Há quase 40 anos, quando teve o primeiro contato com xilogravuras, trabalhando com impressões na Tipografia São Francisco – a mais antiga do Ceará -, José Lourenço Gonzaga sequer poderia imaginar que se tornaria uma das principais referências dessa arte no nordeste brasileiro. Sair de Juazeiro do Norte e viajar para fora do País divulgando essa produção, então, poderia ser considerado algo totalmente fora de sua realidade.
A relevância do trabalho desenvolvido nos últimos anos na tipografia “herdada”, depois renomeada como Lira Nordestina, no entanto, deu-lhe a oportunidade de representar os artesãos cearenses no evento “L’ Artigiano on Feira”, 23ª Mostra Mercado Internacional do Artesanato, em Milão, na Itália. A atividade acontece entre os dias 1º e 9 de dezembro, mas o juazeirense já se encontra lá com a comitiva do Governo do Estado.
“É a primeira vez que a gente faz esse trabalho fora do país. Esperamos não só vender o produto, mas também ter esse intercâmbio, conhecer os expositores, as obras; dialogar com novas tipologias, artistas, novas pessoas que trabalham com isso. É uma coisa que abre mais a mente da gente”, destaca José Lourenço.
Quem visitar a feira em Milão, poderá ver o artista confeccionando um produto em xilogravura. A atividade leva em torno de duas horas, e inclui desenho e entalhe da madeira, além da impressão das obras. O visitante da feira vai ter acesso também aos artesanatos do grupo que José Lourenço representa.
“Vou levar a xilografia em papel, que é a original. As peças que serão comercializadas vão retratar a Lira Nordestina, a zona rural, o movimento religioso, romaria, vaqueiros, reisado, banda cabaçal, o nosso folclore, teremos xilogravura com cores, a xilogravura mais moderna, que é tipo uma montagem. Vou levar, por exemplo, a Santa Ceia, que demorou quatro meses para ser feita”, descreve.
Artista reconhece a responsabilidade de representar o Estado
A participação do Ceará no evento italiano tem o intuito de promover e divulgar o artesanato local com foco na ampliação de mercado, principalmente o europeu. Logo, diversas tipologias daqui serão comercializadas durante os nove dias de evento, tais como areia colorida, argila, fibras vegetais, madeira, papel, metais, fios e tecidos (renda de bilro, labirinto, filé, tecelagem, crochê e bordado), entre outra. Artesãos e entidades artesanais de todas as regiões do Estado serão beneficiados com as vendas dos produtos.
Nesse sentido, o xilógrafo José Lourenço destaca a importância de viajar com o “pé no chão”. “Sou artista lá do interior do Ceará, de Juazeiro do Norte, e tenho compromisso não só comigo mesmo como artista, mas com as outras pessoas que trabalham comigo. Represento aqui não só o José Lourenço, mas todo um movimento artístico, cultural, de uma região importante do Estado”, evidencia.
Apesar da responsabilidade, ele também está aproveitando a estadia na Europa para viver novas experiências. “Pra mim tá sendo uma coisa bem diferente, não tem explicação, só mesmo sentindo, passando esse frio, de sair de 38 graus pra 8 graus, 5 graus. Isso tudo é nova experiência que vou levar pro resto da vida”, conclui.