A surpreendente e espontânea viralização recente de “Escrito nas Estrelas”, música da cantora sul-mato-grossense Tetê Espíndola, não é exatamente uma novidade na trajetória da faixa. Uma “primeira onda” de sucesso se deu já na época do lançamento, há quase 40 anos, e a permanência da obra depõe sobre o caráter “universal e atemporal” destacado pela artista em entrevista ao Verso.
De volta às paradas e introduzida a novas gerações, Tetê completou 70 anos de vida no último dia 11 de março. Para 2024, pretende não apenas celebrar este marco, mas também disponibilizar mais discos nas plataformas de streaming, lançar trabalhos inéditos e circular com shows pelo País.
Do 1º lugar conquistado no “Festival dos Festivais”, evento celebrativo produzido pela TV Globo em 1985, ao topo da parada Viral 50 do Spotify quase 40 anos depois, “Escrito nas Estrelas” reúne, na avaliação de Tetê, especificidades de letra — escrita por Carlos Rennó — e música — composta por Arnaldo Black — que explicam o sucesso perene da obra.
“A melodia é muito potente, um achado. Usa a escala pentatônica, isso não tinha sido explorado na MPB até que ‘Escrito’ apareceu. É uma coisa de vibração, as pessoas se encantam. Acho que pega em algum mantra universal, nos emociona profundamente”, começa a artista.
Já sobre a letra, Tetê reflete: “Ela tem esse ar de simplicidade, mas é como a construção melódica: uma estrutura bem sofisticada , com muitos achados poéticos e temáticos. Cheia de surpresas e quebra de paradigmas, como o inusitado, na época, de confrontar amor e tesão”.
Décadas depois, ao ser cantada pela ex-jogadora de vôlei Márcia Fu no reality show A Fazenda e ganhar versão sertaneja gravada por Lauana Prado, a música original caiu no gosto das redes sociais e de novas gerações.
“É tão bom ver esse público novo, muitas crianças, adolescentes e juventude curtindo a música, ligados na minha carreira. Essa música sempre teve essa potencialidade, é muito universal e atemporal. Vejo vários vídeos no Instagram da moçada cantando, tocando, é muito emocionante”, celebra a artista.
A rede social citada, inclusive, é uma das ferramentas que Tetê mantém para estabelecer uma “boa comunicação” com os fãs no meio digital. “Há muito tempo que estou ligada. Eu mesma faço vários posts. Gosto de tirar fotos de coisas que me chamam a atenção e publicar”, divide. “Agora, com o viral, senti necessidade de ajuda, porque o movimento aumentou muito. Tenho uma assistência muito boa, mas continuo pilotando tudo que rola”, garante a artista.
Nos streamings
Outras plataformas digitais, no caso as de streamings, são também destacadas positivamente pela cantora. Ao longo dos últimos meses, inclusive, discos antigos de Tetê que ainda não estavam disponibilizados no Spotify passaram a compor o catálogo do serviço.
Trabalhos como “Piraretã” (1980) e “Gaiola” (1986), por exemplo, foram adicionados, respectivamente, em março e maio do ano passado. Tetê adianta, ainda, que irá buscar “colocar o máximo de trabalhos da minha discografia à disposição nas plataformas digitais”.
“A gente tem que ir se apropriando das funcionalidades e tecnologias de cada época. É um avanço, possibilita aos artistas independentes distribuir com mais facilidade sua produção artística”, avalia.
“Fui uma das pessoas que batalhou para ter o trabalho distribuído de forma independente. Naquela época era muito difícil, era uma luta especial de alguns expoentes da vanguarda paulistana, artistas que tinham um caminho muito diferente do que a indústria fonográfica procurava para o mercado”, reflete Tetê, citando nomes como Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e os grupos Rumo e Premeditando o Breque.
De Björk a Arrigo Barnabé
Com trajetória alinhada aos artistas e conjuntos citados, Tetê tem sido comparada neste momento de “descoberta” por jovens nas redes sociais com figuras como a britânica Kate Bush e a islandesa Björk.
“A Kate Bush surgiu ao mesmo tempo que eu, não foi exatamente uma influência. O nosso timbre de voz agudo, afinadíssimo, quase operístico, nos aproximou naturalmente, porque era e ainda é uma coisa rara. Adoro o trabalho dela”, compartilha. Pontos de convergência, mesmo, Tetê reconhece na islandesa.
“Tenho mais em comum com a Björk, temos a coisa comum na criação musical e de espetáculo, com muito espaço para o experimental. Melodias e ritmos inusitados, fusão de linguagens musicais. Me identifico muito, porque procuro isso constantemente na minha carreira. Por isso fiz o que fiz e continuo fazendo com o Arrigo. Também já fiz com Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti. Artistas incensados pela procura de inovação com brasilidade”, reflete.
Para celebrar 70 anos
O mais recente álbum solo da artista foi “Outro Lugar”, lançado em 2017. De lá para cá, lançou projetos especiais como “Recuerdos”, álbum que saiu pelo Selo Sesc reunindo Tetê e a irmã Alzira E, e “Notas de Tempo Nenhum”, que reúne composições de Arnaldo Black e Hilton Raw arranjadas pelo maestro Rodrigo Morte.
Para marcar os 70 anos de vida comemorados em 2024 e já nas preparações para a celebração de 40 anos desde o lançamento “Escrito nas Estrelas”, a artista adianta alguns dos próximos passos, incluindo o “desafio” que é a turnê “Tetê 70”.
“Tenho lançamento de novos (discos) em curso. Além disso, um dos meus projetos este ano é uma turnê que já se iniciou, onde vou apresentar todas as formações de shows que fiz até o momento. Vou juntar diversos artistas que já passaram pela minha estória musical e apresentar ao público esta linha do tempo”, afirma.
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