Fim de tarde na Beira-Mar de Fortaleza. Caminhada, banho de mar e pedal. Entre um divertimento e outro, que tal uma pizza no gramado com vinho e alfajor? É a experiência proposta pela Pizza Quente dos Argentinos. O carrinho em tons de azul e neon faz sucesso na cidade.
Localizado em frente ao “Chifre do Governador” – como é popularmente conhecida a obra “Interceptador Oceânico”, do cratense Sérvulo Esmeraldo (1929-2017) – o estabelecimento reúne centenas de pessoas todo fim de semana para piqueniques ao ar livre. Boa comida e boa conversa são carros-chefe. Mas tem um agravante.
Sobretudo às sextas, sábados e domingos, é comum enfrentar fila para desfrutar dos pratos e do ambiente. O acúmulo de gente passou a ser comum desde fevereiro, quando o negócio ganhou as redes sociais e se tornou ponto de encontro cobiçado. “O cearense adora, o turista adora. É uma coisa bem diferente, né? Aí, um traz o outro”, diverte-se Felix Forneron.
O argentino é um dos proprietários do carrinho, juntamente à esposa, Cecilia D'aversa. Com eles, ainda estão Juana Forneron (filha), Mari (amiga) e Déborah – na produção há 10 anos. Simpático e solícito, o time recebe com graça cada um que chega, entre iniciados e veteranos. Funcionando de quarta a domingo, das 17h às 23h, a Pizza Quente é atrativo certeiro.
São vários os destaques. A própria estrutura do empreendimento encanta. Sortida e ao lado da Feirinha da Beira-Mar, reúne vinhos, cartelas para pedidos, alfajores e decoração alinhada aos vizinhos hermanos. Atrás do balcão, Felix e Cecilia se revezam para produzir as pizzas. A massa, feita por eles, chega pré-pronta e é cozinhada na hora, garantindo sabor e calor.
Ao lado do carrinho, um cesto comporta as cangas que ocuparão o gramado para os piqueniques. Ou seja, cliente nenhum precisa levar material. Uma bandeja é adicionada ao pacote, comportando o prato com as pizzas e o vinho ou refrigerante. Está formado o cenário: pouco a pouco, a clientela chega e faz da noite algo leve, divertido e apetitoso.
A ideia de servir ao lado do “Chifre do Governador”
Felix e família estão há uma década na Beira-Mar de Fortaleza. Vieram de Buenos Aires contratados por uma empresa, mas o emprego não vingou. No calçadão, primeiro foram ambulantes e depois estacionários. Nesta modalidade, não tinham permissão para colocar mesas junto ao carrinho, apenas oito cadeiras por determinação da Prefeitura.
“Mas isso não dá pra ninguém. Então, um dia, um cliente falou: ‘Você se incomoda se eu sentar aqui atrás?’, apontando para o gramado ao lado do nosso carrinho. Eu disse que não tinha problema nenhum. De repente, outro cliente perguntou, ‘você me fornece um pano para eu sentar?’. Com os fiscais dizendo que não havia problema, o costume nasceu”, conta Felix.
No início, o cardápio envolvia sanduíche, pizza e alfajor – todos preparados pelos próprios donos. Com o tempo, dado o alcance do negócio, apenas os dois últimos continuaram em face da rapidez do preparo. “A pizza demora, em média, cinco minutos. Logo, você pediu e já está comendo. Só que, quando começa a ter mais gente, o tempo vai ficando mais longo a ponto de ter uma hora de demora”.
Os sabores são variados e servem bem uma pessoa. Entre os mais simples, estão calabresa, mista, queijo com peito de peru, frango e queijo ou apenas queijo. Os elaborados envolvem marguerita, palmito, cinco queijos e rúcula com parmesão. Além disso, diariamente a equipe procura incluir um sabor ausente do cardápio para sugerir aos clientes. A partir de 22,99, já é possível consumir a delícia.
