O acesso ao entretenimento ganhou outro contexto com a pandemia de Covid-19. Há poucos meses do fim de 2020, o setor cultural ainda enfrenta cenário incerto. Na primeira semana de outubro, o governador do Ceará, Camilo Santana autorizou a realização de eventos sociais e shows com até 200 pessoas em ambiente aberto. Locais fechados podem receber até 100 visitantes. No caso de congressos, a ocupação é restringida a até 400 participantes.
O Cineteatro São Luiz, por exemplo, reabriu para o público com a capacidade reduzida (144 lugares). Outro equipamento público do segmento, o Cinema do Dragão, voltou a operar com limitação da ocupação, distanciamento de poltronas e higienização do espaço nos intervalos entre as sessões.
Entender este momento é um dos objetivos da pesquisa “Hábitos Culturais pós pandemia e reabertura das atividades culturais”. O levantamento desenvolvido pelo Instituto Itaú Cultural e Datafolha ilumina o perfil, bem como os desejos da população no tocante à retomada dos eventos e espaços culturais. O estudo ouviu 1.521 pessoas de todas as regiões do Brasil entre 5 e 14 de setembro.
Sala de cinema
A pesquisa informa que cinemas e também shows musicais fizeram mais falta para os entrevistados. Pelo menos 33% declararam ter sentido a ausência de assistir a um filme pelas telonas. Entre os temas observados, constam a expectativa de retorno às ações culturais presenciais e o grau de confiança dos usuários com estes serviços. A maioria dos ouvidos (66%) almeja estar em algum evento do gênero nos próximos meses.
Porém, apesar da falta, em Fortaleza, nem todos os amantes da sétima arte pretendem voltar às salas. “Só vou ao cinema de novo quando a pandemia passar totalmente. Apesar da reabertura dos lugares e da sensação de que o risco de contaminação diminuiu, ainda evito frequentar ambientes fechados”, explica o professor e fotógrafo, Marcelo Barbalho, 52 anos.
Os serviços de streaming seguem enquanto opção em dias de isolamento. “Não é a mesma coisa que sair de casa para ir ao cinema. Na sala, eu posso, dependendo do filme, é claro, me sentir inteiramente absorto nas imagens, no som, enfim, na história. Isso não acontece quando assisto um filme em casa, porque não me desligo totalmente do que se passa à minha volta”, explica.
Outro apaixonado pela sétima arte é o jornalista e crítico de cinema, Daniel Herculano, 41. São mais de 30 anos dedicados às salas de exibição. Veio o distanciamento social e a opção foi repassar a coleção de filmes do acervo pessoal. “Não me atrevo a voltar num cinema tão cedo”, divide.
Mesmo que os exibidores respeitem os protocolos, o medo do cinéfilo advém do comportamento do público. “Não me sinto seguro, tanto pela falta de ideia do que pode acontecer, tanto por conta das pessoas que não respeitam os limites estabelecidos”, reflete.
Espaços abertos
O respeito às regras de segurança devem ser prioridade, observa o professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Mauro Oliveira, 66. Antes da pandemia, participar de saraus de música e poesia eram os principais motivos do docente sair de casa.
Mauro afirma que, no momento, a tendência é participar de atividades em espaços abertos. “O que mais me fez falta durante o isolamento foi a intensidade dos encontros”, comenta.
Atividades em locais fechados terão maior dificuldade de atrair público, descreve o estudo. 56% negaram visitar lugares com estas condições. 39% disseram que participariam. Já os locais abertos têm preferência. 84% disseram que visitariam, contra 12% que desconsideram a hipótese.
Setores impactados
A quadrinista Brennda Maria detalha que sua área de atuação continua parada. Antes da pandemia, sua frequência em feiras de quadrinhos era assídua. Em 2020, outro plano da artista era participar da Comic Con em São Paulo.
Para proteger o público, um dos principais eventos de cultura pop no País optou pela realização virtual. "Durante a pandemia fez falta os eventos de quadrinhos. É onde nos conectamos com público",descreve.
Brennda diz não ter certeza quanto a frequentar eventos em 2020. Apresentações musicais, outra paixão, é algo ainda distante. "Shows com muita gente perto, não tenho coragem. Não estamos seguros ainda", defende a quadrinista.
Crocheteira e empreenderora da área, Janiere Silva (26) trabalha ativamente no município de Jijoca de Jericoacoara (370 km de Fortaleza). Ao longo dos últimos anos, a participação em eventos culturais de artesanato tem sido uma de suas principais distrações.
"Fizeram falta as feiras, como a do Encontro Sesc Povos do Mar. Eu me sinto segura, acredito que com as proteções devidas consigamos ir a esses tipos de evento. De toda forma, prefiro visitar as iniciativas que acontecem em lugares abertos", informa.