Quer saber de onde vem o seu cafezinho? Exposição gratuita traça os 'Caminhos do Café no Ceará'

Mostra está em cartaz no Museu da Indústria, em Fortaleza

Com um número crescente de cafeterias e outros espaços gastronômicos que têm como protagonista a bebida mais popular do País, Fortaleza ganhou, neste mês, um novo roteiro para apaixonados por café. Em cartaz no Museu da Indústria, no Centro, a exposição de longa duração “Caminhos do Café no Ceará” traça um panorama da história do café no Estado, desde a chegada dos primeiros grãos, em 1747, até os dias de hoje.

A mostra, realizada em parceria com o Sindicato das Indústrias de Torrefação e Moagem de Café no Estado do Ceará (Sindicafé), destaca a importância da produção cearense para a consolidação do grão como um patrimônio nacional – tanto no sentido econômico quanto em aspectos sociais.

“A gente decidiu trabalhar com o café pelo apelo que o café tem, no sentido afetivo e de memória. Qual é a pessoa que não bebe café todos os dias, né? Difícil”, destaca Patrícia Xavier, responsável pela coordenação educativa do Museu da Indústria. “O café é um pretexto para a gente parar um pouquinho o trabalho, conversar, colocar as ideias em ordem”, comenta.

Na mostra, painéis informativos, pinturas, fotografias, mapas e outros objetos históricos e cenográficos buscam dar conta de mais dos mais de 200 anos de história do café no Ceará – do período colonial, em que a exploração era dominante nas grandes produções, ao período atual, em que o Estado se destaca por produções sustentáveis e com foco na qualidade.

“Atualmente, a gente tem retomado o cultivo de um café de sombra, um café ecológico, sustentável, ligado a essas áreas de refrigério que são as serras do Ceará, como o Maciço de Baturité, a Serra Grande e a Serra da Ibiapaba, onde também há produtores de café”, explica Patrícia.

De produto colonial à atrativo turístico

Um dos aspectos mais interessantes da mostra é trazer, de forma informativa e de fácil entendimento, uma história que é cheia de complexidades. Além das crises oriundas por questões climáticas, a produção mundial do café sempre foi cercada por obstáculos políticos – que impactaram, também, as pequenas produções locais.

Originário na região em que hoje está localizada a Etiópia, o café esteve, por muito tempo, sob o domínio dos árabes, que impediam que o grão chegasse a outros pontos do globo para ter vantagem econômica. O monopólio foi quebrado pelos holandeses, que conseguiram ter acesso ao grão e disseminá-lo pelos países colonizados por eles.

Conta-se que o café chegou ao Brasil em 1727, em mudas trazidas pelo sargento Francisco de Melo Palheta, que levou o grão para sua terra natal: Belém, no Pará. Na época, o militar fora incumbido de ir até o Suriname para conseguir, junto ao governo do país, o acesso aos grãos – o que foi negado. Um romance secreto com a esposa do governante da época, no entanto, foi a ponte que precisava para conseguir o feito inédito.

Duas décadas depois, o café chegaria ao Ceará, que passou a ser um dos estados mais importantes na produção e exportação do grão – no século XIX, ocupava o terceiro lugar no País, atrás de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Parte do crescimento do Brasil no ranking de exportadores, porém, devia-se ao uso de trabalho escravo nas plantações – ainda que, segundo Patrícia Xavier, a exploração ocorresse mais fortemente no Sudeste do País.

“Acho importante que a exposição traga isso também”, destaca a coordenadora, citando, entre outras imagens históricas, uma pintura do alemão Johann Moritz Rugendas que demonstra como o cultivo acontecia na época. Importante retrato de erros que não podem ser esquecidos, a imagem ocupa lugar de destaque na exposição.

Os ciclos e crises do café também remontam a períodos históricos importantes, que passam pelo processo de industrialização do Brasil e chegam à reestruturação da produção cearense, atualmente focada no consumo interno e aliada a outros setores do Estado, como empreendedorismo e turismo, a exemplo da Rota Verde do Café, destino de experiência elaborado em parceria Sebrae no início dos anos 2000.

“Agora, o que se prioriza não é a quantidade, é a qualidade da bebida”, pontua Patrícia. “A ideia é que a gente tenha essa bebida com pontuações muito altas, produtores fazendo café de excelente qualidade e agregando valor sim a essa bebida”, completa.

Cafeteria chega ao Museu da Indústria

Além da exposição, quem visitar o museu pode conferir outra novidade: como parte da mostra, uma cafeteria foi inaugurada no espaço, possibilitando aos amantes de café fazer um passeio completo dedicado à bebida.

No momento, é possível degustar receitas mais simples, como expressos, cappuccinos e lattes. Em breve, porém, a cafeteria deve inaugurar uma carta especial de bebidas, incluindo marcas cearenses “da planta à xícara” e drinks com café.

Serviço
Exposição “Caminhos do Café no Ceará”
Onde: Museu da Indústria (rua Dr. João Moreira, 143 - Centro - em frente ao Passeio Público)
Quando: De terça-feira* a sábado, das 9h às 17h, e aos domingos, das 9h às 13h (último acesso: 30min antes do encerramento)
Acesso gratuito
*Exceto na última terça-feira de cada mês