Experimentamos as pizzas de Mediterrânea e Marguerita, e adoramos. Vieram realmente quentinhas e com crocância diferenciada, além da massa em conformidade com o cuidado do preparo autoral. A qualidade comprova o amor de Felix e Cecilia pelo serviço. Antes de chegar ao Ceará, nunca haviam trabalhado com comida.
“Eu era intendente em uma universidade e Cecilia atuava como psicóloga”, conta o proprietário. “Falo para todo mundo que a gente cozinha pra gente. A mesma coisa é com os alfajores da minha esposa: são perfeitos porque a gente faz pra gente, não para vender. Talvez esse seja o diferencial e acho que resume tudo. Nunca fazemos de qualquer jeito”.
Quem vai, volta
A distinção é sentida na diversidade de paladares. A confeiteira Maria Batista celebrou o 26º aniversário no Pizza Quente. Ainda não havia estado no local nem experimentado os pratos, mas viu o estabelecimento pelas redes sociais e, motivada pela mãe, achou que poderia gostar. Dito e feito. “Amamos a experiência”, partilha.
“Nunca pensei que poderia haver essa combinação de gramado, pizza e beira-mar. Inclusive, moro aqui perto e estava comentando o quanto eles foram criativos. É sensacional. A gente realmente aproveita tudo: come, se diverte, tem contato com a natureza, com a cultura, e é bom para todas as idades”.
Reunida com cinco pessoas e esperando mais seis para bater os parabéns, confessa não conhecer previamente a obra de Sérvulo Esmeraldo que integra o cenário do empreendimento. Agora, por meio de um simples fim de tarde, sabe que, ali, existe arte e genialidade brotando por todos os lados.
“É um programa super legal. Pedimos a pizza de Filé-mignon com queijo. Muito gostosa, bem servida e recheada. Como a gente chegou cedo, aguardamos no máximo 15 minutos. Já estamos planejando ser o programa fixo da família aos domingos”.
Josileudo Gomes, 25, que o diga. Conhecido como Léo, o consultor em um bar de Fortaleza chegou de bicicleta com o irmão, Joiciano, também no começo da noite para desfrutar do Pizza Quente. Tirou o domingo para conhecê-lo. “Moramos no Vicente Pinzón e viemos saber se era tudo aquilo mesmo que estavam falando na internet. E, de fato, é”, diz.
“A pizza é bem elaborada. Pedimos a especial da casa, Portuguesa e Pepperoni. É a primeira de muitas vezes que a gente virá”. Dois tapetes à frente, o casal Ana Paula Pereira, 25, e Paulo Victor Azevedo, 25, também se compromete a isso. Experimentaram a de Presunto de Parma e aprovaram.
“Eles fizeram a pizza na churrasqueira, logo ela tem um sabor muito diferenciado, principalmente na borda. É mais queimadinha. Ficou um gosto de churrasco na pizza. Eu senti esse mix da parrilla, tipicamente argentina, nela”, comenta Paulo Victor. Ao que Ana Paula acrescenta: “Não sou de comer pizza fora de casa, mas aqui achei diferente”.
Os comentários reacendem o gosto de Felix e família por tocarem o empreendimento com o carinho que lhes é próprio. Já se sentem parte de Fortaleza, não pretendem retornar de onde vieram. “A gente pensa muito no que podemos fazer agora: melhorar e caprichar o serviço. Não pensamos em mais, apenas em assegurar o que temos hoje”.
E completa: “Além disso, dar um pouco pro cearense o que ele deu pra nós. Sempre foram muito legais e acolhedores quando chegamos, há 11 anos. Em resumo: não pensamos no próximo passo porque estamos desfrutando muito desse”.
Serviço
Pizza Quente dos Argentinos
De quarta a domingo, das 17h às 23h, na Beira-Mar de Fortaleza (ao lado da Feirinha da Beira-Mar e em frente à obra Interceptador Oceânico – “Chifre do Governador”). Mais informações pelas redes sociais do estabelecimento