O cineasta cearense Rosemberg Cariry passou seis anos sem lançar um longa-metragem. “Pobres Diabos” (2013) antecedeu “Notícias do Fim do Mundo” (2019), recém-lançado na programação do 29º Cine Ceará.
O novo filme traz, dentro do próprio universo da filmografia do realizador, um clima de celebração coletiva. Atores como Chico Diaz, protagonista de “Corisco & Dadá” (1996, ao lado de Dira Paes), um dos filmes mais reconhecidos da obra do cearense, fazem “pontas” na trama.
Rosemberg avalia os caminhos do novo longa e, embora o título soe bastante atual, o cineasta situa que o filme foi rodado durante um longo processo de 10 anos. Os primeiros roteiros surgiram após a escrita do conto “Os 12 guerreiros do reisado” (1996). “Folias de Reis” era, a princípio, o nome do projeto.
“Escrevi as primeiras versões do roteiro já no século XXI (risos), e comecei a filmar em 2010. O núcleo é o que se passa dentro do ônibus. E as cenas do sequestro, do que se passa lá dentro, foram filmadas num só tempo, durante 15 dias. O recurso (pra viabilizar) partiu de um projeto de média-metragem”, recapitula.
O diretor percebe o ônibus da trama como um dos elementos instigantes da narrativa. Ora se assemelha a um coletivo “normal”, ora é cápsula, nave, e se transforma em floresta, capela sistina, barroca, segundo o olhar do próprio Rosemberg.
“Notícias do Fim do Mundo” evoca frases fortes, a exemplo de “a guerra está na mente humana”, em um trecho da fala do Mestre Jacaúna, personagem do ator Everaldo Pontes.
“No sentido da grande guerra entre as trevas e a luz, inconsciente e consciente, animalidade e construção do humano. A mente é uma representação cósmica. Daí isso nos faz esse animal angustiado, cheio de incertezas. Capaz de construir coisas maravilhosas, e ao mesmo tempo monstruosidades”, reflete o cineasta.
Crime
Na fala dos artistas e dos agentes da cadeia produtiva da cultura, conforme o cenário político atual, com a extrema direita à frente da Presidência da República, há uma tendência de criminalização das artes. O filme sugere que esse viés é mais profundo e não se refere a um fato novo.
“É preciso lembrar que isso aconteceu em vários períodos da história. E há toda uma arte em que se foge do ‘controle’. É vista e provoca reflexão. Nesse sentido, também, de alguma forma, pode ser censurada, perseguida. E o filme impõe isso, de uma arte como inquietude”, observa Rosemberg.
Povo
Na trama da sociedade do país imaginário de “Jenipapuaçu”, a população assiste, impávida, a desgraça que acometeu seus dias. Todo o conflito reportado, ao que parece, não tem relação com os espectadores.
“A ‘TV Pirata do Povim’ não é muito diferente da TV oficial: também quer sucesso, espetáculo. No filme, todos os personagens são cheios dessas contradições. Nem totalmente bom, nem ruim. E chega um momento em que o povo está solidário, mas é uma solidariedade quase mística”, percebe o cineasta.