O Bloco Unidos da Cachorra defende o lema de "levantar a rua e a cidade inteira". Esse grito em forma de Carnaval explica muito da jornada percorrida por este grupo, considerado Patrimônio Cultural de Fortaleza. São mais de 20 anos arrastando multidões pelas ruas da capital cearense.
Nos últimos dois anos, o cenário foi de desafios para ritmistas, mestres e diretoras do grupo. Como o som da bateria faz acontecer o encontro e a folia na cidade, o contexto pandêmico exigiu uma nova dinâmica. Em março deste ano, outro susto. O teto do galpão onde o Bloco ensaiava desabou.
Sem sua casa para cuidar do som e manter as aulas da Escolinha de ritmistas, a "Cachorra", como é carinhosamente chamada pelos fãs, precisou se reinventar. Mesmo com a dificuldade de espaço, os integrantes levantaram a poeira e seguiram com as atividades. Diante da expectativa de termos um Pré-Carnaval em 2023, o Bloco segue resistindo ao realizar ensaios abertos em ruas e pontos culturais de Fortaleza.
Conversamos com ritmistas para entender como a Unidos da Cachorra mantém firme sua essência, mesmo com a complicação de logística. Além da expectativa para a folia do próximo ano, o grupo prepara outra novidade em sua história. As inscrições para a Escolinha começam essa semana e os moradores da comunidade do Poço da Draga terão acesso gratuito à formação.
Testemunho de Carnaval
Diretora de Tamborim da Unidos da Cachorra, Carol Teixeira começou sua história com o grupo em 2015. Ela já vinha do Bloco Camaleões do Vila, onde também matinha a mesma função. "A cachorra te recebe e você literalmente se torna integrante de uma grande e maravilhosa família", explica.
Para Carol, o samba reúne e agrega. Une as pessoas para o lazer depois de uma semana inteira de trabalho. "Estamos juntos na alegria, na tristeza, nas horas boas e nas ruins. 'Ninguém larga a patinha de ninguém', costumamos brincar", nos conta a ritmista.
Carol conta orgulhosa que, mesmo durante a pandemia, a Cachorra fez ecoar sua presença. Tivemos o pioneirismo de fazer aula online aula de percussão. Dei aula de tamborim assim. É um instrumento super complexo. É demorado para aprender. Conseguimos com muito sucesso passar tudo isso virtualmente e foi muito gratificante. Foi uma surpresa muito positiva", resgata.
Expectativa para 2023
Atualmente, a Unidos da Cachorra realizou uma série de ensaios em lugares como Náutico e ruas da Praia de Iracema. A expectativa dos integrantes o Pré-Carnaval de 2023 é imensa. Carol define bem. "Afinal, estamos há alguns anos sem. É dolorido né?".
Dandara Matos toca chocalho na Unidos desde 2012. Segundo a ritmista, o período sem ensaios por conta da pandemia foi complicado. "Para além dos nossos encontros nas tardes de sábado, ensaiar tecnicamente o samba também é um clima de leveza, alegria e amizade. Como se fosse uma válvula de escape", aponta.
O momento é de aprimorar essa volta oficial para as ruas. A reconstrução do teto da sede ainda não foi concretizada. Como o espaço era alugado, o grupo aguarda a reforma por parte do proprietário. Para Denis Brito, coordenador pedagógico e mestre de bateria do Bloco, foi necessário driblar a falta da quadra.
"Procuramos parceiros para podermos realizar os ensaios. Nesse período de férias procuramos fazer "ensaios shows", enumera o mestre. Agora, além de retomar as aulas da Escolinha, a pegada é aprimorar o foco e manter o compromisso com o Carnaval de rua de Fortaleza.
"A partir de agosto voltaremos com os ensaios técnicos direcionados para o Pré 2023, né? Temos a expectativa depois de dois anos sem evento que ele aconteça com muita felicidade e realização, finaliza.
Cachorra faz história
Em 1997, um grupo de amigos e admiradores de sambas de enredo criou a Unidos da Cachorra. A pedra fundamental nasceu na Rua Marechal Deodoro, no bairro do Benfica. O nome é uma referência à antiga denominação desta rua (chamada de Rua da Cachorra Magra). Ali, o bloco realizava anualmente seus cortejos de Pré-Carnaval.
A missão do Bloco é abraçar o Carnaval de rua, incentivando os cearenses a ocupar o espaço público como um grande palco de alegria, arte e cultura. “A Cachorra”, como é carinhosamente conhecida pelos fãs hoje, ensaia o ano inteiro, sempre aos sábados. Acolhendo o grande público com apresentação dos ritmistas e da turma da Escolinha de ritmistas, aberta todos os anos.
A partir de 2007, a Praia de Iracema passou a sediar esta alegria. O que garante a Unidos da Cachorra entre os pioneiros no processo de revitalização do tradicional e boêmio bairro. A pluralidade e diversidade na música são marcas do Bloco. “A Unidos da Cachorra é feita de todo tipo de gente. Aqui somos milhões de corações com um objetivo só: levar alegria para Fortaleza” afirma Seu Gildo, fundador do Bloco.