otimista com a retomada do crescimento ainda neste semestre, considerando que o consumidor está mais confiante. 

De acordo com a último levantamento realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE), o Índice de Confiança do Consumidor de Fortaleza cresceu 0,6% em setembro, na comparação com agosto, passando de 98,5 para 99,1 pontos.

Oportunidades

Para a gerente de projetos sênior Flávia Nunes, que atua há 16 anos na área de varejo, os lojistas precisam ficar atentos à evolução das vendas neste quadrimestre para saírem na frente em 2017. Ela considera que, neste momento, é importante identificar oportunidades, analisar os custos do mercado, criar um chamariz para novos clientes, além de solidificar a confiança de antigos consumidores. 

“É preciso cuidar da base, fazer o que chamamos de ‘feijão com arroz’. Muitos esperam uma solução milagrosa quando, na verdade, é hora de sentar e reavaliar os gaps do negócio. Qualquer que seja a empresa e o segmento, é preciso uma estratégia de desenvolvimento de novos produtos e de exploração de novos mercados, uma espécie de departamento de investimentos no futuro. Isso permite que a empresa não seja surpreendida por alguma mudança brusca nas regras do jogo no qual está inserida”, orienta. 

Nesse contexto, outra alternativa destacada por Flávia é a atitude, sendo importante que os varejistas pensem em novas ideias e se movimentem, ao invés de colocarem a culpa em elementos externos, como a crise. Boa parte do fracasso, destaca, está na inércia e no sentimento destrutivo de autopiedade.

Tecnologia

A gerente de projetos chama atenção para a importância das novas tecnologias para o varejo. Para ela, as empresas que entenderam que a automação traz benefícios têm investido de maneira sábia para aproveitar as vantagens das ferramentas tecnológicas, que não são, necessariamente, sinônimo de grandes investimentos. 

“Mas ainda vemos empresários parados no tempo. Estamos em um momento de buscar eficiência, e a tecnologia é uma das alavancas para alcançar esse objetivo” constata, dizendo que os varejistas estão mais bem adaptados à atual situação. “Não estávamos acostumados com uma queda como a que houve. Agora, está todo mundo mais com o pé no chão. Passado o momento de crise, é fazer a lição de casa e ficar atento às variações do mercado”, conclui Flávia.
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